Líbano pode afundar como o Titanic, alerta o presidente do Parlamento

“O país inteiro está em perigo”, diz Nabih Berri, insistindo que a forma de implementar as reformas necessárias para a recuperação do país é através da formação de um novo governo.

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A central eléctrica de Zahrani AZIZ TAHER/Reuters

O presidente do Parlamento do Líbano, Nabih Berri afirmou esta segunda-feira que o país pode afundar como o Titanic se não formar um governo para aprovar os fundos de emergência necessários para providenciar energia durante os próximos dois meses.

“O país inteiro está em perigo, o país inteiro é o Titanic. É tempo de acordar, porque no final, se o navio afundar, não vai restar ninguém”, disse Berri, enquanto abria a sessão parlamentar, citado pela Reuters.

O alerto de Berri foi feito no seguimento da declaração do Ministro da Energia, que revelou não haver fundos para além do fim do mês para a produção de electricidade.

Entretanto, o Parlamento libanês já aprovou um fundo de emergência no valor de cerca de 170 milhões de euros para pagar o combustível necessário à produção de electricidade. A ocorrência de apagões durante várias horas por dia, que prejudicam o comércio e a população, tem sido cada vez mais comum.

O problema foi reforçado com o encerramento de actividades de uma das principais centrais eléctricas do país por falta de combustível, também esta segunda-feira, segundo informou a companhia de electricidade de Zahrani à agência NNA, que também referiu um atraso na entrega de combustível devido à obstrução do canal do Suez.

“Qualquer paralisação de uma das principais centrais prejudica a geração de energia”, disse Cesar Abi Khalil, deputado e antigo Ministro da Energia, à Reuters, explicando que “os libaneses compensam com geradores que funcionam a diesel, que é mais dispendioso em 30% do que o combustível que é comprado pela empresa de electricidade”.

Colapsos vários

A crise energética soma-se à crise financeira e política que atravessa o país desde 2019, quando os libaneses começaram a sair à rua em protestos contra a má governação e corrupção, contra o aumento do desemprego e contra a pobreza. Seguiram-se ondas de violência e de repressão policial, que não ajudaram a resolver a situação.

Com a explosão em Beirute, que fez duas centenas de mortes e devastou a cidade, em Agosto do ano passado, e com a pandemia causada pelo coronavírus, as dificuldades intensificaram-se.

Mas o colapso da libra libanesa é um dos sinais mais alarmantes: a meados do mês, atingiu o seu valor mais baixo, 15 mil libras para um dólar. E as consequências estão à vista. Além da inflação e das dívidas acumuladas, mais de metade da população encontra-se em situação de pobreza, e mais 23% encontra-se em pobreza extrema, segundo dados avançados pela ONU.

Em Novembro, o Programa Alimentar Mundial anunciou o aumento de 423% dos preços dos bens alimentares desde Outubro de 2019, o maior salto desde que o programa começou a monitorizar o país, em 2007.

Segundo o New York Times, o mercado é o local onde as dificuldades mais se têm feito sentir. Ziad Hassan, gerente de uma mercearia em Beirute, contou ao jornal a dificuldade em actualizar os preços dos produtos que, afirma, têm sido ajustados três vezes por dia. 

Para ​Nabhi Berri, presidente da Assembleia, a formação de um governo capaz de implementar as reformas necessárias para a resolução da crise é o requisito para o país chegar a bom porto. Mas, desde o início dos protestos, já dois governos caíram, e o primeiro-ministro designado, Saad al-Hariri, e o Presidente Michel Aoun estão há quatro meses num impasse para nomear todos os ministros.

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