Covid-19: ASAE fechou dois bares e passou 11 multas no Bairro Alto em hora e meia de fiscalização

Zona do Bairro Alto “tem revelado algumas questões problemáticas” no que diz respeito ao cumprimento das regras, diz inspector-geral da ASAE. Proprietários de estabelecimentos olham com preocupação para as medidas impostas e lamentam os horários mais apertados.

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Nuno Ferreira Santos

Em hora e meia de fiscalização no Bairro Alto, a ASAE encerrou dois estabelecimentos e abriu 11 autos de contra-ordenação em 22 alvos fiscalizados, “um incumprimento elevado” numa zona que “tem revelado algumas questões problemáticas” relativamente à covid-19.

Segundo o inspector-geral da Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica (ASAE), Pedro Portugal Gaspar, que acompanhou na noite de sexta-feira no terreno a Fase 2 da Operação Convívio Seguro, o Bairro Alto “é uma zona que tem revelado algumas questões problemáticas em matéria de covid-19”, pelo que o objectivo da ASAE foi verificar no terreno o cumprimento de normas associadas ao combate à pandemia.

“Até ao momento temos 22 alvos fiscalizados com 11 processos de contra-ordenação, o que revela, de facto, um incumprimento elevado, na casa dos 50%, e com dois estabelecimentos suspensos, porque não podiam estar a exercer aquelas actividades”, disse o inspector-geral, num balanço antes das 22h da operação que ainda decorria não só no Bairro Alto, mas também no Cais do Sodré.

Para o local foram enviados 25 inspectores da ASAE, acompanhados de cerca de 30 agentes da Polícia Municipal, que deram apoio à acção de fiscalização.

A entrada nos bares dos inspectores para verificação da documentação e cumprimento das regras relativas à covid-19 ia gerando surpresa nos clientes, que hesitavam entre a curiosidade e o receio provocado pelo aparato da operação, que levou alguns clientes a pedir a conta mais cedo.

Na rua da Atalaia, no entanto, a curiosidade ou receio inicial eram rapidamente esquecidos e ignorados, com os frequentadores dos bares e restaurantes a voltarem à conversa e convívio com os amigos, com muita gente nas ruas, em esplanadas, a aproveitar temperaturas de verão.

Paulo Cassiano, dono do restaurante Bota Alta, numa das esquinas da Rua da Atalaia, vizinho de alguns bares inspeccionados pela ASAE, pelas 20h30 apenas tinha clientes na esplanada e volta a ver a sua situação e a da restauração de forma geral como “muito difícil”.

“Vai-nos afectar desde já com as limitações dos horários, que no fundo não é às 22h30, temos que dizer aos clientes às 21h45 que já não os podemos servir. Temos este problema que se prolonga e agora com o encerramento dos fins-de-semana, no meu caso, que não trabalho aos sábados ao almoço, para mim é encerrar aos fins-de-semana”, disse sobre as alterações aos horários na área metropolitana de Lisboa, que obrigam a restauração a encerrar às 15h30 aos sábados e domingos.

Segundo o empresário, o noticiar do agravar dos números da pandemia foi levando os clientes a retrair-se, reduzindo a afluência ao restaurante nas últimas semanas. O encerramento aos fins-de-semana é mais um golpe para quem já recorreu aos apoios concedidos pelo Estado, mas se preocupa com o facto de estarem a acabar e olha com preocupação para um Verão que não começa bem.

“É muito difícil, porque sabemos que são estes meses de Verão que suportam os quatro a cinco meses seguintes, que mesmo quando havia turismo era sempre muito mais fraco. Ganhávamos no Verão para cobrir as despesas do Inverno. O facto é que nem sequer conseguimos cobrir as despesas do verão e não sei como vai ser para a frente, vai ser muito difícil de certeza”, disse.

Uma rua acima, António Carvalho, dono do restaurante O Caracol, também olha com alguma preocupação para as restrições de fim-de-semana, com a visão e experiência acumulada de quem consegue antever as consequências de trabalhar numa zona histórica onde quase não reside ninguém e que dependia quase na totalidade do turismo.

Para António Carvalho, perder o sábado é perder “uma fatia importante do fim-de-semana” e da facturação, mas está resignado a cumprir as novas regras “em prol do bem comum”, ainda que as considere como um resultado “injusto para quem cumpre as regras”.

Também já pediu apoios ao Estado para ultrapassar as dificuldades trazidas pela pandemia, mas não será pela questão financeira que decidirá fechar portas.

“Isto é tudo tão incerto, que não sei se será o meu desgaste emocional, superior ao desgaste físico, que me vai levar a fechar as portas e a atirar a toalha ao chão, ou se será por motivos económicos, em princípio não será. A questão toda é que isto está a ser um bocadinho desgastante a nível da psicologia, a nível de ritmos de trabalho que não estávamos habituados e está a ser um desgaste muito grande a nível emocional”, desabafou.

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