Com casos a aumentar, Braga receia ter de deixar de desconfinar

Presidente da Câmara Municipal de Braga perspectiva que o concelho ultrapasse o limite de 120 casos por 100 mil habitantes “em pouco tempo”. Maior parte dos casos regista-se na população mais jovem, entre os 16 e os 30 anos.

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Andre Rodrigues

O número de casos positivos de covid-19 tem vindo a aumentar no concelho de Braga, onde existe uma incidência de “90 casos por 100 mil habitantes”, disse Ricardo Rio, presidente do município, ao PÚBLICO. O autarca perspectiva que o cenário agravar-se-á porque o concelho tem tido “cerca de 20 casos diários desde há vários dias”. “Por extrapolação, poderemos ultrapassar os 120 [casos] por 100 mil em pouco tempo”, acrescentou. Passada essa marca, Braga recuaria no desconfinamento.

De acordo com o presidente da autarquia bracarense, a maior parte do número de novos casos positivo concentra-se “sobretudo na população mais jovem, entre os 16 e os 30 anos”. “Este aumento não tem tido reflexos significativos em óbitos e internamentos, mas à medida que se vão registando mais casos, há um risco cada vez maior de impactar o tecido económico”, apontou.

Apesar da faixa etária indicada, o aumento do número de casos não parte só da comunidade estudantil da Universidade do Minho, por exemplo. Há registo de “surtos noutros contextos, nomeadamente empresarial”, notou Ricardo Rio. Ainda assim, e para contrariar esta tendência, a Câmara Municipal de Braga reforçou “a política de sensibilização de cariz pedagógico” junto dos civis através da Polícia Municipal, mantendo ainda “um contacto próximo com a Universidade do Minho e as forças de segurança”. Essa sensibilização é feita, nomeadamente, na via pública, mas será alargada a “proprietários de estabelecimentos comerciais e de restauração”, já que não é possível “ter polícia, permanentemente, nos locais”. Quanto aos universitários, Ricardo Rio explica que “os polícias passam por certos locais e chamam à atenção para certos tipos de práticas, mas as condutas são retomadas”.

Rui Oliveira, presidente da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), diz que este “sinal de alerta” mostra que é “fundamental reforçar campanhas de sensibilização” e apelos à comunidade estudantil. Ainda assim, lembra que boa parte da comunidade bracarense é também académica. Com o regresso das aulas presenciais no ensino superior e a reabertura de espaços, “há maior possibilidade de contacto e interacção”, o que “aumenta o risco de aparecimento de novos casos”. “Mas não é só em Braga nem só na comunidade académica de Braga”, considera. 

Segundo um comunicado endereçado à comunidade académica por Paulo J. S. Cruz, pró-reitor e presidente da Comissão de Elaboração e Gestão do Plano de Contingência da Universidade do Minho, este fim-de-semana “houve conhecimento de um conjunto de casos positivos relacionados com um convívio envolvendo dezenas de estudantes, que ocorreu fora dos espaços” da instituição de ensino. O pró-reitor apela ao cumprimento das “normas e recomendações de protecção” contra a covid-19, frisando que “este ainda não é o tempo para promover convívios que possam colocar em risco a saúde de todos”.

Segundo o mesmo comunicado, que cita a informação da Administração Regional de Saúde (ARS) Norte, a incidência do número de casos por 100 mil habitantes a 19 de Maio era de 93,1. A 12 de Maio, esse valor era de 83,2, tendo subido para 85,4 três dias depois e para 86,5 a 19 de Maio.

Este domingo, o Sporting Clube de Braga conquistou pela terceira vez a Taça de Portugal. Muitos dos adeptos do clube minhoto celebraram a conquista dentro do seu carro, percorrendo as artérias da cidade, mas, segundo Ricardo Rio, “houve um aglomerado de centenas de pessoas na Avenida Central e na Avenida António Macedo”. “Mas diria que foi no limiar da contenção possível para uma circunstância destas”, repara. O autarca lembra que a câmara, o clube e as forças de segurança fizeram o apelo “para que os adeptos não se manifestassem”. “Não pudemos controlar, mas os ajuntamentos foram relativamente restritos”, conclui.

Contactado pelo PÚBLICO, o Comando Distrital de Braga da PSP recusou-se a divulgar os dados relativos às multas passadas no último fim-de-semana por ajuntamentos, consumo de álcool na via pública, incumprimento do uso de máscara ou desrespeito geral das medidas de combate à pandemia. Com Inês Moura Pinto

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