No Afeganistão, um mês após o atentado de Maio, Fatima só quer voltar à escola

Ainda que tenha medo que os ataques se possam repetir, a adolescente afegã diz ter vontade de retomar os estudos e “continuar o percurso daquelas que foram martirizadas”.

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Fatima Noori tem 15 anos e estuda na escola secundária Sayed ul Shuhada Reuters/STRINGER
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Quando o ataque aconteceu, Fatima preparava-se para ir para casa, depois das aulas Reuters/STRINGER
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Hoje já são mais de três milhões de raparigas a frequentar o ensino no Afeganistão Reuters/STRINGER
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As sobreviventes têm frequentado sessões de psicoterapia para lidar com o trauma Reuters/STRINGER
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Sessões de psicoterapia na escola Reuters/STRINGER
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As adolescentes frequentam a escola para as sessões de psicoterapia, mas as aulas ainda não foram retomadas Reuters/STRINGER
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A primeira vez que voltou à escola após os bombardeamentos, Fatima quase desmaiou junto ao portão Reuters/STRINGER
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Fatima Noori de 15 anos Reuters/STRINGER
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Ainda não há data para o regresso das actividades na escola Reuters/STRINGER

A 8 de Maio, uma série de explosões atingiu centenas de estudantes que acabavam de sair das aulas numa escola para raparigas num bairro de maioria xiita em Cabul, a capital afegã, matando pelo menos 80 pessoas e ferindo outras 160. Agora, algumas semanas depois, Fátima Noori e as colegas abraçam-se e rezam na sua sala de aula — apesar do medo, querem voltar à escola. “Quero continuar o percurso daquelas que foram martirizadas”, justifica a adolescente à Reuters.

Desde os bombardeamentos em Cabul que a escola secundária Sayed ul Shuhada está fechada. As organizações não-governamentais (ONG) locais e o Ministério da Saúde afegão têm levado a cabo sessões de psicoterapia nas salas de aula, para ajudar as jovens a lidar com o trauma. A adolescente de 15 anos, Fatima Noori, conta que, ao voltar à escola para a psicoterapia, se sentiu “assustada e preocupada”, com medo que “o mesmo incidente pudesse acontecer de novo”. “Até desmaiei perto do portão da escola”, relata.

Mas Fatima está determinada a voltar para a escola, mesmo com o perigo de outra explosão se repetir. “Quero voltar à escola, com ainda mais vontade do que antes, para continuar os meus estudos”, declara.

Na escola secundária Sayed ul Shuhada, rapazes e raparigas dividem-se em três turnos. O ataque de 8 de Maio atingiu o segundo turno, o das raparigas, explicou a porta-voz do Ministério da Educação, Najiba Arian. Quando a primeira bomba explodiu, Fatima estava no corredor da escola, a preparar-se para ir para casa. Mais duas bombas foram detonadas enquanto as pessoas tentavam fugir. Entre os 80 mortos e os 160 feridos, a maioria eram estudantes.

O ataque não foi reivindicado por nenhum grupo e os talibãs negam qualquer responsabilidade. Ainda que a autoria do atentado não lhes tenha sido atribuída, o bairro da minoria hazara, onde a escola se localiza, é constantemente atacado por extremistas. Os EUA e outras nações ocidentais têm promovido a educação das raparigas como um dos sucessos da presença estrangeira no Afeganistão.

Mais de 3,5 milhões de meninas frequentam a escola, de acordo com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla inglesa). Entre 1996 e 2001, durante a governação dos talibãs, as raparigas não iam à escola. A Unicef estima, todavia, que 3,7 milhões de crianças continuem sem direito à educação no Afeganistão, sendo que 60% são meninas.

A segurança tem sido uma preocupação crescente no Afeganistão, já que as forças estrangeiras se preparam para sair do país, ao longo deste ano. Alguns grupos extremistas islâmicos podem ameaçar o progresso feito até agora na educação das raparigas. O pai de Fatima, Taqi Noori, de 36 anos, diz ter chegado a ponderar sair do país, mas decidiu não fazê-lo: “Há sempre guerra no Afeganistão, mas o que podemos fazer? É o nosso país… Se formos para outro lado qualquer, os meus filhos ficariam privados de educação.”

Fatima e a família moram a apenas dez minutos a pé da escola. Não existe previsão de quando serão retomadas as actividades escolares. Até lá, a adolescente continua os seus estudos a partir de casa. “Estou interessada em medicina e, no futuro, quero ser uma boa médica para tratar as nossas forças de segurança feridas enquanto defendem a nossa gente, terra e fronteiras”, anuncia a jovem de 15 anos.

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