Académicos no Reino Unido debatem descolonização da língua portuguesa

Simpósio realiza-se em Glasgow, na Escócia, com a presença de professores e académicos que vão discutir questões relacionadas com as “variedades, ou variantes, da língua portuguesa no contexto da descolonização do currículo”.

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Nuno Ferreira Santos

A “descolonização do currículo” e as variantes da língua portuguesa vão estar em debate este sábado em Glasgow, Escócia, num simpósio da Tropo UK, a Associação de Professores e Investigadores de Língua Portuguesa no Reino Unido.

Professores e académicos vão discutir questões relacionadas com as “variedades, ou variantes, da língua portuguesa no contexto da descolonização do currículo”, adiantou a organização, a cargo do departamento de Português da Universidade de Glasgow.

O tema surgiu do incentivo, sobretudo no último ano, da instituição britânica a docentes e alunos para analisarem o impacto da colonização no programa lectivo, tendo inclusivamente criado um centro de estudos sobre a escravatura. 

Sensibilizado por esta questão, Luís Gomes, co-organizador e professor de Português naquela universidade, considera importante debater a descolonização do ensino do português como língua estrangeira, segunda língua e língua de herança. “Em certa medida, ainda há uma sensação de que Portugal é o dono da língua portuguesa, quando, na verdade, a maior parte dos países que falam português têm mais falantes do que Portugal, salvo algumas excepções. É uma questão que está muito presa na língua portuguesa, mais do que noutras línguas, como o inglês”, disse Luís Gomes à agência Lusa. 

Isto reflecte-se, refere, na ideia existente em muitos dos membros da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP), como Moçambique, de que é mais correcto o “português de Lisboa ou o português de Viseu” do que a própria variante ou sotaque local. Outro exemplo é o facto de o português de Cabo Verde ser normalmente denominado por “crioulo” e não visto como uma variante do português ou português de Cabo Verde. 

“Tem a ver com o aspecto das variantes, dos sotaques, que na verdade são variedades do português, são línguas que são diferentes, mas são a mesma língua portuguesa”, argumentou Luís Gomes, questionando: “Se há o português do Brasil e o português europeu, porque é que não há o português de Angola ou de Moçambique ou da Guiné?”. A discussão, acrescenta, não pretende influenciar necessariamente decisões políticas, mas contribuir para a forma como os professores trabalham, ensinando e aceitando diferentes formas de escrever e falar português. 

A apresentação do Dicionário do Português de Moçambique (DiPoMo) pela coordenadora, Inês Machungo, da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, vai abrir o simpósio e lançar o debate. Numa mesa redonda vão estar a presidente do conselho científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), Margarita Correia, a directora da Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, Ciência e Cultura e antiga presidente do Instituto Camões, Ana Paula Laborinho, e o rapper brasileiro Vinicius Terra, bem como os professores Fernando Venâncio (Universidade de Amesterdão), Francisco Calvo del Olmo (Universidade Federal do Paraná, Brasil) e Sílvia Melo-Pfeifer (Hamburgo, Alemanha).

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