Covid-19. Coordenador do Plano de Vacinação defende compra da vacina russa em caso de luz verde da UE

Henrique Gouveia e Melo defende a aquisição de todas as vacinas que sejam possíveis trazer “ao processo português”, desde que tenham “qualidade e as garantias necessárias de reguladores credíveis”. Em entrevista à agência Lusa, admite a possibilidade de um novo alargamento entre doses e diz que a pandemia é um combate que “não se pode perder”.

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LUSA/MÁRIO CRUZ

A vacina russa Sputnik V contra a covid-19 deve ser adquirida para o lote de vacinas de Portugal, caso tenha avaliação positiva da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), defende o coordenador da task force responsável pelo plano de vacinação.

“Defendo a aquisição de todas as vacinas que sejam possíveis trazer ao processo português, desde que tenham qualidade, as garantias necessárias de reguladores credíveis e possam ser administradas em território nacional”, afirma em entrevista à agência Lusa o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo. “Se tivermos a possibilidade de trazer mais vacinas, acelerando a protecção da população e contribuindo para libertar a economia e a sociedade da pandemia, julgo que todo o português de bom senso deseja isso”.

O actual portefólio de vacinas assegurado por Portugal, através da União Europeia, inclui as vacinas desenvolvidas por Pfizer/BioNtech, Moderna, AstraZeneca, Janssen (todas já autorizadas pelo regulador europeu para introdução no mercado), Sanofi/GSK e CureVac (ambas numa fase mais atrasada). No dia 4 de Março, a EMA anunciou o início de uma “análise contínua” da Sputnik V para aferir a conformidade com os requisitos da União Europeia ao nível de eficácia, segurança e qualidade.

Num momento em que Portugal regista cerca de 1,2 milhões de vacinas administradas, das quais perto de 850 mil correspondem à primeira dose e 350 mil à segunda, Henrique Gouveia e Melo reivindica uma “taxa de execução muito elevada” face ao que foi entregue pelas farmacêuticas e nota que “o stock [de vacinas] é inferior a 10% da vacinação”, apesar de um ligeiro acréscimo com a suspensão temporária da vacina da AstraZeneca.

Alargamento entre as duas doses

Paralelamente, o responsável assume a possibilidade de um novo alargamento do prazo entre a toma das duas doses como foi decidido no início de Março em relação à vacina da Pfizer/BioNtech, que passou de 21 para 28 dias, e que classifica como “um primeiro passo” — para poder vacinar mais pessoas num menor espaço de tempo.

“Eventualmente, depois de termos indicações mais seguras de que alargar mais tempo não prejudica a eficácia da vacina, julgo que devemos alargar, mas só depois de termos essas indicações”, observa, sem deixar de fixar a meta de “perto de um milhão de pessoas com a primeira dose de vacinação” até ao final deste mês.

Com o processo de desconfinamento a decorrer em paralelo com a vacinação, Henrique Gouveia e Melo mostra algum receio de que “ideias de descontracção possam comprometer todo o esforço” do último período de confinamento e lembra que isso depende de “todos”, independentemente de uma maior fiscalização ou de sanções mais pesadas.

“Não tenho, evidentemente, funções políticas, nem funções policiais. Portanto, enquanto coordenador da task force, apelo à consciencialização das pessoas para os seus comportamentos, porque isso pode ter uma influência tremenda no nosso futuro”, conclui.

"Para mim, isto é uma guerra"

O coordenador defende que a pandemia é um combate, uma “guerra” que “não se pode perder”. Por isso, usa o camuflado. “Se olhar para os combates anteriores, que conflito é que prejudicou tanto a economia portuguesa, que conflito é que matou tanto em tão pouco tempo”, perguntou o vice-almirante. "Se isto não é um combate, então o que é um combate?”

Nomeado a 3 de Fevereiro, diz que a sua função “tem que ser feita com o esforço que for necessário”. “Para mim, é uma guerra”, diz, “um combate pessoal, um combate de grupo, [em que] o combatente do outro lado não é um ser humano, mas um vírus e nós temos que puxar todos os recursos que temos para combater esse vírus”, destaca.

E acrescenta: “Encarei [a nomeação] como um desafio, por um lado, por outro como uma obrigação enquanto militar, que jurei fazer tudo pelo meu país”.

Essa é a razão por que Gouveia e Melo descartou o seu uniforme da Marinha, e decidiu usar sempre o uniforme de combate, o camuflado operacional, o único que é comum aos três ramos das Forças Armadas, além do significado simbólico de que se reveste para a instituição e a população em geral.

“[O uniforme] quer dizer que não estou sozinho e sou ajudado pelos três ramos das Forças Armadas, tenho pessoas a trabalhar comigo da Marinha, do Exército e da Força Aérea”, diz.

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