Afonso Reis Cabral e a mitologia do mal hoje no Encontro de Leituras

O romance Pão de Açúcar, que valeu a Afonso Reis Cabral o Prémio José Saramago em 2019, estará em discussão no clube de leitura do PÚBLICO e da Folha de S. Paulo esta terça-feira, 8 de Junho, às 22h em Portugal, 18h em Brasília. A sessão, via Zoom, tem a ID 912 9667 0245 e a senha de acesso é 547272.

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Afonso Reis Cabral Francisco Romao Pereira

Como se pode passar da amizade para a maldade? Foi isso que atraiu e levou o escritor Afonso Reis Cabral, que será o convidado de Junho do Encontro de Leituras, a querer escrever o romance Pão de Açúcar, que estará em discussão na próxima terça-feira, dia 8, às 22h em Portugal, 18h em Brasília, no clube de leitura do PÚBLICO e da Folha de S. Paulo. A sessão, via Zoom, tem a ID 912 9667 0245 e a senha de acesso é 547272. 

“Este percurso entre um ponto e outro era um vazio que eu tinha de preencher com literatura”, explicou o escritor português quando, em 2019, recebeu o Prémio José Saramago por este livro, que se inspira num caso real, o de Gisberta Salce Júnior, a mulher transgénero originária do Brasil que em Fevereiro de 2006 foi agredida vários dias e depois morta por um grupo de rapazes, com idades entre os 12 e os 16 anos, num prédio inacabado do Porto.

Três desses rapazes ajudaram inicialmente a Gisberta, imigrante em situação irregular, trabalhadora do sexo, toxicodependente e sem –abrigo. Tiveram um início de amizade, mas semanas depois ela acabou por ser atirada para o fundo de um fosso.

“Acendi de novo o isqueiro e pu-lo à frente da boca dela. A chama aqueceu-lhe a ponta do nariz num prumo imóvel por onde não passava qualquer fôlego. O Nélson afastou-se de nós e disse ‘Caralho para isto’. E considerava triste a Gi acabar assim entre gente como o Fábio, o Leandro e o Grilo, para quem a vida dela tinha sido pouco mais do que o contraste entre as mamas e o pénis. Fora muito maior: tivera amigos como eu e o Samuel.”, lê-se num dos capítulos finais do romance Pão de Açúcar.

 Em 2006, Afonso Reis Cabral tinha também 16 anos. Para escrever este livro, que António Mega Ferreira, membro do júri do Prémio Saramago, considerou “uma das obras ficcionais portuguesas mais arrebatadoras e poderosas dos últimos anos” numa escrita que revela “maturidade narrativa e estilística notáveis”, Afonso Reis Cabral conversou com Rute Bianca, amiga de Gisberta, e diz que sem ela “o livro teria ficado coxo”.

Também fez várias “investidas ilegais” àquele lugar onde iria nascer um supermercado Pão de Açúcar, no Porto, conversou com outras pessoas que conheceram Gisberta e leu o processo judicial, bem como o que ao longo dos anos foi relatado pela imprensa sobre o caso que marcou a sociedade portuguesa. Depois, como ele próprio escreve numa nota no livro, baralhou tudo com ficção, “que é como se faz um romance”. Um leitor encontra em Pão de Açúcar, editado em Portugal pela Dom Quixote e no Brasil pela HarperCollins, uma versão literária de um caso real. Pão de Açúcar vive da ficção. Maria do Rosário Pedreira, a editora de Afonso Reis Cabral na Leya, sabe que é muito difícil falar de uma forma bela ou com uma certa poesia na linguagem de coisas feias, mas esta é uma das características do estilo do escritor de 31 anos e que já foi director do PÚBLICO por um dia.

Afonso Reis Cabral, que ficou conhecido quando venceu o prémio Leya 2014 com o romance O Meu Irmão, neste seu segundo romance, que coloca a questão do que leva indivíduos jovens para a mitologia do mal, foi capaz de “abordar a violência como se ela fosse necessária para realçar a redenção”, considerou a professora brasileira Nelida Piñon, também júri do prémio Saramago.

O Encontro de Leituras, que junta leitores de língua portuguesa, acontece uma vez por mês na plataforma Zoom, e é moderado pelas jornalistas Isabel Coutinho, responsável pelo site do PÚBLICO dedicado aos livros, o Leituras, e por Úrsula Passos, editora-assistente de Cultura do jornal paulista.

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