Os icónicos Daft Punk anunciam o “epílogo” da sua carreira

O duo francês, um dos projectos mais relevantes da história da música electrónica e da cultura popular, comunicou o fim da actividade, 28 anos depois do seu início.

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Cena de Epilogue DR

Em pleno deserto, dois vultos vestidos de negro e com os rostos escondidos sob os seus capacetes espaciais afastam-se, de costas; a dado momento, param, um deles despe o blusão, e o outro activa o relógio com a contagem decrescente para uma explosão, cujos estilhaços depois se desvanecem numa paisagem de pôr-do-sol.

É com imagens do seu filme, Electroma (2008), que os Daft Punk, o icónico duo de música electrónica formado pelo luso-francês Guy-Manuel de Homem-Christo e pelo francês Thomas Bangalter, anuncia o fim da sua carreira. Epilogue é, de resto, o título do vídeo de oito minutos com que a dupla se despede, e que foi publicado esta segunda-feira no YouTube. Depois dessa publicação, a separação da dupla foi confirmada pelo seu agente à revista Variety, sem ser avançado qualquer detalhe suplementar.

Um dos projectos mais influentes das últimas três décadas, os Daft Punk formaram-se em Paris, em 1993, impondo-se como pioneiros da vaga french touch que tomou de assalto a Europa nos anos 1990, lançando o primeiro e marcante álbum, Homework, em 1997. No início ainda surgiram algumas vezes em público de rosto descoberto (ver vídeo em baixo), mas rapidamente adoptaram vestes de robô, encobrindo a identidade. Quatro anos mais tarde, mudaram a face da música de dança com o álbum Discovery (2001), ao mesmo tempo que temas como One more time ou Harder, better, faster, stronger se tornavam grandes êxitos. Depois de um terceiro álbum (Human After All de 2005) e de uma passagem pela Disney para a banda-sonora do filme Tron Legacy (2010), e de produções para Kanye West ou The Weeknd, os dois robôs da música pop regressaram com Random Acess Memories (2014), aquele que, sabe-se agora, pode ser o seu derradeiro manifesto musical. 

Conquistaram seis Grammys com dois dos seus discos: Melhor álbum de música de dança electrónica e melhor gravação (tema Harder, better, faster, stronger), com o álbum gravado ao vivo, Alive 2007, em 2009; e, em 2014, quatro distinções como Álbum do ano e Melhor álbum de música de dança electrónica, por Random Access Memories; Gravação do ano e Melhor performance de um duo pop, com o tema Get lucky.

Foram momentos altos numa carreira em que o duo parisiense começou por integrar, no início dos anos 90, a banda francesa de indie-rock Darlin’, na altura ainda muito influenciada pela sonoridade dos Beach Boys ou Rolling Stones. Logo em 1993, optaram por uma via diferente, criando os Daft Punk, abrindo as portas para uma carreira que haveria de marcar a música house e a cultura pop no final dessa década, e depois evoluir para um casamento de electrónica com sonoridades disco e outros elementos, sempre numa linha onde o som, a imagem e a iconografia tinham um papel central. Uma marca que a dupla explorou em espectáculos ao vivo, marcados por encenações visualmente fortes, como foi testemunhado em Portugal, no Festival Sudoeste de 2006.

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