Presidente da Caritas de Beja critica os sindicatos por não defenderem os imigrantes

Se houvesse testagem dos focos da covid-19 detectados em Odemira seriam observados na população imigrante em Beja, Ferreira do Alentejo, em Cuba, em Alvito.

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LUSA/MÁRIO CRUZ

Em declarações prestadas na passada segunda-feira à Agência Ecclesia, o presidente da Caritas Diocesana de Beja, Isaurindo Oliveira, critica o “alarido” que está criado sobre a imposição da cerca sanitária às freguesias de S. Teotónio e Longueira/Almograve, frisando que os problemas que afectam as comunidades migrantes “começam com a sua chegada à região”. Aos quais poucos têm dado atenção, entre eles os sindicatos, diz.

Este não é um problema novo. Arrasta-se, mais intensamente, ao longo da última década e não se cinge a Odemira. O presidente da Caritas de Beja explicou que os problemas com os imigrantes vindos da Ásia e da África subsariana “começam com a sua chegada ao Alentejo”, quando se estabelece a ligação entre a empresa agrícola e os trabalhadores, que é muitas vezes “feita através do intermediário”. Os vínculos contratuais revelam-se “muitas vezes precários” e baseados em “duvidosa” legalidade.

Mas apesar de se estar a assistir à exploração dos imigrantes, “não ouço sindicato nenhum falar das condições de trabalho” dos que chegam ao Alentejo para suprir a carência de mão-de-obra nas culturas intensivas, critica Isaurindo de Oliveira.

O dirigente da Caritas diz estar “convencido que se houvesse testagem, os problemas [detectados] em Odemira estariam também em Beja, Ferreira, em Cuba, em Alvito”, frisando que a vacinação não é feita porque esta é uma faixa etária que, por estar na “casa dos 20, 30 anos, não é prioritária”.

 A Caritas Diocesana de Beja tem um Centro Local de Apoio à Integração dos Migrantes (CLAIM), que faz um primeiro atendimento para ajudar a “resolver problemas administrativos, entrevistas com o SEF, manifestações de interesse, questões de residência, quando ficam sem vencimento ou este é extremamente reduzido”, enumera Isaurindo de Oliveira.  

Neste acolhimento, são detectados outros problemas, “que não fazem parte da missão do CLAIM”, observa o presidente da Caritas de Beja, referindo as questões relacionadas com a saúde e habitação, que frequentemente vão dar origem a comportamentos “mafiosos” e à criação de redes envolvidas no aluguer de casas, muitas delas insalubres “onde cabem duas ou três pessoas mas, muitas vezes, estão 30, 40” residentes.

Estes imigrantes, destaca Isaurindo de Oliveira, são “pessoas essenciais” para a economia local, porque sem eles a maior parte das produções não seria possível. E termina questionando a a forma como a sociedade tem permitido que estes sejam vistos como “cidadãos de segunda classe”, mas que “pagam impostos”.

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