Vacinação nas creches só avança depois do pré-escolar e do primeiro ciclo

Nesta fase vão ser vacinados cerca de 78.700 professores, educadores e auxiliares do ensino pré-escolar e 1º ciclo público e privado.

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PAULO PIMENTA

Os primeiros profissionais da comunidade escolar a vacinar contra a covid-19 serão os do pré-escolar e os do 1º ciclo do público e privado, a partir do final de Março. Os das creches começarão a receber as vacinas no início de Abril e em relação aos outros ciclos de ensino ainda não há datas. No total, sem contar com as creches, nesta fase vão ser vacinados cerca de 78.700 docentes e não docentes do ensino pré-escolar e 1º ciclo público e privado, adiantou ao PÚBLICO a task force (grupo de trabalho) que coordena o plano nacional de vacinação.

Os profissionais das creches vêm a seguir, confirmou o coordenador da task force, Henrique Gouveia e Melo. Apesar de as creches, pré-escolar e 1º ciclo reabrirem portas na segunda-feira, a vacinação decorrerá posteriormente e em etapas distintas. A decisão sobre quem é vacinado primeiro é uma “equação mais complexa do que simplesmente quem desconfina primeiro”, justificou Gouveia e Melo. E acrescentou: “A task force está a preparar-se para vacinar o grupo da comunidade escolar, em função do número de vacinas que chegam ao país, do universo de professores de cada ciclo de ensino, e de outras prioridades conjugadas”. 

Numa altura em que Portugal ainda se confronta com o problema da escassez de vacinas, a entrada deste novo grupo prioritário na primeira e segunda fases do plano está a desencadear críticas. A direcção da Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados (APRe) pôs esta sexta-feira em causa as alterações ao plano “em função dos grupos de pressão” e exigiu saber se o cumprimento da imunização das pessoas em maior risco de vida, como os idosos e as pessoas com patologias associadas, não fica comprometida por este motivo.

A task force admite que parte dos objectivos da primeira fase do plano vai “entrar pelo mês de Abril”, devido à redução da quantidade de vacinas entregue pelas farmacêuticas face aquilo que estava inicialmente acordado. Até ao final deste mês, e de acordo com as expectativas do grupo de trabalho, vão chegar a Portugal mais “841 mil doses” das várias vacinas (Pfizer, Moderna e AstraZeneca). Estas doses vão ter, assim, que ser repartidas pelos grupos prioritários que ainda estão por vacinar, nomeadamente os idosos a partir dos 80 anos e as pessoas entre os 50 e 79 anos com patologias de maior risco associado a covid-19, além de váriosprofissionais de saúde que ainda não foram inoculados e alguns professores e auxiliares.

Até esta segunda-feira, estavam vacinados 122 mil profissionais de saúde (100% dos considerados prioritários na norma da Direcção-Geral da Saúde, em serviços de maior risco associado a covid-19, exceptuando os que foram contratados recentemente e os que estavam de baixa) e pouco mais de metade (53%) dos profissionais de saúde do sector privado (13.550), adianta a task force, que espera que “sejam quase todos vacinados nas próximas duas semanas”.

Quanto ao grupo dos idosos a partir dos 80 anos, até domingo, tinham recebido a primeira dose 47,3% dos cerca de 670 mil contabilizados no país. No outro grupo prioritário, o das pessoas entre os 50 e os 79 anos com doenças de maior risco em caso de infecção pelo novo coronovírus, tinham sido inoculados pouco mais de quarto (28%) dos cerca de 400 mil identificados, segundo dados adiantados pela task force ao Expresso.

Risco de contágio pesa na equação

Portanto, o grupo dos professores e auxiliares vai começar a ser vacinado numa altura em que a vacinação destes dois grupos prioritários incluídos no objectivo “Salvar vidas” do plano ainda não estará coberto.  Ainda não são conhecidos detalhes sobre a calendarização e a forma como se vai processar a operação de vacinação nas escolas e nas creches. Para já o que a task force adianta é que vão ser os profissionais do pré-escolar e do primeiro ciclo a avançar primeiro, ficando para mais tarde os outros ciclos de ensino.

Gouveia e Melo elencou vários factores que pesam na equação: “A sequência por onde iniciará não tem como único factor quem desconfina primeiro, embora isso seja importante. É um factor vacinar quem vai desconfinar primeiro, mas também quem está mais em risco de ser contagiado no desconfinamento”, começou por afirmar. Neste aspecto, deverá pesar a análise sobre quem, dentro das diferentes faixas etárias dos alunos, representará maior risco de transmissão. 

“Não podendo proteger todos logo, porque não há vacinas, temos de proteger primeiro os que estão em maior risco de ser contaminados, através de uma avaliação desse risco”, disse. “Quando se analisam os factores de risco, o risco de contágio é superior dos alunos para os professores do que dos professores para os alunos, assim como as eventuais consequências desse contágio, isto fazendo uma análise puramente numérica e estatística da situação”. Referiu ainda a existência de grupos que podem ser mais fáceis de organizar e de vacinar mais rapidamente do que outros: “Quando se vai fazer uma operação de vacinação rápida, a exequibilidade dessa operação também conta.” 

Porém, alertou: “A nossa capacidade de vacinar pessoas não é ilimitada, até pelo número de vacinas disponível, e tem de ser conjugada com outros utentes muito importantes que também estão a ser vacinados. São muitas variáveis e que necessitam de contas.” 

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