Os museus à beira do abismo

É uma situação de falência que alguns museus nacionais parecem viver quando não têm recursos para assegurar as suas funções básicas.

Não é possível ficar impassível perante o retrato que em dois dias o PÚBLICO apresentou sobre o estado dos museus nacionais, instituições insubstituíveis na construção da identidade de um povo, enquanto locais de preservação e discussão da memória, de descoberta de cultura, de usufruto de um percurso comum onde se condensa o melhor de nós.

A perda dos melhores recursos humanos, os guardiões dos tesouros, e a degradação das instalações que deveriam ser a garantia de preservação desse património são um sério alerta para o estado a que conduziu o permanente subfinanciamento e abandono destas instituições. Estamos em “estado de catástrofe anunciada”, escreve a historiadora de arte Raquel Henriques da Silva, em carta aberta ao primeiro-ministro, sublinhando que os museus nacionais “estão na iminência de serem palco de desastres graves”.

Ninguém quer chegar aí, a essa sensação de perda irreparável que é ver destruído por desleixo e incúria o que não pode nunca ser substituído. As chamas do Museu Nacional do Brasil estão ainda bem presentes, para nos lembrar o que é sofrer isso. Mas, quando vemos o director do Museu Nacional de Arte Antiga afirmar que o seu espólio está verdadeiramente em risco, sabemos que estamos na borda desse abismo.

É urgente que o Governo saia do seu torpor. Não somos um país rico, a pandemia piorou tudo, mas não consta que o Estado esteja falido. Mas é uma situação de falência que alguns museus nacionais parecem viver quando não têm recursos para assegurar as funções básicas de preservação e segurança do património à sua guarda. Quando um museu deixa de poder proteger a sua colecção, deixa de ser museu.

Mas já não chega o Governo, nem nunca chegou. Continuaremos a repetir os ciclos de estagnação e a perpetuar o nosso atraso enquanto não incrustarmos nas nossas ambições e consequentes indignações colectivas que a cultura e o conhecimento são chaves essenciais para deslindarmos este nó. Hoje, como país, devemos alegrar-nos por ver os professores serem vacinados, mesmo que os atrasos impeçam muitos outros de receberem essa segurança, porque sabemos que estamos a investir no sucesso de um sector essencial para o nosso futuro. Amanhã deveríamos, pelas mesmas razões, cuidar da saúde, em risco de colapso, dos nossos museus.

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