Guia para se usar o Tinder com saúde

O que é que precisas? Em plena pandemia, talvez não seja a melhor altura para sexo casual ou encontrar o amor da vida. No meio há todo um espectro a ser explorado, já que explorar online é das poucas coisas que não é proibido fazer.

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(Nota: chamo-lhe Tinder mas podia ser qualquer outra aplicação de namoro, tal como chamamos velcros e post-its a todos os velcros e post-its.)

Domingo ou qualquer outro dia à tarde. Estamos em casa. Aborrecidos. Primeira reacção? a) Comer chocolate, b) enviar mensagens no WhatsApp, c) pegar no telefone e fazer scroll a todas as redes sociais, Tik Tok incluído. Em 2021 já não é vergonha dizer que estamos a apanhar uma grande seca, com falta de estímulos reais não baseados em algoritmos. Mas o que fazer quando se é solteiro e a vida amorosa está confinada a casa e ao telemóvel? Não muito mais do que usar o Tinder e lançar uns olhares por detrás da máscara durante os passeios higiénicos.

Como diz o povo, se não podes vencê-los, junta-te a eles. Hoje vou partilhar convosco o que tenho aprendido a usar estas apps, que já tomou mais dimensão antropológica que de busca do(s) amor(es) da vida.

Aprendizagem número um: não tem mal nenhum estar no Tinder. Só tem é bem. Pode parecer estranho ao início mas quanto mais se usa, melhor se usa. Isto se quisermos aprender com as experiências passadas. E, habituem-se, que é natural que nos comecemos a cruzar com as mesmas caras várias vezes, tal como dantes nos cruzávamos na rua.

Usa o Tinder como precisas: uma boa conversa, como aquelas que tínhamos no café, um ponto de vista diferente sobre algo, um “flirtzinho” para animar o ego que, coitado, também está de quarentena. O que é que precisas? Em plena pandemia, talvez não seja a melhor altura para sexo casual ou encontrar o amor da vida. No meio há todo um espectro a ser explorado, já que explorar online é das poucas coisas que não é proibido fazer.

Descobre quem está do outro lado: só há uma maneira de descobrir quem é a pessoa atrás da foto. Perguntando. Pergunta coisas, muitas coisas. Só assim poderás perceber não só quem é mas como pensa e se estão alinhados. Dizer que se gosta de surf, ioga ou comida em 2021 não diz nada sobre uma pessoa, muito menos a quantos países já foi. No entanto, pode demonstrar inseguranças ao escrever os clichés da moda. Por isso pergunta o que queres saber. Tudo.

Descobre ainda mais sobre quem está do outro lado: as fotos parecem-te dúbias? Não sabes se são actuais ou polidas demais? Pergunta de quando são, pede mais, sê criativa ou creativo. Agora até se pode usar a câmara para ver quem está do outro lado. Estranho, talvez, mas bem melhor fazê-lo do que esperar para conhecer uma pessoa que não é essa pessoa. Já aconteceu a muito boa gente. No meu caso, com o avô. Um amor de pessoa, mas que não deixava de ser um avô com 35 anos, o que não teria mal nenhum se fosse igual às fotos. Mas não era.

Não ficar colado ao telefone à espera de uma resposta. Nem usar notificações, a não ser que estejas a ter uma conversa mesmo inspiradora. Tal como tu tens a tua vida, as tuas rotinas, o teu trabalho e a tua rede de pessoas, é natural que a pessoa do outro lado também o tenha. Isto é válido para o Tinder e tudo o resto.

Dar a importância que tem: está tudo confuso em 2021, por isso vai por baby steps. Será que essa pessoa está interessada? E tu, olhavas para ele na rua? Consegues sentir a energia? No telefone, e em pandemia, as coisas podem parecer mais do que o que são. Mais íntimas, mais sentidas, mais intensas. Uma conversinha boa não tem que levar a um “felizes para sempre”. Relax and enjoy the ride.

Primeiro date: já falas com ele/ela há uns dias e percebes que há ali qualquer coisa mais interessante do que as fotos. Decides combinar um encontro, mas ficas na dúvida porque estamos em pandemia. Como fazer? Um passeio. Ao ar livre. De máscara. Sim, usar máscara em encontros é como usar preservativos para ter sexo. É não dar margem para dúvida. Lembra-te, o que é teu a ti virá, e não há que forçar nada. Se a pessoa te respeitar, vai respeitar as tuas barreiras.

Aprende a dizer que não. E a receber não. Isto diz tudo mas aqui fica com mais detalhe. Dá o que podes, não dês o que não podes. Faz o que queres, não faças o que não queres. Vai haver conversas boas e más, pessoas lindas e pessoas manhosas, coisas que fazem sentido e outras que não fazem sentido nenhum para além do momento. Com uns vais querer ir mais longe, com outros desejar que aquilo nunca tivesse começado. Respeita-te, miúda. E miúdo. E pronto, fora isso é just for fun, claro.

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