Cabrita não se demite e critica uso de acidente em “confrontação política”

O ministro da Administração Interna falou pela primeira vez sobre o atropelamento na A6, que resultou na morte de um trabalhador.

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Eduardo Cabrita esteve presente esta tarde na cerimónia de comemoração do 154.º aniversário da PSP, na sede da Direção Nacional em Lisboa LUSA/MIGUEL A. LOPES

O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, pôs termo esta sexta-feira ao seu silêncio de duas semanas sobre o acidente na A6 no carro oficial em que seguia como passageiro e que vitimou mortalmente um trabalhador que fazia a manutenção da via.

Questionado pelos jornalistas sobre uma eventual demissão, muito pedida à direita, o ministro respondeu: “Essa é uma matéria que é da estrita responsabilidade do primeiro-ministro”. E fez um balanço positivo da sua actuação no cargo: “Tenho quatro anos de responsabilidade que corresponderam aos melhores quatro anos de indicadores de segurança em Portugal.”

À margem do 154.º aniversário da Polícia de Segurança Pública (PSP), Cabrita afirmou que os factos que ocorreram a 18 de Junho estão a ser apurados e que não deve fazer comentários – nomeadamente sobre se o carro do Governo circulava em excesso de velocidade, o que só pode acontecer quando está a ser cumprido “serviço urgente de interesse público”. Mas aproveitou para dizer, sem dar detalhes: as “imagens passadas pelas várias estações televisivas que identificam o local em que se verificou a colisão” infirmam “algumas afirmações que vimos serem publicadas”.

“Neste apuramento dos factos, entendo que não existe nenhum cidadão ou entidade acima do que é o quadro legal aplicável. O que não desejo a nenhum de vós e a ninguém é ver-se envolvido, na qualidade de passageiro, numa situação tão dramática como esta. E, por isso, gostaria de fazer um apelo, sem qualquer referência específica: que confiássemos naqueles a quem cabe apurar os factos e não transformássemos algo que é muito triste – no plano pessoal, jamais passei por algo similar – (…) numa matéria de confrontação política”.

O ministro garantiu que foi transmitida solidariedade à família da vítima, “por via telefónica”, através da sua chefe de gabinete. Além disso, foram dadas indicações ao Instituto de Segurança Social para “agilizar os mecanismos legais de apoio previstos nestas circunstâncias”. A “definição de responsabilidades” acontecerá “tão celeremente quanto possível” para pôr em marcha processos de indemnização, “que não permitem, de modo algum, compensar aquilo que não tem forma de ser ultrapassado, que é a perda de uma vida”.

O Ministério Público abriu um inquérito para apurar as circunstâncias da morte do trabalhador. Esse inquérito, “sujeito a segredo de justiça”, permitirá a “total caracterização” do que aconteceu. “Aberto o inquérito, entendi que não devia fazer qualquer consideração”, disse Eduardo Cabrita, que tem sido criticado à direita pelo silêncio sobre o caso, parte de um alegado “encobrimento” do tema.

O Instituto Nacional de Emergência Médica abriu igualmente um inquérito interno sobre as circunstâncias em que foi prestado o socorro no acidente. A GNR está também a investigar o acidente.

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