Grupos de civis armados disparam contra manifestantes na Colômbia

Cali está no centro das convulsões sociais colombianas. A violência e repressão contra os manifestantes que protestam contra o Governo de Iván Duque continua.

Cali tem sido o epicentro da violência na Colômbia
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Cali tem sido o epicentro da violência na Colômbia Reuters/STRINGER
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Os protestos contra o Governo de Iván Duque duram há uma semana Pablo Rodriguez/EPA

A violência em Cali, cidade que é o epicentro da crise política e social vivida na Colômbia, atingiu um novo patamar com a denúncia de grupos de civis armados a disparar contra os manifestantes que participam na greve geral que dura há mais de uma semana.

Em Cali vivem-se dias de caos e violência desde que começaram os protestos contra a reforma tributária proposta pelo Governo, que contemplava uma subida do IVA e dos impostos para a generalidade da classe média. Se um pouco por todo o país, em que foram registados quase 30 mortos, o cenário é de permanente tensão, em Cali tudo é mais violento.

A cidade de mais de dois milhões de habitantes, capital do departamento do Vale do Cauca, está no ponto onde se cruza a violência do narcotráfico e a violência dos grupos de dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). A este caldeirão juntou-se nas últimas semanas a violência dos confrontos entre os manifestantes e as forças de segurança colombianas. Há zonas de Cali totalmente bloqueadas e ocupadas, onde desapareceu a presença do Estado, descreve o El País.

No domingo, um grupo de civis com armas de fogo disparou sobre indígenas que bloqueavam uma estrada num bairro de Cali, ferindo pelo menos nove pessoas, de acordo com uma organização indígena regional. O episódio tem uma enorme carga histórica na Colômbia, onde nas últimas duas décadas a violência deixada por milícias paramilitares, com o beneplácito do Estado, no combate às guerrilhas e ao tráfico de droga deixaram um trauma colectivo.

“Persiste o assédio a indivíduos civis armados, com o acompanhamento cúmplice do exército, polícia e da Esmad [a unidade antimotim da polícia]”, denunciou uma organização de indígenas do Vale do Cauca. Um vídeo em que se vê uma pessoa a disparar na direcção de um grupo que marchava foi publicado pelo deputado e líder indígena Feliciano Valencia, que acusou “as famílias ricas de Cali, em união com a polícia” de disparar “indiscriminadamente” sobre os manifestantes.

Durante a madrugada, o Presidente Iván Duque deslocou-se a Cali pela primeira vez desde o início da crise, para uma visita relâmpago de três horas em que esteve reunido com os responsáveis pelas forças de segurança, de acordo com o jornal El Tiempo.

As manifestações que começaram como uma contestação à reforma tributária – entretanto retirada pelo Governo – alargaram o seu âmbito e representam hoje uma oposição generalizada às medidas económicas de Duque, que dizem ter aumentado a desigualdade no país, e à violência policial. Calcula-se que desde o início da pandemia cerca de 3,5 milhões de colombianos tenham caído para o patamar abaixo do limiar da pobreza.

À pobreza crescente junta-se o aumento da violência e da insegurança, sobretudo entre líderes de movimentos sociais, sindicatos e indígenas, frustrando as expectativas da maioria da população que esperava uma pacificação do país após a assinatura do acordo de paz com as FARC, em 2016.

O Presidente foi criticado por ter respondido à greve geral com uma intensificação da repressão nas ruas, tendo enviado o Exército para apoiar a polícia. Esta semana, Duque começa a receber os líderes dos movimentos sociais à frente das manifestações para tentar encontrar uma saída política para a crise.

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