A urgência de reformar a educação escolar em Portugal

Do papel dos professores à necessidade de uma nova estratégia para a Educação – esta é a discussão que importa abrir.

Sabem os leitores de quando data a última grande reforma educativa no nosso país, que permitiu dar um significativo salto qualitativo no ensino? De 1989, num processo iniciado em 1986, num mundo em que não havia canais televisivos privados nem acesso à Internet, e-mail, telemóveis e demais tecnologias que marcam o nosso quotidiano, sem esquecer a multiplicidade de meios de acesso ao conhecimento e à informação.

Compreende-se, por isso, a urgência que todos – professores, alunos, famílias, empresários, sociedade civil – vimos sentindo quanto à necessidade de redefinirmos a organização e o funcionamento da educação escolar, praticamente inalterados desde há longas décadas, à luz da realidade social, cultural e económica contemporânea e, sobretudo, dos desafios que emergem no nosso horizonte.

Depois da era da escola moderna, da universalização do ensino e do alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos, o principal desafio do presente é a construção de respostas educativas adequadas à diversidade que agora está dentro das escolas, através dos alunos. Para vencer este desafio são fundamentais, entre outros aspetos, um novo olhar para as famílias e para a comunidade na construção autónoma do quotidiano escolar, mas, principalmente, um novo olhar para os professores.

O recente estudo da Edulog veio confirmar a centralidade da docência na educação escolar. Na verdade, demonstrou-se agora o que já sabíamos, que os bons professores fazem a diferença. Mas o que é um bom professor? Que tipo de formação inicial queremos para os professores? E o que fazer com os professores que estão hoje nas escolas e que precisam de apoio para reorganizar a educação escolar? Como prestigiar a profissão docente e atrair os melhores para o trabalho quotidiano de construir o nosso futuro coletivo?

Ao mesmo tempo, não deixa de ser curioso, para não dizer questionável, a indisfarçável ausência da voz dos professores em todo o debate que enquadrou a apresentação do estudo – algo bem revelador da forma como têm sido geridas as questões educativas em Portugal. Como se os principais protagonistas, a saber, os professores e os alunos, e, por extensão, as famílias, não tivessem ideias nem voz.

Ora, esse é um erro que não nos podemos dar ao luxo de cometer. Na antecâmara de um debate que se entende urgente, é fundamental que se tenha presente que não haverá reforma educativa em Portugal que, assente em fortes compromissos políticos, não seja localmente liderada pelas escolas e pelos professores.

As políticas educativas estão sufocadas por discursos românticos e complacentes, estão poluídas por ideias e certezas absolutas que desviam a atenção do simples facto de que não há vitórias fáceis. Qualquer caminho implica escolhas complexas, riscos, dificuldades burocráticas, compromissos políticos duradouros e transformações ideológicas.

Estamos em 2021 e, para além de todas as mudanças verificadas ao longo das décadas, a pandemia veio tornar ainda mais evidente a necessidade de desencadear um processo nacional de reforma da educação escolar, participado pela sociedade, guiado pela ideia de construir um novo compromisso político, estável e duradouro, para pelo menos 12 anos, um pacto social e político que defina a educação escolar de que precisamos para alcançar o país que queremos, socialmente mais justo, democraticamente mais forte, economicamente mais próspero.

Mais do que discutir o passado, é tempo de preparar o futuro. Hoje.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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