Portugal pode atingir 120 novos casos por 100 mil habitantes em dois meses — R(t) sobe há dois meses

Direcção-Geral da Saúde e Instituto Ricardo Jorge apontam “tendência ligeiramente crescente” de novos casos a nível nacional. Mas no Algarve, que há uma semana aproximava Portugal da linha vermelha do calendário do desconfinamento, a transmissão está a desacelerar.

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Ao ritmo actual, Portugal pode atingir em dois meses os 120 novos casos por 100 mil habitantes Paulo Pimenta (arquivo)

O Algarve, que há uma semana era a maior fonte de preocupação das autoridades de saúde na gestão do confinamento, parece estar a desacelerar o ritmo de transmissão do novo coronavírus. O índice de transmissibilidade R(t) do Sars-CoV-2 na região que, há uma semana era de 1,19, baixou, entretanto, para 1,05, “sugerindo o desacelerar do aumento da incidência na região”, conforme se lê no relatório de monitorização das linhas vermelhas para o desconfinamento, divulgado este sábado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) e pelo Instituto Nacional dr. Ricardo Jorge (Insa).

Em Portugal o R (t) é superior a 1, tanto a nível nacional (1,02) como nas várias regiões, com excepção do Alentejo (0,99), e tem vindo paulatinamente a aumentar desde o passado dia 10 de Fevereiro. Está por isso acima de uma das linhas vermelhas definida pelo Governo para nortear o calendário do desconfinamento, que, depois da abertura das escolas do 2.º e 3.º ciclos, das esplanadas e das lojas até 200 metros quadrados com porta para a rua, entre outros serviços, fixou o dia 19 de Abril como data de reabertura do ensino secundário e superior, cinemas, restaurantes e pastelarias com serviço no interior, entre outros.

Mas os próprios especialistas têm vindo a alertar para a impossibilidade de manter o R(t) sempre abaixo de 1, porque, como chegou a explicar ao PÚBLICO o matemático Óscar Felgueiras, um dos especialistas a quem o Governo recorreu para se aconselhar sobre o plano de desconfinamento, “a certa altura vamos ter poucos casos e basta uma pequena variação para termos acima de 1”.

De resto, a incidência de infecção por Sars-CoV-2 nos últimos 14 dias, entre 24 de Março e 7 de Abril, foi de 66 novos casos por cada 100 mil habitantes (se exceptuarmos as ilhas, o valor desce para os 63 casos/100 mil habitantes), com uma “tendência ligeiramente crescente a nível nacional”. A DGS e o Insa estimam que “o tempo de duplicação da incidência seja de 86 dias pelo que, à taxa actual, serão necessários 2 ou mais meses para se atingirem 120 casos/100 mil habitantes”, que é outra das linhas vermelhas traçadas pelo Governo.

Quanto ao número diário de casos de covid-19 internados em unidades de cuidados intensivos dos hospitais mantém-se decrescente: no dia 7 de Abril, era de 122 e baixou este sábado para os 119 doentes, segundo o último boletim diário da DGS, que aponta um total decrescente de 466 internados por covid-19 nos hospitais, entre enfermarias e cuidados intensivos. Quanto a estes últimos, o país continua abaixo do valor crítico definido pelo Governo (245 camas ocupadas), sendo que o grupo etário com maior número de casos covid-19 internados em intensivos foi o dos que têm entre 70 e 79 anos de idade. 

A proporção de testes positivos no total de testes de rastreio realizados também continua abaixo da proporção de 4%. Era de 2% a 8 de Abril, baixou, entretanto, para os 1,5%, sendo que o total de testes realizados nos últimos sete dias foi de 238.821.

Quanto ao atraso nas notificações, DGS e Insa garantem que, nos últimos sete dias, “todos os casos de infecção foram isolados em menos de 24 horas após a notificação”. Do mesmo modo, “foram rastreados e isolados 950% dos seus contactos”.

Sem surpresas, a variante do Reino Unido surge como responsável por 82,9% dos casos de infecção, com as variantes da África do Sul e do Brasil a serem responsáveis por 2,5% e 0,4% dos restantes casos, respectivamente.

Apesar de considerarem que estes indicadores sugerem “uma situação epidemiológica com transmissão comunitária de moderada intensidade”, com “reduzida pressão” nos serviços de saúde, DGS e Insa assinalam o “ligeiro aumento da transmissão nas faixas etárias mais jovens”, embora com “menor risco de evolução desfavorável da doença”. E deixam um alerta final para o facto de o recente período pascal e o início do desconfinamento poderem ter “reflexos visíveis nas próximas semanas”.

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