Marcas de moda devem remendar a indústria com um compromisso de remuneração dos trabalhadores, diz campanha global

Milhões em todo o mundo viram, no último ano, os seus salários reduzidos, ao mesmo tempo que marcas como a Nike, a Amazon ou Next registaram lucros milionários.

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As vendas online da marca Nike aumentaram significativamente em 2020 Reuters/STEPHEN HIRD

As marcas de moda deveriam consertar a sua “indústria quebrada”, assegurando que milhões de trabalhadores atingidos pela pandemia recebam o seu salário por inteiro e garantindo o pagamento de indemnizações em caso de redução de postos de trabalho, declarou nesta segunda-feira uma coligação de mais de 200 grupos sindicalistas e de direitos dos trabalhadores.

A campanha #PayYourWorkers afirma que as marcas e retalhistas que obtiveram lucros em 2020 (como a Nike, a Amazon e a Next) poderiam impedir os trabalhadores do vestuário de “passarem fome” e criar um fundo de indemnizações, pagando aos fabricantes o equivalente de $0,10 (8 cêntimos) por T-shirt.

“Isto é o mínimo que as marcas devem fazer no caminho para o salário mínimo que deve tornar-se o padrão de uma recuperação pós-pandémica”, disse Ineke Zeldenrust da Clean Clothes Campaign. “Esta proposta é exequível.”

Embora os fabricantes em alguns países paguem indemnizações aos trabalhadores se estes perderem os seus empregos, os proprietários das fábricas são frequentemente pressionados quando uma marca retira subitamente as encomendas, o que acaba por afectar o trabalhador, dizem os investigadores.

As empresas de moda cancelaram encomendas no valor de milhares de milhões de euros nos primeiros três meses da pandemia, com lojas fechadas em todo o mundo por causa da covid-19, levando a perdas salariais estimadas em pelo menos 3,2 mil milhões de dólares (2680 milhões de euros).

Embora as encomendas tenham chegado no segundo semestre de 2020, algumas marcas do Ocidente exigiram cortes nos preços e atrasaram os pagamentos aos fornecedores desesperados por quaisquer encomendas para sobreviver, afirmam os activistas.

A Amazon reagiu, numa declaração por e-mail, que tinha honrado todas as encomendas para as suas “empresas de vestuário com marca privada dos EUA e da UE” e criado um fundo de 1,3 milhões de dólares (1090 milhões de euros) no ano passado para investir em organizações que apoiavam os trabalhadores afectados pela pandemia.

A Nike, entretanto, disse à Fundação Thomson Reuters que tinha pagado na totalidade pelos produtos acabados, e que estava também a trabalhar com instituições para apoiar os fornecedores com oportunidades de financiamento e a explorar soluções para apoiar os trabalhadores da cadeia de fornecimento.

A Next não estava disponível para comentar a questão.

O sector têxtil, vestuário e calçado emprega, a nível global, cerca de 60 milhões de pessoas e especialistas da indústria dizem que a queda das vendas deixou os trabalhadores, que perderam os seus empregos ou estão a receber menos, vulneráveis à exploração.

Cerca de dez mil trabalhadores de oito fábricas fornecedoras de 16 marcas de moda, que obtiveram um total de 10 mil milhões de dólares (8,38 mil milhões de euros) de lucro no ano passado, ainda têm salários em atrasorevelou o grupo de direitos Business & Human Rights Resource Centre num estudo divulgado na semana passada.

A coligação, que apelou às marcas para anunciarem publicamente o seu apoio ao seu apelo, é composta por grupos de 40 nações, incluindo países produtores de vestuário como o Bangladesh e o Camboja, e organizações internacionais como a Oxfam.

No Camboja, Sophorn Yang, presidente da aliança sindical nacional, disse que os trabalhadores do país tinham perdido milhões de euros em salários durante a pandemia, devido às acções das marcas. “É tempo de as marcas reconhecerem a posição crucial que ocupam”, disse Yang.

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