“Não se verificaram óbitos” nas pessoas com mais de 80 anos com a vacinação completa

Segundo André Peralta Santos, da Direcção-Geral da Saúde, das pessoas com mais de 80 anos com vacinação completa, apenas 272 foram infectadas e só 15 tiveram de ser hospitalizadas. Baltazar Nunes, do Insa, também revelou dados preliminares de um estudo de efectividade da vacina nos mais idosos: a taxa foi superior a 75%.

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Rui Gaudencio

Os dados continuam ainda em análise, mas os primeiros resultados apurados foram suficientemente positivos para levar o especialista da Direcção-Geral da Saúde (DGS) a dizer que “estes números atestam bem o poder da vacinação na redução da doença e das suas manifestações mais negativas”. Segundo André Peralta Santos, das pessoas com mais de 80 anos que já completaram o esquema vacinal, apenas 272 foram infectadas pelo SARS-CoV-2, 15 tiveram de ser hospitalizadas, mas sem mortes associadas.

Foi na reunião que juntou, esta sexta-feira, especialistas e políticos no Infarmed, para mais uma avaliação da situação epidemiológica, que o perito da DGS apresentou, pela primeira vez, dados sobre o impacto da vacinação contra a covid-19 nos mais idosos. Em específico, o número de pessoas com 80 ou mais anos que se infectaram pelo menos 14 dias depois de terem tomado a segunda toma da vacina.

“Desde o início de Janeiro que na população com 80 e mais anos, houve 272 infectadas, 15 hospitalizadas e zero mortes”, disse Peralta Santos, acrescentando que “é normal que existam alguns casos muito esporádicos, em que mesmo depois vacinação completa, as pessoas possam adquirir a infecção”. Mas, salientou, “na esmagadora maioria desses casos, a doença é ligeira e não requer hospitalização e não se verificaram óbitos em pessoas com vacinação completa”.

Para já, não é possível ter muito mais informação, como infecções só com uma dose ou o contexto em que a mesma aconteceu, explicou ao PÚBLICO André Peralta Santos. Estes são os primeiros dados analisados que resultam do cruzamento de várias bases de dados, mas adianta que a avaliação vai continuar e ser estendida às restantes faixas etárias à medida que a cobertura vacinal também aumenta. Mas o que se sabe já “é muito relevante para contextualizar com a efectividade” e em linha com o que esperavam encontrar.

Um outro dado que André Peralta Santos apresentou na reunião, ainda relacionado com a vacinação e a infecção neste grupo, foi o referente à semana 19 (entre 10 e 19 de Maio) em que houve 44 casos confirmados em pessoas com 80 ou mais anos e dos quais 61,4% tinham a vacinação completa. “Mesmo com vacinas muito boas e com grande efectividade, vamos ter casos residuais em pessoas com a vacinação completa. Mas a maior parte são casos sem grande gravidade, o que é uma novidade nesta faixa etária”, reforçou o especialista, lembrando que sem o efeito da vacinação em vez de 44 casos positivos, o universo “seria muito maior”.

Efectividade acima dos 75%

Também o epidemiologista do Instituto Nacional de Dr. Ricardo Jorge (Insa), Baltazar Nunes, apresentou na reunião no Infarmed dados de uma avaliação que estão a fazer, em conjunto com a DGS e os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, sobre a efectividade da vacina nos mais velhos. Neste caso, estão a seguir desde 3 de Fevereiro um grupo de pessoas com 80 e mais anos na comunidade, sem história anterior de infecção ou de vacinação antes dessa data, para avaliar a efectividade das vacinas da Pfizer e da Moderna sete dias após a segunda toma.

A avaliação permitiu perceber que “o risco de infecção com sintomas e o risco de infecção com ou sem sintomas. Na infecção sintomática a efectividade da vacina foi de cerca de 80% e contra a infecção [com ou sem sintomas] foi de cerca de 75,2%”, disse Baltazar Nunes. O especialista lembrou que grupo de pessoas com 80 e mais anos “normalmente não entra nos ensaios clínicos” e que os valores apurados são “muito bons” para este grupo populacional, que “muitas vezes sabemos que têm resposta diminuída às vacinas”. Deu como exemplo a efectividade da vacina da gripe que neste grupo etário ronda os 50%.

Também neste caso, o estudo resultou do cruzamento de várias bases de dados, tendo incluído 457.254 pessoas, esclareceu o Departamento de Epidemiologia do Insa, em resposta escrita, referindo também “que estes resultados são preliminares” e reflectem o período de exposição (tempo desde vacinação) e incidência de 3 de Fevereiro a 10 de Maio. Disse ainda que “estes resultados estão em linha com os obtidos num estudo realizado no Reino Unido que apontou para uma estimativa da efectividade da vacina Pfizer/BioNTech contra infecção sintomática, na população com 80 ou mais anos, de 79% e 85% a sete dias e 14 dias após a segunda dose, respectivamente”.

“O Insa irá actualizar estas estimativas ao longo do tempo em função da actualização dos dados. Este estudo permitirá medir a efectividade da vacina contra a covid-19 em todos os grupos etários alvos de vacinação contra infecção sintomática, infecção, hospitalização e óbito por covid-19”, acrescentou.

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