Valter Vinagre viajou ao fundo das nossas noites

Com os seus dois mais recentes livros de fotografia, Percebes e Boca, oferece-nos um retrato dos paradoxos que povoam o nosso mundo. E que, entre a vida e a morte, a festa e o abandono, produzem imagens. Com as quais vivemos e aprendemos a viver.

Foto

Vibração da vida e luto. Convívio e desolação. Na primeira parte destas frases, encontra-se Percebes, livro de fotografia e retrato de um festival de surf, música e comida. Na segunda parte, descobre-se outro livro, também com fotografias, intitulado Boca. O autor das imagens é o mesmo, Valter Vinagre (1957, Avelãs de Caminho), fotógrafo, artista que deambula pelos lugares com a curiosidade do estranho, movido pelas perguntas que a presença e a existência humanas não cessam de colocar. Foi assim em 2018, com Sob o Signo da Lua (Dafne Editora), obra que desvelava, página a página, corpos, rostos, olhares, dias e noites do Festival Boom. Sobre ela, escreveu-se neste suplemento que a cor iluminava pessoas e cenas, sugerindo uma ideia de comunhão entre as coisas. Ora, em Percebes não há cor, o preto e o branco são soberanos. E, todavia, as imagens continuam a comunicar o mesmo prazer, o mesmo gozo do fotógrafo e dos fotografados. Como em Sob o Signo da Lua, Valter Vinagre voltou a fotografar não um festival, mas num festival. Neste caso, o Gliding Barnacles, na Figueira da Foz, que se realiza, desde 2014, entre a Praia de Cabedelo e o centro da cidade. Quem o visitou, sabe do que se trata: surf de manhã e à tarde e música rock (na sua acepção menos ortodoxa) assim que o dia começa a cair noite adentro. Pelo meio, comida, arte, convívio, muito convívio, ainda intocado pelo ciciar da publicidade e da especulação económica. Um oásis partilhado por Valter Vinagre, pelo chef Miguel Rocha, pelo surfer Michael Lay, pelo artista Francisco Vidal, pelo designer Pedro Falcão, entre outros.

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