Lisboa quer reabertura de discotecas com certificado digital e associações apoiam

Vai seguir para o Governo moção aprovada em reunião do executivo. Associações consideram reabertura fundamental para travar situação “calamitosa” do sector e para acabar com festas ilegais com mais expressão no Porto e na capital.

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Paulo Pimenta

A câmara de Lisboa aprovou esta quarta-feira, em reunião do executivo, uma moção que recomenda ao Governo, em articulação com a Direcção-Geral da Saúde (DGS) e com as entidades representativas ligadas à noite, a reabertura dos estabelecimentos de animação nocturna a portadores de certificados digitais de vacinação e de teste negativo à covid-19. Quem também apoia o conteúdo do documento votado favoravelmente pelo CDS-PP, PS, PSD e PCP, com voto contra do Bloco de Esquerda, são as associações de bares e discotecas, que alertam para a situação “calamitosa” do sector e para um possível aumento das festas ilegais.

Um dos principais argumentos inscritos no documento levado a votação pelo CDS-PP surge com base na decisão do Governo de abrir a possibilidade à participação de público em eventos de natureza cultural, desportiva, corporativa ou familiar, designadamente casamentos e baptizados, mediante apresentação do certificado digital, conforme diz o Decreto-Lei n.º 54-A/2021, de 25 de Junho, no seu artigo 9º. 

Ainda assim, o mais prudente, diz ao PÚBLICO João Gonçalves Pereira, um dos vereadores do CDS-PP que assina a moção, será programar a reabertura para depois de Setembro, “quando os mais jovens já estiverem vacinados”. “Se é possível participar nos outros eventos não vemos razão para este sector estar limitado, ainda por cima sendo um dos que foi mais fustigado pela pandemia”, afirma o vereador da oposição. 

Já em Abril, a mesma força partidária tinha levado a reunião do executivo uma moção que recomendava à DGS a definição de um plano para a reabertura dos estabelecimentos de animação nocturna em condições de segurança. Na altura foi aprovada por unanimidade. Para desespero dos empresários dos espaços nocturnos o cenário não foi alterado e a noite continua encerrada.   

Com alguns dos concelhos a entrar em zona vermelha e a voltar atrás no desconfinamento, como é o caso do Porto, pergunta-se a João Gonçalves Pereira se a reabertura do sector pode estar mais uma vez em risco. O vereador da oposição prefere dizer que com a quebra no turismo, torna-se ainda mais urgente reabrir os espaços de animação nocturna.

100 mil no desemprego

Ricardo Tavares, empresário da noite e membro da Associação Portuguesa de Bares, Discotecas e Animadores, diz existirem já cerca de 100 mil pessoas que ficaram sem trabalho no último quase ano e meio. “É calamitoso”, sublinha, Ainda a fazerem contas aos número de espaços que encerraram ou estão em vias de fechar portas, teme poder assistir-se nos próximos meses a “mais despedimentos em massa”. A contribuir para isso considera também estar o facto de o Governo não ter prolongado as moratórias para os arrendamentos dos espaços nocturnos e de despesas correntes, como é o caso das contas de electricidade.

Louva a iniciativa da câmara de Lisboa, mas sublinha: “A associação já defende há mais de um ano uma reabertura com regras”. Por outro lado, alerta para o aumento das festas ilegais “em vivendas com cerca de 200 pessoas”.

Mais a norte, António Fonseca, presidente da Associação de Bares da Zona Histórica de Porto (ABZHP), também está preocupado com o aumento das festas ilegais, sobretudo em pleno Verão. “No Porto e em Lisboa há ajuntamentos de jovens a beber sem controlo e com as autoridades de braços cruzados”, afirma. “A reabertura com regras é a única forma de acabar com as festas ilegais”, acrescenta. 

Olha para a aprovação da moção na câmara da capital como um sinal que não pode ser ignorado: “Lisboa está com o número de casos que está e ainda assim os autarcas votaram a proposta quase por unanimidade”. No Porto não houve ainda nenhuma proposta semelhante a chegar à câmara. E o dirigente da ABZHP considera não ser necessário haver. “Se o Governo agir serve para todo o país”, sublinha.

O PÚBLICO contactou a câmara do Porto, agora a assistir a um recuo no desconfinamento, para saber se na calha há alguma proposta semelhante. Pelo menos nas próximas semanas, não está previsto que aconteça.

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