Luís Filipe Vieira, o filho e dois empresários amigos foram detidos

Negócios superiores a 100 milhões na mira do Ministério Público. Em causa estão suspeitas de crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento. Detidos serão sujeitos esta quinta-feira a primeiro interrogatório judicial.

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Luís Filipe Vieira, presidente do SL Benfica Ricardo Campos

O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, o seu filho Tiago Vieira e dois empresários da confiança do dirigente desportivo, José António dos Santos, conhecido como o “rei dos frangos”, e Bruno Macedo, encarregue da intermediação do regresso de Jorge Jesus ao clube da Luz, foram detidos esta quarta-feira, no âmbito de um inquérito dirigido pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP). A informação foi avançada pelo jornal Nascer do Sol e confirmada pelo PÚBLICO.

Ao contrário do que noticia este semanário, o PÚBLICO apurou que a operação desta quarta-feira não foi feita no âmbito do processo Monte Branco, mas de um inquérito independente aberto em 2018. Ambas as investigações são lideradas pelo procurador Rosário Teixeira, que volta a trabalhar com a equipa da Direcção das Finanças de Braga, encabeçada pelo inspector tributário Paulo Silva, que o apoiou nas operações Marquês e Furacão.

Estas quatro detenções surgem na sequência das buscas realizadas esta quarta-feira, e que visam além do dirigente desportivo as instalações do clube dos encarnados, o empresário José António dos Santos e a sede do Novo Banco. Por volta das 17h desta quarta-feira, o Ministério Público publicou na página do DCIAP um comunicado onde confirma a realização de 45 buscas em “instalações de sociedades, domicílios, escritórios de advogados e uma instituição bancária”, nas “áreas de Lisboa, Torres Vedras e Braga”.​ E acrescenta: “No decurso das diligências foram detidas quatro pessoas, dois empresários, um agente desportivo e um dirigente desportivo. Detenções efectuadas atendendo aos indícios já recolhidos, com vista a acautelar a prova, evitar ausências de arguidos e a prevenir a consumação de actuações suspeitas em curso​”. 

O Ministério Público precisa que no processo se investigam “negócios e financiamentos em montante total superior a 100 milhões de euros, que poderão ter acarretado elevados prejuízos para o Estado e para algumas das sociedades”. Em causa, refere-se, estão factos ocorridos, essencialmente, a partir de 2014 e até ao presente e susceptíveis de integrarem a prática, entre outros, de crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento.

Adianta-se ainda que os quatro detidos vão ser apresentados esta quinta-feira em tribunal para primeiro interrogatório judicial, que servirá para decidir a aplicação de medidas de coacção. 

Ao final da manhã desta quarta-feira, uma centena de agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) e da Autoridade Tributária (AT) fizeram buscas em várias empresas. O comunicado do DCIAP especifica que as diligências foram realizadas por 66 inspectores tributários e 74 elementos da PSP. Contaram ainda com a participação de quatro magistrados do Ministério Público, três juízes de instrução. As instalações do Benfica, nomeadamente no Estádio da Luz, também foram abrangidas pela operação.

O PÚBLICO tentou, sem sucesso, contactar o departamento de comunicação do grupo Valouro e responsáveis da C2 Capital Partners, empresa de Nuno Gaioso Ribeiro – antigo dirigente da SAD do Benfica e outro dos visados por estas buscas. 

A ligação Vieira-“Rei dos frangos”

A ligação empresarial entre Luís Filipe Vieira e José António dos Santos, líder do grupo Valouro, foi revelada após a emissão da oferta pública de aquisição (OPA) lançada pela SAD “encarnada”. O “rei dos frangos”, como é conhecido o empresário José António Santos, era o principal beneficiário, podendo encaixar um lucro superior a dez milhões de euros.​

A participação de José António Santos no clube ultrapassava os 13%, com o empresário a ser o maior accionista privado da SAD “encarnada”.

Contudo, a OPA proposta pelo Benfica acabaria por ser chumbada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que considerou existir “um vício” que afectava a “legalidade da oferta”. O Benfica reiterou a validade da operação após este anúncio, mas acabaria por desistir da OPA.

Mas a ligação empresarial entre Vieira e o “rei dos frangos” teve início muito antes desta OPA. Sócios em duas empresas, a Sul Crescente e a Palpites&Teorias, os dois empresários têm uma relação pública de proximidade e amizade.

A comissão parlamentar de inquérito do Novo Banco trouxe novo vislumbre às relações empresariais entre Vieira e José António dos Santos. Na longa audição ao dirigente “encarnado” foi conhecido que José António dos Santos comprou por oito milhões de euros uma dívida da empresa Imosteps, gerida por Luís Filipe Vieira. Esta dívida tinha sido anteriormente vendida pelo Novo Banco ao fundo norte-americano por cinco milhões.

Questionado pela deputada Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, sobre o motivo pelo qual José António dos Santos estaria disposto a comprar a dívida por este valor, o presidente do Benfica disse que o sócio tinha feito “um bom negócio” com esta operação.

Benfica não é arguido

O Sport Lisboa e Benfica afastou-se das investigações a Luís Filipe Vieira. Em comunicado enviado esta quarta-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o clube confirma que o dirigente “encarnado” foi constituído arguido no âmbito do processo que motivou buscas durante o dia.

“Nem a Benfica SAD nem o Sport Lisboa e Benfica (ou qualquer entidade por si controlada) foram constituídos arguidos no âmbito desta investigação, tendo sido prestada toda a colaboração solicitada pelas autoridades relevantes. As funções desempenhadas pelo presidente do Conselho de Administração serão, na medida que se mostre necessária, asseguradas nos termos previstos na lei e nos estatutos”, escreve o clube. 

A direcção do Benfica ter-se-á reunido de emergência esta quarta-feira para discutir as consequências da detenção de Vieira, avançou a RTP.

Em causa está a antecipação de eventuais passos a dar em função do que forem as medidas aplicadas ao actual presidente da direcção dos “encarnados”. Caso seja necessário adoptar uma solução provisória, os nomes de Domingos Soares Oliveira e de Rui Costa surgem com os mais bem posicionados.

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