Galp teve prejuízos de 42 milhões em 2020

Fecho das operações de refinação de Matosinhos custa 200 milhões à petrolífera, cujo conselho de administração propõe um dividendo de 35 cêntimos por acção.

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Reuters/RAFAEL MARCHANTE

A Galp encerrou o ano de 2020 com um resultado negativo de 42 milhões de euros, segundo as contas publicadas esta segunda-feira na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Em 2019, a petrolífera tinha registado lucros de 560 milhões. Na bolsa de Lisboa, que arranca a semana em terreno negativo (recuo de cerca de 1% nesta manhã), as acções da petrolífera estavam a cair 3,05% por volta das 9h.

No quarto trimestre, o resultado líquido ajustado caiu 98% em termos homólogos para três milhões de euros. A empresa reviu as perspectivas para este ano e vai propor um dividendo de 35 cêntimos por acção aos accionistas relativo a 2020. Trata-se uma redução de 50% face aos 70 cêntimos pagos por conta dos resultados de 2019 (num total de 580 milhões de euros).

Por outro lado, espera um dividendo de 50 cêntimos relativo aos resultados de 2021, segundo as expectativas da equipa de gestão, que registou mudanças na cúpula, no início deste ano, com a entrada de Andy Brown para CEO.

"A Galp tem sido bem-sucedida nos investimentos que realizou com vista a um crescimento sustentável ao longo da cadeia de valor da energia, detendo uma base de activos de elevada qualidade”, diz Brown, no anúncio dos resultados.

Menos petróleo e gás, mais electricidade

Os resultados comerciais traduzem também o impacto económico da pandemia, como evidencia a apresentação das contas.

As vendas de produtos petrolíferos caíram 28% em 2020, o que a empresa explica com uma “menor procura derivada do impacto económico da pandemia”. 

Este recuo no consumo afectou “todos os segmentos” no mercado ibérico, mas “sobretudo a aviação, marinha e o retalho”, esclarece a Galp.

Já os volumes de gás natural vendidos diminuíram 27%, “impactados pelo ambiente de mercado volátil e pela menor contribuição do segmento B2B [empresarial]”.

Pelo contrário, as vendas de electricidade registaram um aumento de 4%, “reflectindo o maior consumo do segmento B2B”.

“O Conselho de Administração da Galp irá propor na Assembleia Geral de Accionistas em Abril um dividendo por acção de 0,35 euros, relativo ao exercício de 2020, a ser pago em Maio. O ajuste do dividendo reflecte os impactos inesperados resultantes das condições de mercado particularmente adversas”.

Os dados hoje revelados indicam que o resultado ajustado antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) caiu no ano passado 34% em relação a 2019, fixando-se em 1570 milhões de euros, “reflectindo as condições de mercado particularmente adversas durante o período, atribuíveis à pandemia”, sublinha a empresa, que viu sair da liderança o gestor Carlos Gomes da Silva, a meio do mandato, em Janeiro.

“Os números evidenciam igualmente os projectos que, apesar do contexto adverso, a Galp continuou a promover para se transformar numa empresa mais sustentável, nomeadamente o investimento efectuado na aquisição dos projectos de energia solar em Espanha – que permitem que seja hoje o maior produtor ibérico de energia fotovoltaica – e a adaptação do seu aparelho refinador à transformação em curso no sistema energético global”, refere a Galp, em comunicado.

Na semana em que se soube da substituição de Gomes da Silva por um ex-executivo de topo da Shell, a empresa anunciou querer entrar na exploração mineira de lítio.

O investimento líquido subiu 5% e chegou aos 830 milhões, “considerando os proveitos dos processos de unitização e incluindo o pagamento de 325 milhões de euros relacionados com a transacção do portefólio solar fotovoltaico” realizada no terceiro trimestre de 2020.

Já o investimento nas actividades de upstream (exploração e produção) corresponderam a 36% do total, “sendo 23% direccionado às actividades de downstream (refinação e comercialização) e 39% para a área de Renováveis & Novos Negócios”.

Fechar refinação a Norte custa 200 milhões

Com a decisão de concentrar a refinação no complexo de Sines, em detrimento da refinação em Matosinhos a partir deste ano, a Galp registou 35 milhões de custos de restruturação, bem como imparidades e provisões no montante de 247 milhões, “todos considerados como eventos não recorrentes”, num total após impostos de 200 milhões.

“A empresa está neste momento a definir um plano de descomissionamento detalhado, assim como a avaliar alternativas de utilização para o complexo”, refere a informação enviada à CMVM.

A dívida líquida aumentou para 2066 milhões, considerando 544 milhões de dividendos pagos a accionistas e a interesses minoritários durante o ano de 2020, bem como 129 milhões de outros efeitos, “maioritariamente relacionados com a desvalorização do real brasileiro e do dólar dos EUA”.

Os dados divulgados indicam que a produção líquida (net entitlement) no ano passado - após o pagamento de impostos em espécie aos países em que produz e que revertem integralmente para os resultados da Galp – cresceu 7% em termos homólogos, para 128,2 mil barris/dia.

Em 2020, a produção média no indicador “working interest” - a produção bruta de matéria-prima, sobretudo petróleo, que inclui todos os custos decorrentes das operações – cresceu igualmente 7% face ao ano anterior, fixando-se nos 130 mil barris por dia.

Na informação enviada à CMVM, a Galp recorda que, em Outubro, acordou com a Allianz Capital Partners a venda de 75,01% da sua participação na Galp Gás Natural Distribuição, S.A. (GGND) com base no preço acordado de 368 milhões de euros. A conclusão da transacção está prevista para o primeiro trimestre deste ano, após a qual a Galp manterá uma participação de 2,49% na GGND.

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