As viagens que nos alimentam

Parado no meio da avenida, sem grande liberdade, tendo viajado mais de cinco mil quilómetros num quarto de hora, compreendo bem que uma viagem possa não só “alimentar-nos” o espírito por um ano, como por muitos e muitos anos.

Foto
São Sebastião, mártir do séc. III, por Pietro Perugino (séc. XV), na colecção exposta do Hermitage, fotografado em 2016 ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

No outro dia fiz uma das maiores viagens das minhas últimas semanas: cruzei meia Lisboa a pé e entrei na livraria Palavra de Viajante. Já há algum tempo que não entrava num destes templos e, confesso, nestas temporadas de fome das viagens, senti-me como uma criança com falta de açúcar numa loja de doces: o mundo todo cercava-me em livros e mais livros e mais livros. Milhares de viajantes, com as suas aventuras e as suas rotas, as suas buscas e vivências, sucessos e fracassos, as suas memórias. Todo um passado vivido à espera de ser partilhado, de servir de inspiração; tantos mundos unidos dentro de uma casa só, a casa dos livros de Ana Coelho. Mas não foi aos “seus” livros que fui buscar uma frase que me tem viajado. Entre umas quantas conversas de viajantes – que já sabemos que quando um diz viagem, o outro diz viagem e meia –, Ana contava-me que ainda antes da declaração da pandemia que nos parou a todos tinha conseguido ir a um dos seus destinos de estimação, São Petersburgo. E, a dado passo, dizia-me: "Essa cidade ainda me alimentou ao longo do ano, fui vivendo muito à custa das recordações dessa viagem.”

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