O Euro tem um craque italiano de gosto requintado

Da arte ao ballet, passando pela pornografia, Matteo Pessina é um jovem de gostos variados. Na selecção italiana não é dos mais relevantes, e vive sob a penumbra, mas tem sido dos mais importantes.

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Pessina após o golo à Áustria Reuters/MATTHIAS HANGST

Arte, economia, ballet, latim, museus, poesia e… pornografia. É este o plot twist inesperado quando se trata de descrever os traços peculiares de Matteo Pessina, médio da selecção italiana. Já lá vamos.

O gancho futebolístico para esta história é evidente: se não fosse Pessina, talvez a Itália não estivesse a dias de disputar a meia-final do Euro 2020. Foi um golo do médio de 24 anos que garantiu o 1-0 frente ao País de Gales, resultado que deu aos italianos o primeiro lugar no grupo A. Dias depois, foi outro golo de Pessina, no prolongamento, que permitiu à armada de Roma eliminar a Áustria nos oitavos-de-final, por 2-1.

Pessina tem sido dos mais relevantes no campo, mesmo estando longe de ser dos mais importantes no papel – em tese, seriam Barella, Locatelli, Verrati ou Jorginho os mestres do meio-campo de Roberto Mancini, até porque Pessina só surgiu no Euro pela lesão de Sensi.

Homem das finanças e da arte

E quem é Pessina? A pergunta é de resposta complexa. Este jogador tem nome de cidade da Lombardia e até foi nessa região que nasceu. Natural de Monza, terra da velocidade, recebeu uma educação erudita.

O pai, ligado às finanças, e a mãe, arquitecta, influíram os gostos do pequeno Matteo. Por um lado, tornou-se estudante de contabilidade (está a meio do curso e sonha ser director-geral de um clube). Por outro, é fã de arte, museus, ballet e tem até um quadro de Van Gogh. “Os meus pais sempre me ensinaram a apreciar museus, ballets, peças de arte. Procuro beleza em tudo”, explicou, à Gazetta dello Sport.

Mas há mais. Pela mãe, Pessina ganhou gosto pela geometria e acredita que esse é um detalhe relevante para o estilo de jogo que aplica na zona central do campo. “Estive num curso de ciências, com muita matemática e geometria. Há disciplinas que te abrem a mente e promovem rapidez de pensamento. Hoje, consigo perceber, aprender e executar rapidamente o que o treinador pede. Na minha função, temos de ter ideias e criatividade. “Acendes a luz” da tua cabeça e vês uma linha de passe e um colega quando num instante antes não havia nada. Entre pensar no passe e executá-lo há um milissegundo. Por isso, gosto de pensar que a minha formação cultural e pessoal ajuda na minha tarefa e na forma como jogo”.

Como curiosidade, e porque nem só de erudição se faz o homem, Pessina não é apenas um fã de cultura, mas também entra no mundo da pornografia. Um dia, decidiu chegar a um treino com um saco do Pornhub. A publicidade que fez ao site de pornografia tornou-se viral e Pessina equilibrou, desde aí, o lado erudito com uma vertente mais insólita para um jogador de futebol.

O saco, assinado por várias estrelas da indústria pornográfica, foi o mote para um kit de presentes enviado pela empresa – que Pessina não teve pudor em exibir nas redes sociais. Em campo, Pessina é um pouco isto: culto no entendimento do jogo, como bom apreciador de arte, mas criativo e “malandro” no que faz em campo, como excêntrico e despudorado que é.

Artista de Gasperini

Tudo isto começou em Monza, antes de Pessina trocar o clube de formação pelo AC Milan, aos 19 anos. O clube de San Siro não o quis, mas Gasperini sim. E que bem fez o técnico da Atalanta.

Médio elegante, alto, rotativo e com grande qualidade de passe, como bom italiano que é, Matteo Pessina é um dos artistas da Atalanta, depois de sucessivos empréstimos pelo AC Milan.

Na última temporada, os 40 jogos pela equipa de Bérgamo, quase sempre a titular, foram suficientes para Roberto Mancini o ver como substituto ideal do lesionado Sensi. E esta não foi a primeira vez que Pessina apareceu como outsider. Em Fevereiro, um bis do médio ajudou a Atalanta a chegar à final da Taça de Itália.

No final do jogo, os jornalistas dispararam uma pergunta sobre o craque Papu Gómez. “Papu Gómez? Perdi a minha memória. É estranho que numa noite destas, com dois golos do Matteo Pessina, me perguntem sobre o Gómez”, lamentou Gasperini.

Também na selecção italiana Pessina vive sob a penumbra, apesar dos golos fulcrais. Fala-se de Immobile, de Insigne, de Locatelli, de Chiesa ou Spinazzola. E de Pessina, quem fala?

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