A partir de hoje, Portugal já está a viver de crédito ambiental

No ano passado, o país levou mais 12 dias a consumir os recursos que tinha disponíveis.

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Andar mais a pé ou de bicicleta é uma forma de diminuir a nossa pegada ecológica, diz a Zero Sara Jesus Palma

Portugal está a gastar cada vez mais depressa a área produtiva disponível para regenerar recursos e absorver resíduos, ou seja, a sua pegada ecológica é cada vez mais pesada. Este ano, segundo a Global Footprint Network (GFN), que anualmente faz estas contas, o nosso país passa a ter de accionar o cartão de crédito ambiental já a partir desta quinta-feira, 13 de Maio. Ou seja, a partir deste dia, estaremos a consumir recursos que só deveriam ser utilizados no início do próximo ano. Em 2020, esse dia chegou a 25 de Maio.

Estes números indicam que se cada pessoa do mundo vivesse como um português médio, a humanidade necessitaria de mais de dois planetas para sustentar as suas necessidades de recursos, exemplifica a associação ambientalista Zero que, anualmente, divulga estes dados em parceria com a GFN. “Portugal é, há já muitos anos, deficitário na sua capacidade para fornecer os recursos naturais necessários às actividades desenvolvidas (produção e consumo). O mais preocupante é que a ‘dívida ambiental’ portuguesa tem vindo a aumentar”, alerta a Zero.

A associação salvaguarda, contudo, que os cálculos da GFN têm em conta informações de vários anos, pelo que “não espelham de forma clara as implicações da pandemia na pegada ecológica de Portugal.” Mas a associação acredita que o país pode melhorar o seu desempenho se aproveitar a oportunidade trazida pelo Programa de Recuperação e Resiliência, bem como outros apoios de fundos europeus, para mudar a forma como vivemos - respeitando as nossas necessidades e a capacidade do planeta.

Temos de consumir menos e melhor e isso, reclama a associação, tem de partir de políticas públicas e de cada cidadão individualmente. Com o consumo de alimentos a representar 32% da pegada ecológica do país e os transportes a serem responsáveis por outros 18%, é nestes dois sectores que a Zero foca as sugestões para alterar o rumo que temos vindo a seguir. Apostar na soberania alimentar, com alterações na agricultura, e no teletrabalho (para reduzir as deslocações), criar regulamentos para que os produtos a colocar no mercado sejam sustentáveis e investir em modos de transporte suaves são as áreas em que a associação portuguesa gostaria de ver mudanças a nível político. 

Já no aspecto individual, a Zero sugere a redução do consumo de carne, o recurso a uma economia mais circular e a aposta nos transportes públicos, andar a pé ou de bicicleta, sempre que possível, reduzindo, também, ao essencial, as viagens de avião.

Ainda se aguarda pela definição do Dia da Sobrecarga da Terra deste ano. No ano passado, a pandemia trouxe boas notícias a este nível, atirando a data para 22 de Agosto, quando em 2019 tinha sido a 29 de Julho. Falta saber se, este ano, esses efeitos ainda se vão sentir.

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