Jornalista bielorrusso detido após desvio de avião para Minsk, Europa vai discutir sanções

Voo onde seguia Román Protasevich foi forçado a aterrar de emergência na capital da Bielorrússia. Oposição acusa Governo de Lukashenko de sequestro e países da UE condenam acção.

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Roman Protasevich a ser detido durante a um protesto em Minsk em 2017 EPA

A oposição da Bielorrússia acusou o Governo de sequestro ao obrigar um avião a fazer uma aterragem de emergência para deter o jornalista Roman Protasevich, um dos fundadores do canal Telegram Nexta, que desempenhou um papel fundamental na coordenação dos protestos após a reeleição do presidente Alexander Lukashenko. A acção do executivo bielorrusso mereceu já o repúdio de vários líderes europeus.

“Roman Protasevich foi preso quando se encontrava a bordo de um voo da Ryanair de Atenas para Vílnius. O avião fez uma aterragem de emergência no aeroporto de Minsk”, escreveu o centro de direitos humanos Viasna na rede social Telegram.

Por sua vez, o canal Nexta Live acusou o Governo de Lukashenko de “sequestro” do avião com a única finalidade de prender Protasevich. “A pena de morte espera-o na Bielorrússia”, alertou o canal.

Antes de ser confirmada a detenção de Protasevich, soube-se que um avião da Ryanair tinha interrompido o seu voo de Atenas, na Grécia, para Vílnius, na Lituânia, para aterrar de emergência em Minsk devido a um alerta de bomba, que não foi confirmado, informou a agência noticiosa russa RIA Novosti.

A acção do Governo bielorrusso foi já condenada internacionalmente e acumulam-se os pedidos de explicações dirigidos a Minsk. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que considerou o desvio do avião “totalmente inaceitável”, exigiu que todos os passageiros “devem conseguir continuar a sua viagem para Vílnius imediatamente e a sua segurança deve estar assegurada”. A comissária Europeia dos Transportes, Adina Valean, confirmou ao final da tarde de domingo que o voo da Ryanair retomou a viagem para Vílnius, tendo aterrado na capital da Lituânia ao início da noite.

Por sua vez, a NATO considerou a aterragem forçada do voo como “incidente sério e perigoso”, exigindo investigação internacional. “As autoridades bielorrussas devem garantir o retorno seguro da tripulação e de todos os passageiros a Vílnius”, disse um porta-voz.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Dominic Raab, afirmou que a "acção bizarra” do presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, terá “implicações sérias”, enquanto o seu congénere francês, Jean-Yves Le Drian, considerou a situação como “inaceitável”.

“Precisamos de uma explicação imediata por parte do Governo da Bielorrússia sobre o desvio de um voo da Ryanair dentro da UE para Minsk e a alegada detenção de um jornalista”, exigiu por seu lado o Governo alemão.

Os chefes de Estado e de governo da UE vão discutir, na reunião do Conselho Europeu, esta segunda-feira, em Bruxelas, “possíveis sanções” contra a Bielorrússia. O anúncio foi feito pelo porta-voz do Conselho Europeu Baren Leyts, numa publicação no Twitter. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, “vai colocar [segunda-feira] a questão da aterragem forçada do voo da Ryanair em Minsk” e “as consequências e possíveis sanções serão discutidas nesta ocasião”, pode ler-se na publicação.

Jornalistas presos  

Em Novembro passado, o Comité de Segurança do Estado da Bielorrússia (KGB) incluiu Protasevich e outro fundador do Nexta, Stepan Putilo, na sua lista de indivíduos implicados em actos terroristas. Já em Março, três editores de grandes plataformas de media independentes da Bielorrússia tinham sido detidos em Minsk quando participavam em protestos contra Aleksander Lukashenko.

Desde o início dos protestos na antiga república soviética, centenas de jornalistas foram detidos e quase 20 estão ainda presos. Já esta semana, foram detidos vários funcionários e repórteres do popular site da oposição tut.by, cujo acesso foi bloqueado no âmbito de um caso de evasão fiscal. Ainda segundo a imprensa local, o activista da oposição Vitold Ashurok, que cumpria uma pena de cinco anos por participar em protestos contra Lukashenko, morreu na última semana na prisão em circunstâncias consideradas estranhas.

As eleições presidenciais de 9 de Agosto de 2020 na Bielorrússia, que deram um novo mandato a Alexander Lukashenko, geraram vários meses de protestos. Lukashenko, no poder desde 1994, obteve 80,1% dos votos, contra 10,1% da candidata da oposição Svetlana Tijanovskaya, de acordo com a contagem oficial de votos.

A oposição bielorrussa denunciou a existência de fraude maciça e exigiu a repetição do acto eleitoral, opção que Lukashenko descartou por completo. Vários países, incluindo os EUA, membros da União Europeia, o Reino Unido e a Ucrânia, não reconheceram a legitimidade dos resultados das eleições. Já a Rússia, China, várias nações do espaço pós-soviético, Cuba, Venezuela, Nicarágua e Turquia, entre outras, consideraram como válidos os resultados da votação.

Actualizado às 19h10 com as reacções dos governos europeus e da NATO, e às 22h20 com a discussão de sanções por parte do Conselho Europeu de segunda-feira.

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