Fechar escolas só em “último recurso”, diz ECDC. Covid tem pouco impacto na saúde das crianças

Crianças e jovens até aos 18 anos desenvolveram sintomas moderados e “muito raramente” tiveram que ser hospitalizadas, sublinha o ECDC. Responsáveis das escolas devem começar a preparar-se para o próximo ano lectivo.

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Rui Gaudencio

O encerramento de escolas para controlar a pandemia de covid-19 deve ser usado como “último recurso” devido ao “impacto negativo” que tem nos menores e na sociedade em geral e tendo em conta que as crianças e jovens até aos 18 anos apresentam taxas muito reduzidas de hospitalização e de doença grave, voltou a defender esta quinta-feira o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, na sigla em inglês) num novo relatório sobre esta matéria.

“Continua a ser consenso geral que a decisão de encerrar as escolas para controlar a pandemia de covid-19 deve ser usada como último recurso”, uma vez que “os impactos negativos do ponto de vista físico, mental e educacional” nas crianças e o impacto económico na sociedade em geral “superam os benefícios”, justifica o ECDC, que já tinha defendido esta tese nos dois relatórios anteriores sobre “Covid-19 nas crianças e o papel dos estabelecimentos escolares na transmissão”. “Enquanto medida de último recurso, o encerramento de escolas pode contribuir para uma redução na transmissão do SARS-CoV-2, mas, por si só, é insuficiente para prevenir a transmissão comunitária, na ausência de outras intervenções não farmacológicas e da expansão da cobertura vacinal”, acrescenta.

No entanto, uma vez que esta faixa da população não está vacinada e tendo em conta o aparecimento da variante Delta (que em Portugal já é dominante), o ECDC alerta que o próximo ano lectivo requer “um alto nível de preparação” e recomenda aos responsáveis pelos estabelecimentos de ensino que comecem a trabalhar nesse sentido, propondo várias medidas - salas de aula com menos alunos, entradas desfasadas, ventilação, uso de máscaras - combinadas com estratégias de testagem e de rastreio e isolamento, que incluam não só as crianças e os funcionários das escolas, mas também os cuidadores.

Para fundamentar as suas recomendações, o ECDC apresenta dados de dez países europeus sobre a distribuição e taxas de ataque da infecção por grupo etário e sexo, reportados entre 4 de Janeiro e 20 de Junho deste ano, que indicam que a maior parte das crianças e jovens até aos 18 anos desenvolveram sintomas moderados e “muito raramente” tiveram que ser hospitalizadas, sendo muito reduzido o número de óbitos, ao contrário do que acontece nas outras faixas etárias, sobretudo em idades mais avançadas.

Mortes e casos graves nas crianças e jovens

Entre 1 e 4 anos de idade, especifica, registaram-se seis mortes e 24 casos graves (que implicaram internamento em unidades de cuidados intensivos, UCI) no conjunto de mais cerca de 116 mil casos de infecção. Entre os 5 e os 11 anos, foram comunicadas 12 mortes e 31 casos graves (num total de 283 mil infectados). Já entre os 12 e os 15 anos, foram reportados 14 óbitos e 40 internamentos em UCI (em 183 mil casos), enquanto entre os 16 e os 18 anos, há registo de 16 mortes e 47 casos graves (160 mil casos). Ainda assim, o ECDC sublinha que as consequências a longo prazo da covid-19 nas crianças e jovens ainda estão a ser avaliadas e defende que esta análise deve ser prioritária.

Lembrando que o impacto do fecho das escolas na contenção da pandemia foi maior na primeira vaga do que na segunda, o ECDC enfatiza que as medidas de mitigação entretanto adoptadas, se adequadas, contribuem para que a disseminação do SARS-CoV-2 nas escolas seja “limitada”.

Nota também que a eficácia do encerramento na transmissão comunitária da infecção parece ser maior no caso do fecho temporário de escolas secundárias do que do ensino básico. Usando um modelo, os especialistas do centro europeu estimam, a este propósito, que o fecho de escolas secundárias teve um impacto mais significativo na transmissão comunitária (10% de redução do Rt, o índice de transmissibilidade), do que o de estabelecimentos de outros níveis de ensino, como o superior (redução de 8%), o básico (4%) e as creches (2%).

Citando vários estudos, os peritos do ECDC  referem que é mais provável que seja um professor a iniciar um surto de covid-19 numa escola do que um aluno, mas avisam que a maior parte da informação que usaram é anterior ao aparecimento da variante Delta.

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