Pandemia agravou as desigualdades de género, alerta Fórum Económico Mundial

O relatório “Global Gender Gap Report” evidencia um aprofundamento das disparidades, com consequências para os próximos anos. Portugal surge no 22.º lugar no ranking.

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Rui Gaudencio

O mais recente relatório do Fórum Económico Mundial (FEM) sobre igualdade de género revela que a pandemia veio agravar as diferenças entre homens e mulheres, a nível global, saindo as mulheres mais penalizadas. Foram despedidas mais mulheres do que homens, o número de mulheres contratadas para posições de liderança sofreu uma descida significativa, e houve um aumento do esforço para equilibrar a vida profissional e pessoal por parte das mulheres, enumera o “Global Gender Gap Report”, divulgado no último dia de Março.

O futuro parece alarmante uma vez que os dados apontam para uma fraca paridade de género e uma maior segregação ao nível do emprego nos próximos anos, sendo também provável observar-se menores probabilidades de regresso ao trabalho por parte das mulheres e, por consequência, quebra nos seus rendimentos. Por isso, o FEM recomenda que se ponham em prática medidas de recuperação com foco no género. 

No estudo, que abrange 156 países, Portugal surge no 22.º lugar do ranking, imediatamente antes do Reino Unido e depois da Áustria. Numa escala de 0 a 1 que avalia a paridade de género em cada país, Portugal obteve uma pontuação de 0,775. A Islândia, que merece o primeiro lugar da lista, recebeu uma pontuação de 0,892, e o Afeganistão, que figura em último, de 0,444.

Portugal apresentou os seus melhores valores na área do sucesso escolar, com 0,992, e da saúde e sobrevivência com 0,972. No que respeita à participação e oportunidade económica, o sucesso é menor tendo obtido 0,746. Mas o pior resultado foi ao nível do empoderamento político em que apresentou um fraco 0,390. Também a nível global a tendência tem sido de melhores resultados na saúde e educação, e piores na economia e política. 

No relatório, a Europa permanece, ainda assim, a região com melhor desempenho. Dos 20 países considerados, 19 alcançaram uma paridade de género de 70%. A este ritmo o continente europeu poderá alcançar total paridade dentro de, aproximadamente, 52 anos, ao contrário dos cerca de 135 anos de média global. O relatório, feito pelo 15.º ano consecutivo, estima que o mundo precisa de 267,6 anos para esbater as desigualdades económicas entre os géneros e, na política, serão precisos 145,5 anos. Nesta área, especifica o FEM, as mulheres detêm apenas 26,1% de todos os assentos parlamentares e 22,6% dos cargos ministeriais.

Ao Washington Post, Jocelyn Frye, investigadora do Center for American Progress, sublinha que os países que estão melhor posicionados no ranking, como a Islândia, Finlândia, Noruega e Nova Zelândia, têm políticas que promovem a participação política e económica das mulheres.

“Esperamos que este relatório sirva como um apelo à acção para que os líderes incluam a paridade de género como um objectivo central das nossas políticas e práticas para gerir a recuperação pós-pandemia, para o benefício das nossas economias e sociedades”, escreveu Saadia Zahidi, a directora-geral do FEM, no estudo.

Este relatório vem juntar-se a outros que vêm confirmar as dificuldades acrescidas que a pandemia trouxe às mulheres, e que demonstram, por exemplo, a desigualdade ao nível da partilha das tarefas domésticas ou o aumento das situações de violência doméstica.


Texto editado por Bárbara Wong

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