Sete sindicatos bancários unidos contra “massacre” do despedimento de milhares de trabalhadores

Todos os sindicatos do sector propõem alternativas ao despedimento, pediram audiência ao primeiro-ministro e preparam manifestação conjunta.

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Nuno Ferreira Santos

Numa iniciativa inédita, todos os sindicatos do sector bancário, num total de sete, decidiram manifestar a sua “indignação e manifestar a sua firme oposição quanto ao injustificado e desnecessário processo massivo de destruição de postos de trabalho”. Em comunicado conjunto, divulgado esta quinta-feira, intitulado “Em defesa dos trabalhadores bancários, o massacre tem de parar”, as estruturas sindicais avançam com propostas alternativas ao despedimento de trabalhadores, anunciam que pediram uma audiência ao primeiro-ministro e prometem uma manifestação para os próximos dias.

A união dos sindicatos – SNQTB, MAIS Sindicato, SBN, SIB, SBC, STEC e Sintaf – acontece numa altura em que está em curso e em perspectiva o despedimento de milhares de postos de trabalho, com destaque para as reduções anunciadas pelo BCP, que podem chegar a mil funcionários, e pelo Santander, de mais 685.

Os sindicatos denunciam a “vulgarização” de anúncios de “medidas unilaterais, vulgo despedimentos colectivos, com prazo certo anunciado, ao arrepio do que a legislação laboral prevê, criando (ou visando criar) pânico e temor generalizado nos bancários, para que desistam de lutar pelos seus direitos”.

As estruturas sindicais, que em menor número já se tinham juntado para contestar os despedimentos no Montepio e no Banco Santander, pedem a “suspensão imediata dos programas de redução [do número] de trabalhadores” e “a substituição das rescisões por mútuo acordo por reformas antecipadas e uma especial consideração nas situações de vulnerabilidade social”.

Mais também propõem que sejam “consideradas todas as hipóteses de reconversão profissional, pois os trabalhadores bancários sempre mostraram total capacidade de adaptação num dos sectores bancários mais avançados da Europa”, e que “todas as actividades, realizadas em regime de outsourcing ou de trabalho temporário, sejam realizadas por bancários”. 

Entretanto, o comunicado conjunto dá conta que foi pedida uma audiência ao primeiro-ministro, António Costa, para apresentar as medidas que propõem e para “apelar” à sensibilização face a “uma contínua e acelerada erosão da classe média que afecta directamente os mais de 60.000 bancários e suas famílias (…)”, conduzindo à “evidente degradação das condições sociais e para o incremento da pobreza no nosso País”.

E do encontro conjunto dos sindicatos, também foi decidida realização de “uma manifestação, em data a anunciar brevemente, de todos os trabalhadores bancários, por forma a transmitir uma mensagem de indignação às instituições financeiras e governativas”, no sentido de deixar bem claro que estão dispostos a defender “os postos de trabalho e a lutar” pelos seus direitos “até às últimas consequências”.

“Alguns bancos têm implementado ‘processos de reestruturação’, a coberto dos quais vêm confrontando milhares de bancários com propostas de rescisão por mútuo acordo (RMA) ou reformas antecipadas, com especial enfoque para as RMA”, lê-se no comunicado. Acrescentam que “a actual situação é por demais lamentável, devido ao facto de existirem ameaças de despedimento colectivo e de criar pressão nos trabalhadores, para tomarem uma decisão num curto espaço de tempo”.​

Os sete sindicatos, alguns independentes e outros ligados a confederações sindicais, alertam ainda que “o sector bancário português, que tem um dos rácios mais eficientes da Europa, com esta massiva eliminação de postos de trabalho, nomeadamente a redução entre 15% a 25% da força de trabalho e o encerramento de mais de 15% da rede de agências, contribui para um desmantelamento de algumas actividades em Portugal e da capacidade instalada de apoio às populações e empresas”. 

No Parlamento, esta quarta-feira, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, afirmou, citado pela Lusa, que, actualmente, a banca tem “desafios muito grandes, desde a digitalização às baixas taxas de juro (com consequências significativas para a rentabilidade da actividade bancária)”, e que entre as formas de os bancos reagirem a esses desafios estão as mudanças nas estruturas, incluindo redução do número de trabalhadores, para ganharem resiliência.

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