Netanyahu não conseguiu formar Governo em Israel, abrindo a porta a Lapid

O político centrista Yair Lapid fo encarregado de formar Governo. Vai tentar juntar uma combinação improvável de partidos desde pacifistas de esquerda a nacionalistas de direita.

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Yair Lapid ofereceu a hipótese de ser primeiro-ministro a Naftali Bennett, de um partido mais pequeno, para viabilizar uma coligação ABIR SULTAN/EPA

O Presidente de Israel, Reuven Rivlin, encarregou esta quarta-feira o político centrista Yair Lapid, cujo partido Yesh Atid ficou em segundo nas eleições de 23 de Março, de tentar chegar a uma coligação de Governo – o que não será tarefa fácil já que teria de juntar partidos desde pacifistas de esquerda à direita nacionalista.

“Tornou-se claro que Yair Lapid tem a possibilidade de formar um Governo que consiga aprovação parlamentar, mas há muitas dificuldades”, disse Rivlin.

Lapid recebeu indicação de partidos tão diferentes como o seu próprio Yesh Atid, Kahol Levan, de Benny Gantz, que foi seu aliado, e do Meretz, mais à esquerda (pacifista), de partidos à direita como o Nova Esperança (O “Likud sem Bibi”) e do Israel Nossa Casa (nacionalista, liderado pelo “russo” Avigdor Liebeman). Estes partidos dão a Lapid 51 deputados entre 120, ainda insuficientes para uma maioria.

O líder da oposição terá agora 28 dias para tentar formar uma coligação, o mesmo prazo antes dado ao candidato do partido mais votado, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, cujo prazo terminou à meia-noite de terça-feira.

Israel está num círculo vicioso de eleições que não dão resultados suficientemente claros para um dos blocos – Netanyahu e os seus aliados religiosos, ou a oposição a Netanyahu – formar um Governo maioritário. A votação de Março foi a quarta, e há quem mencione um cenário de uma quinta eleição. Na raiz está, concordam a maioria dos analistas e comentadores, o processo judicial em que o primeiro-ministro é acusado de corrupção e outros crimes. Em Israel, a lei obriga ministros formalmente acusados a demitir-se, mas não o primeiro-ministro.

Mas mesmo que tenha sido Yair Lapid a receber a incumbência de formar Governo, a decisão que pode mudar tudo na política israelita não está nas mãos dele, mas sim nas de Naftali Bennett, antigo aliado de Netanyahu caído em desgraça junto do chefe do Governo (aparentemente por uma discórdia com a mulher do primeiro-ministro, Sara). Bennett tem tentado posicionar-se para ser o líder da direita, apostando que o tempo de Netanyahu esteja a chegar ao fim após 12 anos consecutivos de Governo, quatro eleições e o processo judicial a decorrer.

Num país cada vez mais polarizado e onde ser de esquerda se tornou num insulto, Yair Lapid, conotado com o campo de esquerda, já ofereceu publicamente a hipótese a Bennett de ser o primeiro a ocupar a chefia, rotativa, de um Governo de unidade, o que é especialmente digno de nota porque o partido de Lapid tem 17 deputados e o de Bennett apenas 7.

A oferta é feita porque a decisão é mais difícil para Bennett, que teme os efeitos de se juntar a um Governo que possa ser visto como “de esquerda”, embora junte, na verdade, partidos de esquerda, centristas e de direita, incluindo um que saiu de uma cisão do Likud, do antigo ministro Gideon Saar, chamado “Likud sem Bibi”, como é conhecido Netanyahu em Israel.

Por outro lado, os partidos que potencialmente apoiam a coligação anti-Netanyahu optaram por expressar apoio a Lapid temendo que Bennett pudesse receber o mandato e tentasse formar um Governo à direita. Bennett indicou-se a si próprio, mas tem repetido que “chegou a altura de um governo de unidade”.

Os próximos dias serão o teste para Bennett, que para já apelou também aos aliados de Netanyahu para se juntarem num governo mais alargado. Neste momento, declarou, citado pelo jornal Times of Israel, “há duas hipóteses: novas eleições, as quintas, “que irão simplesmente destruir o país”, ou a formação “de um Governo de emergência alargado, que tire a roda da lama”.

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