Mais de um terço dos convocados por SMS para vacinação contra covid-19 não respondeu

Professores e funcionários do pré-escolar e ensino básico foram convocados de madrugada.

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Rui Gaudencio

Mais de um terço das mensagens escritas por telemóvel (SMS) a convocar para a vacinação contra a covid-19 os idosos a partir dos 80 anos e as pessoas entre os 50 e os 79 anos com doenças de maior risco ficaram sem resposta. Até esta quarta-feira e desde que arrancou a vacinação destes dois grupos prioritários, mais de 37 % das mensagens enviadas por SMS para agendar a vacinação não tiveram resposta, revela a Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS). Foram 73.445 de um total 188.869 SMS.

O problema da falta de resposta às mensagens enviadas por telemóvel mantém-se, ainda que a percentagem das que fica sem resposta seja agora mais reduzida do que no início do processo, porque estão a ser convocadas pessoas cada vez mais jovens. No início, a percentagem era maior porque muitos dos mais idosos não conseguem responder às mensagens, o que tem criado grandes constrangimentos e dificuldades acrescidas nos centros de saúde.

A SPMS tem enfatizado que as mensagens escritas por telemóvel constituem apenas o meio preferencial de contacto e que, quando não há resposta, os centros de saúde podem convocar os utentes para vacinação através de chamada telefónica ou de carta. Mas a necessidade de telefonar para muitos utentes está a deixar os profissionais de saúde – médicos, enfermeiros e administrativos – à beira de um ataque de nervos, porque se perde muito do tempo neste processo.

Desde o início da vacinação destes dois grupos prioritários que os municípios e as juntas de freguesia estão a dar uma ajuda, nalguns casos disponibilizando mesmo equipas que vão a casa das pessoas quando não há contactos ou estes estão desactualizados.

A Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) foi mais longe e, para libertar os centros de saúde desta tarefa morosa, forneceu à Câmara de Cascais as listagens de mais de quatro mil idosos a partir dos 80 anos que não tinha sido possível contactar. “Fizemos um acordo para este fim com a ARSLVT para um projecto-piloto que, tanto quanto sei é único”, diz o presidente do município, Carlos Carreiras. E é possível transferir este tipo de dados? “Tivemos que cumprir um conjunto de procedimentos de garantia de confidencialidade. As pessoas [que têm acesso aos dados] até assinaram um termo de responsabilidade”, assegura.

Para contornar estes problemas que surgiram no terreno, o Presidente da República abriu a porta, na proposta de decreto do estado de emergência, à possibilidade de o Governo estender a autorização do “tratamento de dados pessoais, na medida do estritamente indispensável, para a concretização de contactos para vacinação, entre os serviços de saúde e os serviços municipais ou das freguesias”.

Os responsáveis das associações de medicina geral e familiar e das Unidades de Saúde Familiar, Nuno Jacinto e Diogo Urjais, e o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, têm chamado a atenção para este problema e apelado à actualização das bases de dados, nomeadamente o Registo Nacional do Utente. O presidente da Câmara de Cascais diz que as listas estão de tal forma desactualizadas que até incluem pessoas mortas, nomeadamente um homem “que morreu há 20 anos”.

Esta quinta-feira, os docentes e não docentes do pré-escolar e do ensino básico foram convocados para a vacinação contra a covid-19 que se vai realizar no fim-de-semana. As mensagens por SMS “chegaram de madrugada, a partir das 2h”, relata Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas. “Foi um sonho que se concretizou”, enfatiza o professor, que está convencido de que “o grosso” dos convocados terá acedido a ser vacinado com a vacina da AstraZeneca. “Na semana passada [com a suspensão temporária desta vacina], as pessoas ficaram um bocado desconfiadas, mas, à medida que a OMS [Organização Mundial de Saúde], a Agência Europeia de Medicamentos e a Direcção-Geral da Saúde deram feedback positivo, a desconfiança diminuiu”. 

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