Meningite: adiar a vacinação é motivo de alarme?

A meningite é uma doença grave, que evolui rapidamente e que pode ser mortal, se não diagnosticada e tratada a tempo.. Neste sábado assinala-se o Dia Mundial da Meningite.

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Reuters/ATHIT PERAWONGMETHA

A meningite é uma doença grave, que evolui rapidamente e que pode ser mortal, se não diagnosticada e tratada a tempo.

No passado ocorreram muitas mortes por meningite bacteriana, a forma mais severa da doença. Muitas pessoas ficaram ainda com sequelas da infecção tais como surdez, cegueira, epilepsia ou amputação de membros. E actualmente? Que atitude temos perante a vacinação?

Com a pandemia do SARS-Cov2 houve uma redução franca da procura de cuidados de saúde, de realização de consultas de rotina e de administração de vacinas, mesmo das vacinas gratuitas e universais. Esta situação é alarmante porque a redução de taxas de vacinação, põe em risco toda a população para o reaparecimento de doenças já previamente eliminadas, como aconteceu com o sarampo e aumento do número de casos de outras doenças graves, como a meningite. A perda da imunidade de grupo, coloca ainda em risco pessoas mais desprotegidas, como crianças pequenas que não podem ser vacinadas, ou pessoas com sistema imunitário deprimido (exemplo doentes oncológicos, pós-transplantes).

Esta diminuição abrupta da cobertura vacinal foi ainda mais flagrante nos adolescentes, que costumam procurar cuidados de saúde de forma mais espaçada e intermitente. Em todos os contactos com serviços de saúde deve ser promovida a vacinação, como um direito da criança e do adolescente, que representam um contributo essencial para a saúde pública. Recorda-se que os serviços de saúde adoptaram medidas de protecção na pandemia para tornar seguras as deslocações a consultas.

Importa deixar claro que a forma mais eficaz de prevenir a meningite é através da vacinação, quer através da protecção de cada indivíduo, quer pela conquista da imunidade de grupo. As vacinas permitem ainda reduzir o estado de portador saudável: pessoas que na sua garganta têm o micróbio sem lhes provocar doença mas que podem transmiti-lo a outra pessoa que adoece. As vacinas, juntamente com a melhoria dos cuidados de saúde permitiram reduzir as mortes a 10% e as complicações a 20%, números ainda assim expressivos e preocupantes.

As bactérias que causam a meningite bacteriana são diferentes, dependendo da faixa etária da criança; enquanto o recém-nascido pode ter infecção provocada por microrganismos oriundos da mãe, nas restantes crianças geralmente predominam agentes da comunidade, transmitidos por secreções respiratórias, como o meningococo, o pneumococo e o Haemophilus influenzae.

Ao longo dos anos foram surgindo vacinas que protegem contra bactérias causadoras desta doença, tendo sido progressivamente acrescentadas ao Programa Nacional de Vacinação (PNV), actualmente com 55 anos:

  • Em 2000, foi introduzida a vacina contra o Haemophilus influenzae tipo B, o que levou a uma redução drástica do número de casos de meningite provocada por este micróbio;
  • Em 2006, foi acrescentada a vacina contra o meningococo tipo C, o que conduziu a uma diminuição franca de casos de meningite por esta bactéria em Portugal e noutros países em que a vacina passou a ser oferecida à população pediátrica;
  • Em 2015, foi incluída a vacina contra o pneumococo, uma bactéria que causa otites, pneumonias e também meningites e cujos estudos têm demonstrado uma redução global de casos associados a este agente;
  • Em 2020, em plena pandemia, passou a ser administrada de forma universal a todas as crianças nascidas depois de Janeiro de 2019, a vacina contra o meningococo tipo B, a forma mais frequente de meningite em Portugal e na Europa. Esta mudança é ainda recente mas promissora, à semelhança do que tem acontecido nos Estados Unidos da América ou noutros países da Europa.

Infelizmente a cobertura vacinal para a meningite do PNV inclui apenas as crianças mais pequenas e desta forma, há muitas crianças que, por motivos económicos, por desconhecimento, por convicção ou por abandono da procura de cuidados de saúde acabam por não estar protegidas contra as diversas formas de meningite. E a este contexto, soma-se a insegurança de deslocação às unidades de saúde perante a qual volto a reforçar: não é motivo para adiar a vacinação.

A covid-19 tem-se revelado, até agora, uma doença ligeira em crianças e adolescentes, ao contrário da meningite e de outras doenças preveníveis pela vacinação, que podem deixar sequelas graves ou levar mesmo à morte, pelo que informe-se com profissionais de saúde e não deixe de vacinar os seus filhos.

Por tudo isto, sim. Adiar a vacinação é motivo de alarme.

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