Ensinar Os Lusíadas: a vontade que nos “ata ao leme”

Ensinar Português tem muito mais do que letras, frases, textos. Tem a riqueza de um povo que “por obras valerosas” se “libertou da lei da morte”.

Ser professor de Português é, na verdade, um privilégio.

Existe toda a abundância de se poder ensinar o património de uma língua e de se tentar contagiar os alunos com esse orgulho.

Assim, quando um professor pode iniciar o ensino de uma ou mais turmas no sétimo ano e consegue levá-las até ao nono, há todo um processo que culmina, na minha perspetiva, com o estudo de Os Lusíadas.

Se, ao longo do terceiro ciclo, o professor procurou sempre sensibilizar os seus alunos para a riqueza e para o valor da nossa língua, estudar a epopeia camoniana é o revestimento final perfeito para que estes se orgulhem de quem são. A forma grandiloquente e sublimada de “cantar” o povo português e de o elevar a um plano de heróis, sublinhando a grandeza dos seus feitos, traduz-se no patriotismo que cada um de nós enverga, mesmo sem ter consciência disso.

Assim, estudar Os Lusíadas pode ter esse efeito: o de finalizar o terceiro ciclo com eloquência, com bravura, o de traçar um caminho, o de ir mais além, a prova de que valeu a pena, apesar de todos os sacrifícios.

Na verdade, estudar Os Lusíadas pode ser uma lição de vida: a vontade que nos “ata ao leme” é a que nos faz prosseguir. E é esse espírito que um professor de Português espera dos seus alunos, realçando, através de Camões, a superioridade do povo português. Por isso, entrelaça a História de Portugal na Literatura. Por isso, lhes mostra a vida para além das páginas dos livros, onde os heróis fizeram história e marcaram a diferença.

Um professor de Português que consiga fazer (re)nascer um herói tem a sua missão cumprida.

Deste modo, através da literatura e de Os Lusíadas em particular, o professor tem fé de que os seus alunos compreendam que os heróis são aqueles que mostram, através de atitudes, pensamentos e ideologias, os valores da humanidade, do ser humano como forças condutoras. Os bons heróis surgem de comportamentos que devem ser imitados para o bem geral.

No final da linha, depois de os ter ensinado durante três anos, o professor de Português deixa os seus alunos partir com a esperança de que sejam bons exemplos para os outros, pois só uma sociedade com exemplos válidos é uma sociedade com caminho, iluminada, orientada.

Ensinar Português tem muito mais do que letras, frases, textos. Tem a riqueza de um povo que “por obras valerosas” se “libertou da lei da morte”. Por tudo isso, e pela alma patriótica que vive em cada um de nós, viva a Literatura Portuguesa e, em particular, Os Lusíadas e Luís de Camões.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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