País ainda tem muita margem para pôr mais gente a fazer compostagem

Vários empresas de gestão de resíduos e municípios têm projectos de compostagem doméstica ou comunitária. Mas Portugal ainda está aquém do total de alojamentos com potencial para, desta forma, reduzir o lixo que é preciso tratar.

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Há inúmeros projectos de compostagem no país, dirigido a famílias ou comunidades. asm ADRIANO MIRANDA

Na cidade do Porto há um novo contentor castanho em vários ecopontos, que abre com um cartão magnético, e no qual os moradores das redondezas podem depositar resíduos orgânicos, para posterior compostagem industrial, na Lipor. O sistema está a dar os primeiros passos, a par de outro, que ganha espaço em várias cidades do país, a recolha porta-a-porta deste tipo de “lixo”. Mas não sendo viável, economicamente, captar a fracção orgânica de todo o parque habitacional, num país de urbanização dispersa, vamos obrigatoriamente assistir, nos próximos anos, a um incremento da compostagem doméstica e da sua vertente comunitária. Que chega ainda a uma parte pouco significativa dos lares que têm condições para a fazer.

O PÚBLICO tentou perceber como estão os 23 sistemas de gestão de resíduos do Continente a lidar com os resíduos orgânicos, cuja recolha separada – que permite a sua valorização, como composto, e como biogás – passou a ser tarefa urgente, tendo em conta que a União Europeia a isso obriga, até 2025. Nem todos responderam, mas aqueles que o fizeram mostram diferentes graus de maturidade na abordagem a este tipo de resíduo que representa 40% das mais de cinco milhões de toneladas de resíduos urbanos produzidos no nosso país.

Há cidades que estão, recentemente, a ensaiar formas de captar este tipo de resíduos recorrendo a um novo contentor no sistema de ecopontos. No Porto, Luís Assunção, da empresa municipal Porto Ambiente, explica que esta foi a fórmula encontrada para complementar a recolha porta-a-porta, que existe em moradias unifamiliares. Enquanto nas partes da cidade onde esta recolha existe os ecopontos estão a desaparecer da rua, noutras áreas de habitação colectiva estes permanecem e até ganharam um novo contentor, castanho, para a fracção orgânica.

Soluções para casas sem jardim

Fechá-lo, permitindo a sua abertura por um cartão magnético entregue às famílias aderentes, foi a forma encontrada para evitar que alguém atire ali para dentro sacos com lixo indiferenciado. O sistema está a dar os primeiros passos, mas Luís Assunção considera que a experiência está a ser surpreendentemente positiva, dada a baixa taxa de recusa de participação por parte dos habitantes contactados, e que, além do cartão, recebem um balde de sete litros, pequeno o suficiente para ser lavável numa banca e guardável num armário de cozinha, entre idas à rua. No final de Abril, já havia mais de seis mil casas aderentes. Um número que continuava a subir, à medida que a abrangência dos equipamentos se alarga.

Quer o sistema porta-a-porta, com recolha de orgânicos, quer este novo ecoponto, que vai surgir noutras cidades do país, servem meios densamente urbanizados, onde não existem condições para implantar a fórmula mais económica de resolver o problema do desperdício de resíduos orgânicos, e da contaminação, com estes, dos outros recicláveis. Melhor do que ter circuitos de camiões a recolher este lixo que pode voltar a ser um correctivo que enriquece o solo, é não ter de o recolher de todo. E desenvolver o processo de compostagem em casa, num jardim, ou nas redondezas. A compostagem doméstica e comunitária.

E para jardins residenciais

Todo o “lixo” que é valorizado desta forma não entra nas contas. Ou seja, os portugueses que nunca deixaram de fazer uso desta prática ancestral, ou que passaram a compostar com os projectos lançados na última década e meia em vários pontos do país, estão a contribuir para a redução dos resíduos urbanos contabilizados. Que seriam, de outra forma, bem mais do que as cinco milhões de toneladas de 2019. A questão é que, estando disseminada pelo território, a compostagem, e a sua mais recente variante, a compostagem comunitária, que serve uma rua, um bairro, não abrange, ainda, a maioria das casas que poderiam acomodar, num jardim, um contentor para este efeito.

Quase todos os sistemas multimunicipais têm projectos deste tipo. É o caso dos sistemas do Grupo EGF, que abrangem a maior parte do país, e nos quais desde 2008 “existem registos de entregas de compostores domésticos à população, com mais regularidade nas empresas Valorlis, Valorsul e Resinorte”, explicou ao PÚBLICO a porta-voz, Ana Loureiro. Dando nota, ainda, de que existem “vários projectos bem-sucedidos de compostagem comunitária, nomeadamente em Lisboa, Odivelas, Amadora, Vila Franca de Xira ou Esposende”.

A Lipor, que está a alargar os projectos de compostagem comunitária, já distribuiu, no Grande Porto, quase 16 mil compostores individuais, e agora até se está a abalançar num projecto tecnológico, para monitorizar e apoiar, à distância, quem participa nestas iniciativas, em colaboração com o Instituto Fraunhofer. Também no Norte, a Ambisousa já entregou quase 5500 compostores, a famílias e às escolas, e, faz monitorização da forma como eles são utilizados, enquanto prepara a instalação de uma unidade industrial que dê resposta à criação de serviços de recolha selectiva deste tipo de resíduo.

Também na Resíduos do Nordeste se prepara um reforço da capacidade de recolher e tratar este lixo que nunca deveria ser considerado lixo. Para já, no Nordeste Transmontano, a aposta, ainda que limitada, como noutros locais, tem sido na prevenção. Nos municípios do Nordeste Transmontano, há 639 compostores domésticos e 10 comunitários espalhados por um vasto território. No qual, em muitas aldeias, vive gente que, na verdade, pratica há gerações uma economia circular, onde nada se perde, e os resíduos se transformam, como diria Lavoisier.

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