Pais norte-americanos começam a perguntar quando é que os seus filhos serão vacinados contra a covid-19

Se muitos estão reticentes quanto à vacina aplicada em adultos, mais ainda são os que questionam quando se pensa nas crianças. Mas as farmacêuticas prepararam-se para ter vacinas em 2022.

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Os filhos de Tristen Sweeten têm 5, 8 e 10 anos Reuters/HANDOUT

Tristen Sweeten, uma enfermeira de 34 anos de Utah, espera que os seus três filhos recebam a vacina da Moderna contra a covid-19, através do ensaio clínico pediátrico. “Quanto mais cedo melhor”, diz, defendendo por um lado a segurança dos miúdos e, por outro, o contribuir para o fim da pandemia. Não é a única. Angie Ankoma, mãe de quatro filhos, de 45 anos, que trabalha na área da filantropia em Rhode Island, acredita que os testes devem incluir diversas populações e ela participou num deles, por isso, voluntariar os seus filhos para os testes da Moderna não foi uma decisão mais difícil.

Sweeten e Ankoma estão entre os milhares de pais norte-americanos que se ofereceram para que os seus filhos participem em novos testes conduzidos pela Pfizer, com a BioNTech, e pela Moderna, as primeiras empresas a avançar no desenvolvimento de uma vacina segura para os 48 milhões de crianças menores de 12 anos dos EUA.

As autoridades de saúde dizem que as vacinas são cruciais para acabar com a pandemia. E se muitos estão reticentes quanto à vacina aplicada em adultos, mais ainda são os que questionam quando se pensa nas crianças. Os pais podem questionar-se sobre os riscos versus benefícios, dadas as muitas interrogações sobre o impacto a longo prazo da vacina nas crianças; assim como podem desvalorizar a sua toma uma vez que os mais novos são os que menos foram atingidos pela doença.

Para amenizar essas preocupações, alguns cientistas aconselham que a Food and Drug Administration (FDA), a entidade responsável pela aprovação dos medicamentos nos EUA, retarde o processo das vacinas pediátricas contra a covid-19. A porta-voz da Pfizer, Jerica Pitts, avança que é ainda prematuro especular sobre a aprovação, mas a empresa planeia trabalhar com instituições de saúde pública para promover a importância das vacinas.

Por seu lado, a investigadora da Moderna, Jacqueline Miller, refere que a empresa conversou com a FDA sobre a melhor maneira de disponibilizar a vacina para crianças e acrescenta que a farmacêutica espera disponibilizá-la através de uma autorização de uso de emergência, a mesma que a levou aos adultos norte-americanos em tempo recorde. O objectivo dessa vacina é contribuir para que as crianças regressem à escola e à vida normal, argumenta.

O marido de Tristen Sweeten, Scott, é investigador clínico numa empresa que trabalhou nos testes das vacinas para adultos da Johnson & Johnson e da AstraZeneca, por isso, o casal, cujos filhos têm 5, 8 e 10 anos, está confortável com a forma como aqueles foram desenvolvidos, diz a enfermeira. “Sentimos que as vacinas são muito seguras”, refere.

Angie Ankoma falou com o pediatra dos filhos e esclareceu as suas dúvidas sobre os efeitos desconhecidos a longo prazo, mas acabou por decidir que valia a pena imunizar os quatro filhos, com idades entre 7 e 16 anos. “Foi mais fácil decidir tomar eu a vacina do que decidir o que fazer com os meus filhos porque, comigo, trata-se do meu próprio corpo”, argumenta.

Confiança que a vacina é segura

Os investigadores que estão a levar a cabo os testes pediátricos para a Moderna e a Pfizer, em crianças a partir dos 6 meses, sentem-se confiantes de que as vacinas serão tão seguras e eficazes para os mais novos quanto foram para os adultos.

A vacina da Pfizer, já disponível para pessoas com 16 anos ou mais na maioria dos estados dos EUA, funcionou bem em crianças de 12 a 15 anos e pode receber autorização da FDA para essa faixa etária já no próximo mês. Quer a Moderna quer a Pfizer dizem que as vacinas podem estar disponíveis para crianças ainda mais novas no início de 2022.

Uma sondagem Axios/ Ipsos de 2 a 5 de Abril revela que apenas 52% dos pais dos EUA afirmam que provavelmente vacinarão os seus filhos assim que se tornassem elegíveis.

As crianças com menos de 12 anos têm até agora um risco relativamente baixo de contrair o coronavírus. Ainda assim, cerca de 284 crianças morreram de covid-19 desde Maio passado, cerca de 0,06% de todas as mortes provocadas pela doença, de acordo com dados da Academia Americana de Pediatria de cerca de 43 estados. Nesse período, ocorreram 14.500 internamentos de crianças em 24 estados, cerca de 2% do total.

Sean O'Leary, professor de pediatria da Universidade do Colorado, defende que a vacinação ajudará as crianças a evitar hospitalizações, uma reacção inflamatória rara ou sintomas duradouros conhecidos como “covid longo”. E justifica: “Certamente não é correcto dizer que a vacina é benigna em crianças. Qualquer pessoa que trabalhe num hospital pediátrico pode dizer de quantas crianças doentes cuidamos.”

Actualmente, as crianças já recebem vacinas para doenças que têm níveis semelhantes ou menores de mortalidade como hepatite A, varicela, rubéola e rotavírus. As autoridades de saúde alertam que, se não vacinadas, as crianças podem ser transmissoras da infecção, permitindo que as variantes do vírus que podem escapar das vacinas circulem e cresçam.

O facto de essas vacinas terem sido amplamente utilizadas em adultos antes de serem disponibilizadas para crianças deve tranquilizar os pais, informa Emmanuel Walter, chefe do ensaio de vacinas pediátricas da Pfizer na Duke University.

Mais de 63 milhões de americanos receberam a vacina Pfizer e cerca de 55 milhões a vacina Moderna.

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