Os Palestinianos cidadãos de Israel são a chave da luta popular palestiniana

O estado Israelita tem para cima de 65 leis discriminatórias dirigidas somente aos seus cidadãos palestiniano

Durante os 73 anos daquilo a que há muito, incorrectamente, se baptizou de conflito Israel-Palestiniano, raramente se mencionou os cidadãos palestinianos de Israel. O foco das notícias e dos media sempre esteve sobre a faixa de Gaza e a Cisjordânia. É importante mencionar aqui, então, que os Palestinianos cidadãos de Israel são aproximadamente 21% da população israelita, tratando-se assim de cerca dois milhões de nativos palestinianos com cidadania israelita.

Para quem está de fora poder-se-á pensar que estes palestinianos não têm problemas relevantes, dado viverem num estado, que no ocidente é considerado uma democracia. Pois quem está de fora, está extremamente enganado. Dado o seu estatuto de cidadãos de Israel, estes palestinianos têm vindo a ser descriminados ao longo destes 73 anos por todo o Médio Oriente. Igualmente, na causa palestiniana, são vistos como privilegiados, dado não viverem sob uma ocupação claramente definida. Simultaneamente, são desde sempre discriminados dentro do estado dos quais são cidadãos e do qual têm por direito, iguais direitos de cidadania, assim como os restantes cidadãos de origem judia.

O estado Israelita tem para cima de 65 leis discriminatórias dirigidas somente aos seus cidadãos palestinianos. Para além disso há uma segregação e discriminação institucionalizada, estando os palestinianos situados no limiar da sociedade e nunca em nenhum momento terem feito parte da sociedade israelita. As cidades palestinianas têm uma urbanização escandalosamente precária, onde está proibido qualquer tipo de expansão territorial. Cidades como a Nazaré ou Umm al-Fahem estão literalmente a “rebentar pelas costuras”.

Pedidos para novas construções ou para expansão de construções já existentes são sempre, sem excepção, recusadas. A manutenção comunal nas cidades é nula. Não são investidas verbas do estado em cidades de população palestiniana. Existem dois sistemas escolares, mas para se ter acesso à universidade tem que se fazer testes de aptidão que estão ligados a um único sistema escolar. O qual não é o do palestinianos, está claro. Também, para se arranjar emprego é regra geral ter que se provar que se fez o serviço militar, o que logo à priori exclui os palestinianos.

Outras cidades há, de carácter misto. Algumas há que estão internamente separadas por um muro, que divide os cidadãos palestinianos dos judeus, para evitar qualquer tipo de contacto e de coexistência. Entre as cidades mistas é relevante mencionar Al-Lyd, Ramle e Yafa, dado o facto de terem uma taxa de violência extremamente elevada, paralelamente a uma taxa de desemprego e pobreza igualmente elevada. Nestas cidades a violência cresce e a polícia não intervém em algum momento. As cidades e a sua população palestiniana são deixadas a si mesmas, estando assim “fora da lei”. Os jovens palestinianos não têm qualquer perspectiva de futuro.

Desde que o estado de Israel foi fundado, que os poucos palestinianos que não tinham sido expulsos do território durante a Nakba e aos quais lhes foi imposta a cidadania israelita, que não tinham nem pedido nem desejado, tentaram lidar com a nova situação e adaptar-se a ela. Desde essa fase inicial existiram polícias discriminatórias, que ao longo dos anos e, especialmente com este último governo foram transformadas em leis. Aquando dos Acordos de Oslo houve uma grande onda de esperança na comunidade palestiniana com cidadania israelita. Esta pensava que, estando a situação dos seus irmãos nos territórios ocupados esclarecida, poderia assim concentrar-se nos seus próprios problemas internos e melhorar a sua situação. Nada disso aconteceu e a frustração cresceu. Prova disso foram os acontecimentos em Outubro de 2000, aquando do início da Segunda Intifada.

De 2000 para cá que a população palestiniana com cidadania israelita, em geral, se tinha resignado, tinha perdido a esperança de poder, de alguma forma, influenciar de forma positiva a sua situação e a sua participação de cidadania dentro do estado em que vive. A adesão às urnas, aquando de eleições, ia de miserável a deprimente. Por outro lado, as suas necessidades e os seus desejos, como comunidade têm vindo a ser ignorados por todos, no exterior. Os estrangeiros que assomam a zona com regularidade, por causa da situação política, concentram-se sempre na Cisjordânia e em Gaza, assim como os media – como acima referido. Existindo assim, por vezes, um sentimento de alienação e especialmente de exclusão, do povo palestiniano num todo. 

Um povo dividido

Com os acontecimentos em Sheikh Jarrah e na mesquita de al-Aqsa e, consequentemente com a barragem dos palestinianos cidadãos de Israel de se dirigirem à mesquita, por parte da polícia israelita, que tinha fechado as estradas de acesso à cidade de Jerusalém, o estado de letargia e de introspecção destes mesmos palestinianos desvaneceu-se. O sentido de justiça despertou uma comunidade, que continua a ser parte de um povo que está dividido por muros e campos de refugiados, assim como espalhado por esse mundo fora.

Os palestinianos cidadãos de Israel saíram à rua num dia assim. Saíram e provaram que 73 anos de colonialismo não têm o poder de aniquilar a sua identidade palestiniana e o seu património cultural. Saíram e mostraram ao mundo que mesmo ao fim de 73 anos continuarão a lutar por que justiça lhes seja feita.

Esta nova geração de jovens palestinianos é poderosa. Tem um grande sentido de justiça e sabe quais são os seus direitos, estando pronta para se manifestar, lutar por eles e não se deixar oprimir eternamente. 

O estado de Israel oprime os seus palestinianos cidadãos porque os teme. Com o desenvolvimento demográfico perderá Israel, a longo prazo, a maioria judia, tornando-se o auto-nomeado estado judeu, um estado com uma maioria palestiniana.

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