As Pinky Gloves vieram para disfarçar a menstruação, mas a Internet barrou-as à entrada

As Pinky Gloves prometiam solucionar um problema, até então, inquietante: eliminar os produtos menstruais sem deixar rasto, e de forma mais higiénica. A ideia gerou polémica nas redes sociais e as reacções obrigaram a startup a dar um passo atrás.

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Dois homens criaram luvas cor-de-rosa para resolver um problema que viam sem solução: trocar discretamente tampões e pensos higiénicos. As Pinky Gloves foram recebidas com incredulidade e indignação nas redes sociais e acabaram por ser retiradas do mercado.

“Estou algures entre rir, chorar ou vomitar. Este produto não só é desnecessário e questionável em termos ambientais, como é um passo atrás na desestigmatização das pessoas que menstruam”, afirmou a autora do livro O período é político: um manifesto contra o tabu menstrual, Franka Frei. Jennifer Gunter, ginecologista e colunista do New York Times, escreveu: “Todos os dias há um novo produto inútil para a vagina.”

Um pacote de 48 luvas, que se transformam em pequenos sacos descartáveis, custaria 11,98 euros. Representaria mais um custo para quem menstrua, além dos quase 3000 euros que podem chegar a ser investidos, ao longo de toda a vida, em produtos de higiene íntima. Actualmente, 500 milhões de pessoas no mundo enfrentam “pobreza menstrual”, ou escassez de produtos de higiene íntima.

“O que é que as pessoas que menstruam querem? Produtos menstruais acessíveis e gratuitos. O que é que elas recebem? Luvas cor-de-rosa para que os homens cisgénero [cujo género é o mesmo que o designado no nascimento] não tenham de ver nada vermelho na casa de banho”, foi uma das reacções publicadas no Twitter.

Também a Clue, uma aplicação para acompanhar o ciclo menstrual, tomou uma posição: “Pinky Gloves é uma startup alemã gerida por homens que acham que o sangue menstrual é sujo e que são necessárias luvas quando se trocam tampões ou pensos. Por onde começar? Não há nada pouco higiénico no sangue menstrual. Isto é period shaming [em português, estigmatização da menstruação].

Eugen Raimkulow e Andre Ritterswürden concordam que ainda têm muito a aprender, e, por isso, retiraram o produto do mercado e desculparam-se publicamente na última quarta-feira, 14 de Abril. “Em nenhuma altura quisemos descredibilizar alguém ou tornar tabu um processo que é natural” dizem, em comunicado, no seu site. “As pessoas comentem erros – temos de aprender com eles e devemos ter a oportunidade de os corrigir.”

Os dois amigos afirmam, ainda, enfrentar uma “uma violenta onda de ódio, bullying e ameaças de violência”, incluindo “ameaças de morte”. “Levamos a crítica a sério e compreendemo-la. Por favor, parem de nos atacar e de nos ameaçar, às nossas famílias e apoiantes”, escrevem.

As Pinky Gloves foram apresentadas a investidores no programa The Lions’ Den, a versão alemã do programa de entretenimento Lago dos Tubarões, também transmitida em Portugal. Os dois empreendedores argumentaram que a partilha de casa com mulheres os alertou para algo “sem solução” e “despertou o seu espírito criativo”. “Após algum tempo, o cheiro torna-se desagradável”, disse Eugen, sobre os produtos de higiene íntima no lixo da casa de banho.

Ralf Dümmel, um dos empresários no programa, decidiu investir 30 mil euros no produto. O investidor também já pediu desculpa por uma “má comunicação” do produto e apelou ao fim da onda de ódio dirigida aos dois criadores.

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