Milhares de crianças abusadas pela Igreja Católica francesa

Comissão de investigação independente surpreendida com o volume de denúncias, cerca de 400 por mês. O relatório final da investigação aos abusos da igreja desde os anos 1950 deve ester concluído no final de 2021.

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Papa Francisco discursa no encontro sobre protecção de menores no Vaticano em 2019 VATICAN MEDIA HANDOUT/EPA

Uma comissão independente de investigação aos abusos da Igreja Católica em França chegou à conclusão que mais de dez mil crianças e pessoas vulneráveis podem ter sido vítimas desde 1950. A comissão, criada pela própria Igreja francesa, iniciou os trabalhos em 2018 e até agora recebeu mais de 6.500 denúncias e testemunhos.

O presidente da Comissão Independente de Abuso Sexual na Igreja, Jean-Marc Sauvé, acredita que o número de vítimas pode chegar aos 10 mil. “A grande questão para nós será o de saber ‘quantas vítimas se chegaram à frente?’ Serão 25%, 10%, 5% ou menos?”, disse.

A comissão, que foi criada depois de vários escândalos públicos, não é financiada pela Igreja que também não pode interferir na ordem de trabalhos. O relatório final da investigação está agendado para o final de 2021. Os números finais devem incluir também dados de saúde pública e documentos dos arquivos da igreja.

Numa entrevista à revista francesa L’Obs, Jean-Marc Sauvé admitiu ter ficado surpreendido com o volume de chamadas e testemunhos: cerca de 400 pessoas por mês. “As suas histórias são um verdadeiro memorial de dor. Vidas inteiras que foram devastadas”, concluiu.

A Igreja em França já deu alguns passos no combate ao abuso sexual, nomeadamente em 2019, quando os bispos franceses concordaram em indemnizar as vítimas. Ainda assim, algumas organizações de vítimas acusaram a medida de ser insuficiente. Culpam também a Igreja de tentar evitar a discussão das recomendações oficiais que serão publicadas no relatório final.

Mas não só em França se tem falado de abusos sexuais. Na Alemanha, um relatório de 2018 concluiu que mais de 3.600 pessoas foram sexualmente abusadas por membros do clero, entre 1946 e 2014. As vítimas foram indemnizadas no valor de cerca 50 mil euros, quantia também considerada insuficiente.

O Papa Francisco tem-se pronunciado sobre o assunto, e em Maio de 2019 criou regras internas para evitar que o silêncio do passado continue a imperar na Igreja Católica, através de um sistema para denunciar abusos e encobrimentos, presente em todas as dioceses.

O arcebispo Charles Scicluna, principal investigador de abuso sexual do Vaticano, afirmou à CNN que as novas regras traduziram-se em novas formas de responsabilização para os líderes católicos. O arcebispo acrescentou que “essa liderança não está acima da lei” e que, “se as pessoas que adoram a Igreja nos denunciam, estamos a fazer algo de errado”.

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