Amnistia Internacional retira estatuto de “prisioneiro de consciência” a Navalny

A organização decidiu em função de comentários nacionalistas e xenófobos de Alexei Navalny no passado, mas continua a exigir a libertação do principal opositor político de Vladimir Putin.

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O líder da oposição russa, Alexei Navalny, num julgamento em Moscovo, 20 de Fevereiro de 2021. BABUSHKINSKY DISTRICT COURT/Reuters

A Amnistia Internacional deixou de considerar Alexei Navalny como “prisioneiro de consciência”, devido a comentários nacionalistas e xenófobos feitos pelo opositor russo no passado, anunciou a organização na terça-feira.

“Ele não pode ser qualificado como prisioneiro de consciência, ou seja, alguém que nunca defende o ódio ou a violência, nem usa discursos de ódio”, explicou em Moscovo à BBC o porta-voz da organização de defesa dos direitos humanos, Alexander Artemev, por causa de comentários feitos há cerca de 15 anos e que agora vieram à tona.

Não obstante, a Amnistia continua a pedir a libertação de Navalny, defendendo a sua inocência e considerando que a sua prisão é resultado da perseguição por parte do Presidente Vladimir Putin e do seu governo, que pretendem silenciar as críticas da oposição.

Se inicialmente a organização fechou os olhos ao passado de Navalny, as recentes descobertas fizeram com que “já não fosse possível ignorá-lo”, de acordo com Artemev. Além do mais, o próprio Navalny ainda não refutou publicamente os comentários e os vídeos, pelo que, “na nossa interpretação, ele continua a manter de alguma forma o que disse”, acrescentou o porta-voz.

A Amnistia não especificou os comentários aos quais se referia, porém refere ainda uma marcha nacionalista na qual Navalny terá participado. E sabe-se que num dos vídeos, publicado em 2007, o político defendia a expulsão de migrantes como forma de prevenir a ascensão da extrema-direita, alegando que “temos o direito de ser russos na Rússia e defenderemos esse direito”, de acordo com a Reuters.

Alexei Navalny foi detido na Rússia a 17 de Janeiro deste ano, no seu regresso depois de recuperar na Alemanha do envenenamento com Novichok, confirmado pelos médicos alemães.

Logo após a sua detenção, a Amnistia qualificou-o como “prisioneiro de consciência”, manifestando-se contra “mais uma evidência” de que as autoridades russas “procuram silenciá-lo”, lê-se num seu comunicado. Para a organização, Navalny “foi privado da sua liberdade por causa do seu activismo político pacífico e por exercitar a liberdade de expressão”.

Alexei Navalny foi condenado a uma pena de dois anos e meio de prisão, por violação de liberdade condicional de uma sentença anterior, bem como por outros crimes de que tem vindo a ser acusado, como, por exemplo, ter difamado um veterano da Segunda Guerra Mundial.

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