Grupo de cientistas pede investigação sobre origem do coronavírus para além da feita pela OMS

Com acesso simultâneo a dois grandes jornais fazedores de opinião, em inglês e francês, grupo diz que nem vale a pena publicar o relatório da missão científica que foi a Wuhan - porque o seu trabalho teve demasiados constrangimentos.

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Peter Ben Embarek, o chefe da missão da OMS, em Wuhan Reuters/THOMAS PETER

Os jornais Le Monde e Wall Street Journal divulgaram uma carta aberta assinada por um grupo de cientistas que pedem uma investigação mesmo independente sobre a origem do SARS-CoV-2, que ultrapasse a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os signatários apelam a que nem sequer seja publicado o relatório da missão científica enviada pela OMS a Wuhan, entre os meses de Janeiro e Fevereiro, porque não pôde investigar de forma suficientemente independente as origens do vírus SARS-CoV-2.

Esta carta é assinada, entre outros, por Jamie Metzl, ex-membro do Conselho de Segurança Nacional da Administração de Bill Clinton e ex-colaborador de Joe Biden, diz o Le Monde. Mas também tem entre os signatários cientistas como os virologistas Bruno Canard e Etienne Decroly, investigadores no Centro Nacional de Investigação Científica, em França, ou os geneticistas Jean-Michel Claverie (Universidade de Aix Marselha) e Virginie Courtier (Instituto Jacques-Monod), destaca o diário.

Apesar de com a entrada de Joe Biden na Casa Branca as relações com a OMS se terem vindo a normalizar, a imprensa norte-americana tem reflectido de forma abundante a insatisfação do Departamento de Estado norte-americano com as conclusões provisórias da investigação apresentadas numa longa conferência de imprensa em Wuhan pelo líder da missão internacional, o especialista em segurança alimentar da OMS, Peter Ben Embarek, lado a lado com cientistas chinesas.

Nessa conferência, que foi o primeiro contacto da missão com jornalistas durante o seu tempo na China andaram sempre rodeados de segurança para evitar contactos não autorizados , deu mostras de aceitar a teoria que tem sido muito estudada na China – mas a que poucos no Ocidente dão credibilidade – de o novo coronavírus poder ter sido transmitido através de animais abatidos para consumo humano que tenham sido congelados. E colocou de parte, considerando ter muito pouca probabilidade, a teoria de que a origem do SARS-CoV-2 tivesse sido a fuga acidental de um dos laboratórios existentes na zona de Wuhan.

O relatório final da missão ainda não foi apresentado, e numa conferência de imprensa realizada logo depois de a equipa ter saído da China, o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, frisou que nenhuma teoria tinha sido mesmo abandonada. “Algumas pessoas têm-se interrogado se algumas hipóteses [sobre a origem da pandemia] terão sido abandonadas e, depois de ter discutido com os membros da equipa, quero confirmar que todas as hipóteses continuam sobre a mesa”, disse.

O que também pode ser uma outra maneira de dizer o mesmo que Ben Embarek disse, que não descartou liminarmente nenhuma das teorias, apenas disse que algumas eram menos prováveis.

Os 25 signatários desta carta dizem agora que “enquanto cientistas, cientistas sociais e comunicadores de ciência”, analisaram de forma independente as origens da epidemia de covid-19 e consideram essencial que todas as hipóteses sejam “examinadas de forma aprofundada e que seja garantido acesso total a todos os recursos necessários, sem impedimentos políticos ou outras sensibilidades.”

Consideram que os cientistas da missão da OMS não tiveram esse acesso e, por isso, o seu relatório não pode ser classificado como uma investigação independente. Dizem reconhecer que a OMS “está limitada no que pode alcançar neste tipo de investigação”, como uma agência internacional cuja acção é dirigida pelos Estados que a compõem – e o que propõem é que a “comunidade internacional monte uma estrutura e um processo” capaz de fazer a investigação independente que é necessária sobre a origem da pandemia.

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