Darwin está na cauda da Europa quanto à eficácia na finalização

Os números mostram que Darwin Núñez deveria ter muito mais golos marcados na Liga portuguesa. Este é um problema que já vem do passado: o uruguaio já não era um finalizador nato antes de chegar a Portugal.

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Darwin celebra pelo Benfica LUSA/JOSE SENA GOULAO

“A equipa voltou a criar várias oportunidades e está-nos a faltar um jogador que meta a bola dentro da baliza (…) em momentos em que, normalmente, é fácil de fazer golo, a equipa acabar por não fazer. Os nossos avançados também não estão com sorte”. Estas palavras são de Jorge Jesus, a 21 de Fevereiro, após o empate frente ao Farense, para ilustrar que os avançados do Benfica estão a marcar menos do que deveriam. E bem pode dizê-lo o técnico “encarnado” – tem razão e os números comprovam-no, sobretudo no caso do jogador mais caro da história do Benfica: Darwin Núñez.

O avançado uruguaio marca muito menos golos do que deveria, constatação ainda mais clara quando é feita a comparação com os melhores finalizadores da I Liga. Em rigor, Darwin marcou quatro golos no campeonato, mas já deveria ter marcado sete. Se a eficácia do uruguaio estivesse na média dos 15 melhores marcadores da I Liga, então o avançado já deveria ter chegado aos dez golos, bem longe dos quatro que já celebrou.

Esta conclusão chega da análise a um indicador cada vez mais em voga no futebol, que é a medição de golos esperados (xG). 

Olhando para os 15 melhores marcadores da I Liga, com o cruzamento de dados entre os sites Infogol e FBREF, ninguém tem uma relação tão baixa entre os golos marcados e os golos esperados como Darwin. No fundo, o uruguaio desperdiça oportunidades que, por norma, resultam em golo para a maioria dos jogadores.

Com quatro golos marcados e sete xG, o uruguaio tem apenas 0,54 de rácio. O jogador que chega mais perto é Ricardo Horta, do Sp. Braga, também ele com menos golos do que seria suposto (tem sete e deveria ter nove).

Descontando Horta, Douglas Tanque e Moussa Marega, também eles com rácio de golos abaixo do seu índice xG (mas todos acima de Darwin), não há ninguém no top-15 da I Liga com um rácio negativo.

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Com valores semelhantes, já fora desse lote de finalizadores, só mesmo dois avançados também eles muito perdulários nesta temporada: Sporar e Paulinho, ambos com 0,59 – acima, ainda assim, do valor pobre do benfiquista Darwin.

Vinícius bem acima de Darwin

Dir-se-á que Darwin não está a conseguir adaptar-se bem ao campeonato português e que o Benfica fez uma aposta segura num jovem finalizador. Mas talvez não seja tanto assim.

Olhando para o registo de Darwin Núñez no Almeria, da segunda divisão espanhola, o rácio entre golos marcados e golos esperados já era, também aí, negativo (0,93). Pelo clube espanhol, o avançado marcou 16 golos no campeonato, número abaixo do seu índice xG.

Resumindo: o Benfica pagou 24 milhões de euros por um jogador cuja eficácia de finalização já era, em Almeria, abaixo da média e abaixo do índice xG.

O que poderia ter sido feito diferente? Aqui entra Carlos Vinícius, melhor marcador do último campeonato. O Benfica abriu mão de um avançado que tinha uma relação entre golos marcados e índice xG amplamente positiva: um rácio de 1,45, proveniente de 18 golos marcados em situações que, em tese, só deveriam ter valido 12 golos.

Além de Darwin, exemplo supremo das dificuldades na finalização, nenhum dos avançados com que o Benfica iniciou esta temporada é melhor do que Vinícius: Seferovic teve um rácio de 0,67 na época passada e leva 1,17 na actual e Waldschmidt chegou ao Benfica trazendo um rácio de 1,49 na Alemanha e soma também 1,17 na Liga portuguesa.

Voltando a Darwin – e alargando a amostra –, o jogador uruguaio não tem um registo sofrível apenas no contexto nacional. Entre os melhores marcadores da Europa não há avançado tão perdulário.

Olhando para os 50 melhores marcadores das “big 5” (Premier League, La Liga, Bundesliga, Série A e Ligue 1) há apenas quatro jogadores com rácio negativo entre golos marcados e golos esperados – são os casos de Ben Yedder (0,96), Ollie Watkins (0,88), Jamie Vardy (0,82), Ludovic Ajorque (0,81) e Toko Ekambi (0,81) e Amine Gouiri (0,81), todos eles bem acima de Darwin, mesmo assim.

Podem existir diversos factores para explicar a fraca proficuidade do avançado, mas os números são o que são. E o uruguaio está longe, no presente, e estava, no passado, de ser um finalizador de excelência nos planos nacional e internacional.

Pedro Gonçalves sem paralelo

A título de curiosidade, Cristiano Ronaldo (1,13, com 19 golos marcados em 16,8 xG), André Silva (1,18, com 19 golos marcados em 16,1 xG) e Bruno Fernandes (1,28, com 15 golos marcados em 11,7 xG) têm tido bons rácios de aproveitamento nesta temporada.

E é aqui que ganha relevo a época de Pedro Gonçalves, jogador do Sporting. O jovem português deveria ter marcado seis golos, mas já marcou 14 – celebrou mais do dobro das vezes do que seria previsível. O rácio de 2,37 é um número altíssimo para a I Liga – ninguém chega sequer perto –, mas não só.

Na nata da Europa, não há quem finalize como “Pote”. Nos 50 melhores marcadores dos principais campeonatos, a melhor concorrência para o jogador do Sporting fica-se pelos 1,92 registados por Thomas Müller (Bayern), 1,75 de Sasa Kalajdzic (Estugarda), 1,73 de Son (Tottenham) e 1,69 de Luis Muriel (Atalanta) e Lucas Alario (Leverkusen).

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