Lesões mais frequentes no futebol: o que podemos esperar no Euro 2020

Medidas como o aumento de 3 para 5 substituições e as paragens promovidas pela equipa de arbitragem para hidratação em condições extremas terão certamente impacto positivo na diminuição da incidência de lesões.

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Em 2016, Cristiano Ronaldo sofreu uma lesão durante o jogo final, após uma violenta entrada de Dimitri Payet FRANCK FIFE/AFP

A terceira mais importante competição de seleções, após o Mundial de Futebol e os Jogos Olímpicos, arrancou dia 11 e Portugal estreia-se esta terça-feira, 15 de Junho.

Durante 31 dias, 24 seleções e mais de 600 jogadores, irão decidir quem será o campeão europeu de futebol masculino nos próximos três anos.

Com mais de 270 milhões de praticantes federados em todo o mundo — mais de 200 mil em Portugal —, o futebol é uma das modalidades com maior risco de lesão.

Um estudo publicado pela UEFA, em setembro de 2016, referente ao Europeu disputado nesse ano, demonstra que durante o torneio, 46 jogadores (9% do total de 523 jogadores) sofreram 49 lesões e que 80% destas ocorreram durante um jogo, com maior incidência na fase a eliminar. O contacto com outros jogadores esteve na base de 13 (33%) das 39 lesões durante o jogo, sendo cinco destas (38%) por ação faltosa do adversário.

A maioria das lesões (87%) atingiu os membros inferiores: coxa e virilha (58%), joelho (12%), tornozelo (12%), outros (5%). As lesões musculares representaram 55% do total.

Quanto à gravidade, 63% voltaram à competição numa semana (lesões ligeiras), 18% entre 1 e 4 semanas (lesões moderadas) e 18% em mais de 4 semanas (lesões graves).

Em 2021, nos 51 jogos do torneio e nas mais de 8500 horas de atividade estimada entre treinos (80%) e jogos (20%), a exposição a lesões será significativa tal como demonstrou o estudo de 2016 com potencial agravamento associado à fase pandémica que vivemos. As repercussões negativas no rendimento desportivo e no potencial aumento da suscetibilidade às lesões, são reconhecidas por todos, pelo que é expectável um aumento da incidência de lesões neste torneio, sobretudo ao nível muscular.

Mas, medidas como o aumento de 3 para 5 substituições e as paragens promovidas pela equipa de arbitragem para hidratação em condições extremas terão certamente impacto positivo na diminuição da incidência de lesões.

O treino individualizado, o acompanhamento médico com monitorização rigorosa dos processos de recuperação em curso e sobretudo o processo de prevenção de lesões e de recuperação física após cada jogo, a que não são alheias as medidas de higiene de vida relacionadas com o repouso e a alimentação, serão determinantes para um campeonato de sucesso.

As lesões não afetam apenas os profissionais

Na verdade, sabe-se da literatura que o risco de contrair uma lesão aumenta nas fases de competição e que as lesões são mais frequentes em jogo do que em treino. O risco de lesão é tanto maior quanto menor o nível de preparação. Ou seja, o risco de lesão é superior no atleta amador do que no profissional.

Caracterizado por uma exigência física complexa e intenso contacto físico, leva a que cerca de 75% das lesões sejam traumáticas e cerca de 25% por sobrecarga. Apresenta uma incidência elevada de lesões musculo-esqueléticas, sobretudo ao nível dos membros inferiores (70-80%). Sendo mais frequentes na coxa e virilha, as lesões do futebol são habitualmente mais graves e incapacitantes quando atingem o joelho e o tornozelo/pé.

As roturas musculares representam 35-50% das lesões atingindo principalmente o quadricipete, os isquiotibiais, os adutores da anca e os gémeos. Caracterizam-se por dor e impotência funcional. O diagnóstico comprova-se habitualmente por ecografia. O tratamento passa pelo repouso e fisioterapia, com tempos de paragem entre poucos dias nas mais simples, até várias semanas nas mais complicadas.

As entorses do joelho podem atingir de forma isolada ou em associação os ligamentos colaterais (o interno é o mais comum), os meniscos e os ligamentos cruzados anterior e posterior. Os sintomas mais comuns são dor, derrame, instabilidade articular e impotência funcional. A ressonância magnética é necessária na maioria dos casos, para diagnóstico e planear o tratamento. Se as lesões dos colaterais têm habitualmente tratamento conservador com tempos de paragem de 3-6 semanas, as meniscais e ligamentares exigem tratamento cirúrgico com tempos de paragem entre 6-12 semanas para as lesões meniscais e 7-12 meses para as ligamentares e complexas.

A entorse tibiotársica, no tornozelo, é a lesão mais comum no desporto. Em 95% dos casos atinge o complexo externo. O diagnóstico é essencialmente clínico, podendo nos casos mais graves beneficiar de exame radiológico em agudo e ecográfico ou por ressonância magnética para avaliação possíveis complicações. O tratamento é conservador na maioria dos casos, com tempos de paragem entre 3-8 semanas.

Para os atletas em geral, na presença de uma lesão recorrer a centros especializados em medicina e traumatologia que disponibilizam tecnologia de diagnóstico e tratamento habitualmente apenas ao alcance da alta competição, poderá fazer a diferença na diminuição dos tempos de paragem e das recidivas. Tal como para os atletas de elite, a prevenção com base no aconselhamento médico especializado e plano de treino adaptado, permitirá diminuir a incidência de lesões.

Siga o exemplo dos jogadores da nossa Seleção Nacional e prepare-se para a prática de exercício: antes de praticar desporto consulte um médico especialista e mantenha um acompanhamento diferenciado para evitar lesões.

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