Chanel investe 25 milhões de dólares em novo fundo de adaptação climática

O Landscape Resilience Fund (LRF), nome dado à iniciativa, desenvolvido pela WWF e a South Pole, visa angariar 100 milhões de dólares (82 milhões de euros) até 2025, com o objectivo de apoiar pequenas empresas e proprietários que trabalham na adaptação climática.

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JAN HUBER/UNSPLASH

A casa de moda francesa Chanel decidiu apoiar um novo fundo de adaptação climática que visa angariar 100 milhões de dólares (82 milhões de euros) até 2025, com o objectivo de investir em projectos de promoção da agricultura sustentável, proteger as florestas e apoiar os pequenos agricultores nos países em desenvolvimento.

O Landscape Resilience Fund (LRF), nome dado à iniciativa, foi desenvolvido conjuntamente pela organização não-governamental World Wide Fund for Nature (WWF) e a empresa social South Pole, ambas dedicadas ao meio ambiente. Para já, além do apoio do Global Environment Facility, através de uma quantia de 1,3 milhões de dólares (um milhão de euros), o fundo conta com um investimento de 25 milhões de dólares (em torno de 20 milhões de euros) por parte da marca de luxo Chanel, inaugurando com um total de 26,3 milhões de dólares (22 milhões de euros) para o seu funcionamento. De futuro, o LRF visa atrair mais cinco a dez investidores adicionais para ajudar a financiar pequenas empresas e projectos que fomentem práticas agrícolas e florestais resistentes ao clima e que protejam os sistemas naturais.

Os ambientalistas culpam largamente a produção de mercadorias como óleo de palma, carne de bovino e minerais pela destruição das florestas, uma vez que estas são desbravadas para plantações, ranchos, quintas e minas. Os efeitos do abate das florestas têm grandes implicações para os objectivos globais de travar as alterações climáticas, uma vez que as árvores absorvem cerca de um terço das emissões globais que causam o aquecimento do planeta, mas libertam carbono de volta para a atmosfera quando apodrecem ou são queimadas.

Além disso, as florestas também fornecem alimentos e meios de subsistência, e são um habitat essencial para a vida selvagem. De acordo com um relatório de 2019 sobre o impacto devastador da civilização moderna no mundo natural, um milhão de espécies animais e vegetais estão em risco de extinção devido à busca incessante de crescimento económico por parte da humanidade.

Assim, uma melhor conservação, restauração e gestão de áreas naturais, tais como parques, florestas e áreas selvagens, é vista como fundamental para as nações cumprirem as metas de redução das emissões que causam o aquecimento do planeta e se inverter a perda de espécies vegetais e animais. Mais, a despesa anual global para proteger e restaurar a natureza em terra precisa de triplicar nesta década para cerca de 350 mil milhões de dólares (288 mil milhões de euros), de acordo com um relatório da ONU, publicado em Maio deste ano, exortando a uma mudança de mentalidade entre os financiadores, empresas e governos. Actualmente, apenas cerca de 5% do financiamento total do clima vai para a adaptação a um planeta mais quente, com a maior parte a vir de fundos públicos, revelaram as autoridades da South Poleque irá gerir o LRF.

Martin Stadelmann, director sénior na empresa, acredita que este fundo é uma forma pioneira de uma empresa multinacional investir na adaptação às alterações climáticas. “Tal como (com) outras empresas, algumas das suas cadeias de abastecimento estão ameaçadas devido às alterações climáticas”, explicou à Thomson Reuters Foundation.

“O fundo destina-se realmente ao ‘meio em falta’ onde actualmente não existe financiamento comercial”, explicou Urs Dieterich, gestor de fundos na South Pole e director-geral do LRF. Assim, o fundo fornecerá empréstimos baratos e assistência técnica a pequenas empresas que trabalham com pequenos proprietários em paisagens vulneráveis (tais como produtores de cacau ou café e colhedores de rotim, material muito usado no fabrico de cadeiras) e ajudá-los-á a aceder a melhores insumos agrícolas (como sementes resistentes à seca), bem como formação e financiamento. Os empréstimos repatriados serão reinvestidos noutras pequenas empresas que trabalham na adaptação climática.

Os projectos que procuram financiamento podem candidatar-se online ou abordar directamente o LRF, sendo depois avaliados quanto à sua exposição às alterações climáticas e planos de adaptação. O seu progresso será acompanhado por uma equipa local e publicado em relatórios anuais, informaram os funcionários do fundo.

“Nunca houve um momento tão crítico para o sector privado intensificar a sua ajuda no colmatar da lacuna de investimento necessária para uma adaptação climática eficaz”, sublinhou Andrea d’Avack, directora de sustentabilidade da Chanel, numa declaração. Além disso, continuou, o LRF oferece uma oportunidade de “explorar diferentes abordagens que podem ajudar a avançar as mudanças na nossa própria cadeia de abastecimento e práticas empresariais”, concluiu.

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