Maior accionista da Groundforce diz que “sobrevivência imediata” depende do apoio de 30 milhões

Se a Groundforce está como está, “o culpado não sou eu, não é a gestão privada”, disse aos deputados Alfredo Casimiro, afirmando que a culpa é da pandemia e da “falta dos apoios prometidos pelo Estado”.

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Alfredo Casimiro numa foto de 2012, ano em que entrou no capital da Groundforce LM miguel Manso

Depois dos trabalhadores, foi a vez do maior accionista da Groundforce, Alfredo Casimiro (via Pasogal), ser ouvido durante a tarde desta quinta-feira pelos deputados da comissão de economia. Na sua intervenção inicial, o empresário começou por refutar o que afirmou serem mentiras em circulação sobre a sua pessoa.

Uma delas, disse, foi a de que não estava em condições de apresentar as suas acções como garantia de um adiantamento a efectuar pela TAP. “O bem a dar em penhor, à data em que este era para ser constituído, estaria nas condições exigidas pelo Governo e pela TAP”, afirmou.

Outra afirmação que disse circular e que classificou como mentira foi a de que não teria pago “um cêntimo” pela posição de 50,1% do capital da SPdH/Groundforce que comprou à TAP em 2012. “Paguei o preço definido, no prazo estabelecido”, disse, referindo que o valor foi de três milhões de euros, “acrescidos de 20% do resultado bruto dos anos de 2012 e 2013”. “É preciso não esquecer que a empresa tinha acumulado prejuízos de 152 milhões”, frisou.

Prejuízo de 25 milhões de euros

Se a Groundforce está como está, “o culpado não sou eu, não é a gestão privada”, disse, afirmando que a culpa é da pandemia de covid-19 e da “falta dos apoios prometidos pelo Estado”. Segundo os dados apresentados pelo empresário, a empresa teve um prejuízo de 25 milhões de euros em 2020 (recorreu ao layoff logo em Abril), depois do resultado líquido de 6,1 milhões que a empresa registou no ano anterior. Já a facturação caiu 59%, dos 153 milhões para 63 milhões de euros.

De acordo com Alfredo Casimiro, os primeiros passos para um pedido de apoio foram dados logo em Março, junto do regulador da aviação, a ANAC. Mas, depois de vários outros passos, a ajuda “nunca chegou até hoje”. Falando numa “ruptura total de tesouraria” e que levou à falta do pagamento integral dos salários dos cerca de 2400 trabalhadores, sublinhou, na sua declaração escrita, que a Groundforce “necessita da prometida ajuda do Estado enquadrada nas linhas covid, no valor de 30 milhões de euros, para assegurar a sua sobrevivência imediata”. O PÚBLICO questionou o Ministério das Finanças sobre o ponto de situação do empréstimo, que envolve um empréstimo da CGD com garantias estatais, aguardando a resposta do Governo.

Questionado pelo deputado do CDS, João Gonçalves Pereira, o empresário, que falou num processo de “nacionalização encapotada”, acabou por dizer que, por ser uma grande empresa, ficou numa espécie de “vazio” dos apoios públicos, mais orientados para as empresas de menor dimensão. Na sequência da proposta feita pelo Grupo TAP, que consistia num aumento de capital da Groundforce em perto de sete milhões feito exclusivamente por si, Alfredo Casimiro adiantou que essa estratégia da transportadora aérea faria com que ficasse com apenas 3% da empresa. Em resposta, o empresário afirmou que aceitava um aumento de capital, mas no qual pudesse participar. Hoje, clarificou que para que tal suceda é preciso ter uma garantia por parte da TAP (principal cliente da empresa) que o contrato de prestação de serviços será renovado pelo menos por mais dois ciclos de cinco anos (o actual termina no ano que vem). Durante a audição, o deputado do PCP, Bruno Dias, destacou a “conflitualidade latente” entre os dois accionistas, bem como entre Alfredo Casimiro e o ministro da tutela, Pedro Nuno Santos.

Quanto aos sete milhões que foram acordados com a TAP, que irá pagar esse valor por troca de equipamentos da empresa de assistência em terra, Alfredo Casimiro adiantou que o montante dá para se aguentar “no máximo dois meses”. Já a TAP referiu em comunicado que o valor é o suficiente para “pagar os salários de Fevereiro de 2021 e Março de 2021, bem como os correspondentes impostos de Março de 2021”, mas destacou que a operação foi feita pela TAP, SA (transportadora aérea), enquanto cliente, prevendo-se que o acordo fique fechado esta sexta-feira. “Este acordo não tem, pois, qualquer relação directa com as negociações que têm vindo a decorrer entre a TAP, SGPS – accionista minoritário da SPdH (Groundforce) – e a Pasogal”.

Miguel Frasquilho, presidente do conselho de administração da TAP, foi também ouvido esta tarde, após Alfredo Casimiro, fez questão de sublinhar que a solução para os salários em atraso “não é uma solução estrutural” para os problemas da empresa. “É preciso continuar a trabalhar” para se encontrar “uma linha de rumo”, acrescentou.

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