A Avezinha, jornal mais antigo do Algarve, faz 100 anos

Segundo título de imprensa publicado na região e o mais antigo ainda no activo, A Avezinha de Paderne celebra este ano o centenário. Criado por iniciativa de quatro mulheres da aldeia, foi nas últimas décadas impulsionado por Arménio Aleluia Martins, nesta “aventura de escrevinhar” há 70 anos.

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Duarte Drago

Foi o segundo jornal a ser publicado na região, fundado por quatro mulheres de Paderne, no concelho de Albufeira. O padre da aldeia aceitou ser o director e assim nascia A Avezinha, a 21 de Fevereiro de 1921, pela mão de quatro Marias, com idades entre os 14 e os 28 anos, que assinavam contos e poemas com pseudónimos de nomes de flores. As duas primeiras edições ainda foram escritas à mão, 200 e 300 exemplares esgotados, respectivamente, até que o jornal passou a ser impresso na antiga Tipografia União, propriedade da Diocese do Algarve. O valor das vendas era aplicado no apoio às pessoas carenciadas da aldeia.

Depois de uns anos sem sair para as bancas, Arménio Aleluia Martins, 81 anos, decidiu pegar no jornal e voltar a publicá-lo em 1977, conta à Fugas na antiga sede d'A Avezinha, hoje transformada em biblioteca e museu. “Depois o jornal ganhou asas. Era o único semanário de uma terra que não era cidade nem vila.” Actualmente, é o título de imprensa mais antigo do Algarve, ainda que tenha deixado de ser publicado em 2014 e mantenha apenas alguma actividade na página de Facebook.

Foi precisamente nesta casa, a dois passos da igreja onde nasceu o jornal, que Arménio Aleluia Martins se tornou correspondente do Diário de Notícias, com 15 anos. Ligaram-lhe para o café do pai, então neste edifício, e quando perceberam que Arménio era afinal ainda menor de idade, fez-se um acordo de cavalheiros: até fazer 21 anos, os textos saíam com o nome do pai de Arménio, ainda que “não tenha escrito uma notícia” na vida, recorda. Nessa altura, já Arménio era correspondente do Jornal do Algarve e do título anterior, Notícias do Algarve, e do Grão de Bico, da Juventude Agrária Católica.

No museu, instalado na cave da última sede d'A Avezinha, estão sobre a mesa de máquinas de escrever duas muito antigas, onde Arménio começou “esta aventura de escrevinhar”: aos dez ou 11 anos, n'A Voz da Casa do Povo (hoje, sede da Banda Filarmónica de Paderne e Casa-Museu do Acordeão), e a máquina “oferecida pelo dono da fábrica Faceal”, onde escrevia os artigos do jornal da empresa.

Em três salas acanhadas para tantos equipamentos e memórias, conta-se a história de um jornal (na verdade, estão ali artefactos de todos os jornais de Arménio, incluindo os nove que aqui chegaram a ser publicados) e a evolução tecnológica do último século no mundo da imprensa, das máquinas fotográficas às de escrever, as fotocompositoras, os computadores de quase mil quilos comprados ao Diário do Comércio depois da falência, gravadores e fotolitos. Na biblioteca, aos quase 10 mil livros disponíveis vai juntar-se mais um da autoria de Arménio, será o décimo primeiro, desta vez dedicado aos 800 anos da aldeia de Paderne.

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