O que há de novo no tratamento das escolioses?

A prevenção das deformidades posturais é da responsabilidade de todos nós e tem por base o trabalho físico muscular diário e a correcção das nossas posturas no trabalho e em casa, em particular nos momentos de lazer.. Junho é o Mês Internacional da Escoliose.

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Joyce McCown/Unsplash

A sociedade internacional para o estudo das deformidades da coluna vertebral (Scoliosis Research Society – SRS) escolheu o mês de Junho para realçar junto da sociedade a necessidade do diagnóstico precoce, educação e orientações terapêuticas das deformidades da coluna vertebral como a escoliose e a cifose.

Se nas idades mais jovens estas deformidades não estão geralmente relacionadas com limitações dolorosas, nos mais velhos a realidade é distinta com quadros dolorosos muitas vezes incapacitantes que restringem as actividades físicas profissionais e de lazer.

No entanto, temos de separar estes dois diagnósticos (a escoliose e a cifose) em dois grandes grupos porque o prognóstico é totalmente diferente. Estes tipos de deformidades podem pertencer ao grupo postural, relacionada com os nossos maus hábitos do dia-a-dia ou grupo das deformidades estruturais, relacionada com a própria estrutura das vértebras e dos discos intervertebrais. Esta diferenciação é extremamente relevante pois se para as escolioses e cifoses posturais é possível trabalhar na prevenção, já nas deformidades estruturais isto não é verdade.

A prevenção das deformidades posturais é da responsabilidade de todos nós e tem por base o trabalho físico muscular diário e a correcção das nossas posturas no trabalho e em casa, em particular nos momentos de lazer.

As deformidades estruturais são diferentes! Por não ser possível preveni-las é de todo o interesse e relevância o seu diagnóstico precoce e procurar a conduta mais adequada para o seu seguimento. Nos grupos etários mais jovens, as idades pediátricas até ao final da adolescência, é importante o rastreio das escolioses e cifoses quer seja nos cuidados de saúde primários ou nas sessões de despiste escolar — como é realizado por exemplo nas escolas da Freguesia do Parque nas Nações, em Lisboa. A identificação destas deformidades nestas fases precoces, permite não só o seu diagnóstico preciso como também permite iniciar a sua referenciação a centros com experiência adequada para o seu tratamento (existem mesmo consultas de escolioses em alguns dos hospitais públicos de Lisboa como os hospitais de Dona Estefânia, Curry Cabral e de Santa Maria ou os hospitais privados como o CUF Descobertas).

O tratamento das escolioses estruturais da criança e do adolescente está hoje estandardizado em todo o mundo, dependendo não só da idade do jovem como também do número de graus da curvatura da deformidade quando diagnosticada. As regras de um modo geral são simples — até aos 20-25º apenas deve ser seguida para verificar se se agrava e necessita de tratamento, se tiver um número de graus até aos 40-45º então necessitarão de usar um colete (umas 18h por dia e outros apenas durante a noite) por uns anos na tentativa de impedir o seu agravamento. Nos casos com mais de 40-45º os jovens devem ser operados pois será a única forma de travar a progressão e agravamento da deformidade vertebral e impedir assim todas as complicações que lhe estão associadas nas idades mais velhas, como a dor nas costas, os problemas respiratórios e do trato gastrointestinal e a cosmética, com tudo o que se relacionada com a sensação de bem-estar com o nosso próprio corpo.

A filosofia do tratamento da escoliose do adolescente mudou nesta última década. Hoje preferimos ter uma coluna que pode não ser completamente direita mesmo depois da cirurgia, mas em que preservamos a mobilidade da coluna lombar que sabemos, hoje, ser tão fundamental para as nossas actividades da vida diária, incluindo o desporto. A inovação desta década é de facto a fusão apenas da curva principal da escoliose. Sempre que possível a chamada Artrodése Seletiva, deve incluir apenas um número mais restrito de vértebras para serem presas com parafusos e barras, após vários cálculos de planeamento pré-operatório, deixando livre a curva lombar compensatória e móvel.

No que se refere as deformidades do adulto também evoluímos nesta última década com as técnicas de cirurgia da coluna vertebral chamadas Minimamente Invasivas, como o nome indica são feitas através de pequenas incisões com o objectivo principal de preservar ao máximo as partes moles que, neste caso, são os diversos grupos musculares. Os músculos são o “motor” principal do movimento do nosso esqueleto, tanto nos membros como na própria coluna vertebral. Estas técnicas cirúrgicas que se praticam nos grandes centros de deformidades da coluna vertebral permitem abordar, libertar e prender a coluna pelo lado da frente (lado do abdómen) com incisões de 3 a 5 cm na pele e depois voltar o doente e com múltiplos orifícios de 1 cm colocar então os parafusos para fixar e endireitar a escoliose. Estas técnicas modernas e inovadoras permitem ao doente um pós-operatório menos doloroso e com períodos de internamento mais curtos.

Os cálculos pré-operatórios das cirurgias de deformidade da coluna vertebral incluem sempre exames radiográficos da coluna de pé e ressonâncias magnéticas. Hoje, Portugal tem também a tecnologia mais avançada de exames radiográficos da coluna vertebral de pé - disponível apenas no Hospital CUF Descobertas, abrangendo o esqueleto todo da cabeça aos pés, através de um aparelho de RX moderno computorizado, de baixa radiação e de altíssima qualidade denominado EOS. Na idade pediátrica, em que as crianças que têm que repetir várias radiografias ao longo do crescimento, apanham com estas microdoses do EOS apenas 10% da radiação normal (diminuindo os riscos cumulativos dos RX repetidos), e nos adultos esta radiografia de corpo inteiro dá-nos dados sobre a postura e a estática da coluna de pé com uma série de valores em ângulos de várias regiões da coluna que detectam as anomalias posturais, muitas vezes causadoras de dor nas costas — dados estes necessários ao planeamento pré-operatório rigoroso e adequado a cada caso.

Esteja atenta à sua coluna e procure discutir e esclarecer os problemas junto do seu médico.

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