Novos confrontos na Colômbia após denúncia de abusos sexuais pela polícia e suicídio de adolescente

Jovem de 17 anos foi detida e arrastada para uma unidade da polícia antimotim na cidade de Popayán. Suicídio após denúncia de abusos sexuais levou manifestantes a atearem fogo ao edifício.

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Pelo menos 44 pessoas morreram nos protestos desde o início do mês Reuters/STRINGER

O ambiente de grande tensão na Colômbia, após duas semanas de protestos contra o Governo do Presidente Iván Duque, atingiu um novo patamar de violência nas últimas noites na cidade de Popayán, onde uma adolescente se suicidou depois de ter denunciado abusos sexuais por parte da polícia local.

Na noite de sexta-feira para sábado, centenas de jovens cercaram e atearam fogo a uma unidade da polícia antimotim em Popayán, a 190 quilómetros a sul de Cali, palco dos maiores protestos desde o início do mês.

Em resposta, a polícia antimotim carregou sobre a multidão com gás lacrimogéneo, canhões de água e granadas de atordoamento, num “cenário de guerra urbana”, segundo a descrição do correspondente do jornal espanhol El País na Colômbia.

Na rede social Twitter, o Presidente colombiano reconheceu a gravidade da situação e anunciou o envio para Popayán dos seus ministros da Defesa e da Administração Interna “para que liderem o restabelecimento da ordem pública na cidade.

“Perante os lamentáveis acontecimentos relacionados com a jovem falecida, de 17 anos, é imperativo que haja uma investigação exaustiva”, disse Iván Duque.

O caso que motivou os protestos em Popayán – dentro dos protestos mais abrangentes contra a resposta económica do Governo à pandemia de covid-19 – aconteceu na noite de quarta-feira, quando uma adolescente de 17 anos foi detida por quatro polícias antimotim.

Num vídeo gravado com um telemóvel por um manifestante, vê-se a jovem a ser levada pelos agentes, agarrada pelos braços e pelas pernas, enquanto grita com eles e se queixa de que estão a tirar-lhe as calças. A jovem é então levada para uma unidade de intervenção rápida – no edifício que foi atacado na sexta-feira – e não há registos do que aconteceu no interior.

Segundo a polícia, a jovem nunca esteve sozinha com os polícias que a detiveram e foi entregue a uma avó, poucas horas depois, sem nenhum indício de violência. Uma advogada da família diz que a adolescente saiu da unidade “nervosa, com marcas e a sofrer uma crise de ansiedade”.

Na mesma noite, a jovem escreveu na sua conta no Facebook que não estava a participar nos protestos quando foi detida, dizendo que se dirigia à casa de um amigo.

“Nem sequer fugi porque era pior. A única coisa que fiz foi esconder-me atrás de um muro, e só me apanharam porque eu estava a gravar”, disse. “No meio da confusão, baixaram-me as calças e apalparam-me.”

No dia seguinte, a família anunciou que a jovem tinha cometido suicídio em casa. A autópsia já foi realizada, mas os resultados ainda não foram divulgados publicamente.

Ao todo, pelo menos 44 pessoas morreram nos protestos das últimas duas semanas na Colômbia.

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