Carreiras acusa Rio de querer adiar eleições porque “o processo autárquico no PSD é uma inexistência”

Autarca do PSD de Cascais critica líder do partido em artigo de opinião. Diz que Rio não pacificou o partido e desafia-o a correr por Lisboa ou Porto se optar pelo “circuito fechado” na escolha dos candidatos.

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Carlos Carreiras, autarca do PSD em Cascais Daniel Rocha

O presidente da Câmara de Cascais está “absolutamente contra” a proposta do presidente do PSD para adiar as eleições autárquicas e acusa Rui Rio de “jogada táctica” para justificar um eventual mau resultado no acto eleitoral, uma vez que “o processo autárquico no PSD é uma inexistência”​.

Num artigo de opinião publicado esta quarta-feira no jornal Inevitável, o presidente da autarquia diz que recebeu com “incredulidade” a proposta do líder do seu partido de adiamento das eleições autárquicas (para um domingo entre 22 de Novembro e 14 de Dezembro) e manifesta-se “absolutamente contra” essa solução. Carlos Carreiras tenta ainda desmontar os argumentos apresentados pelo seu partido, acusa Rio de não ter conseguido “pacificar” o partido, de não ter propostas para garantir a participação nas autárquicas e de prejudicar o PSD e o país.

Numa tentativa de desmontar o argumentário de Rui Rio, Carlos Carreiras defende que a mobilização dos portugueses é menor nas “frias chuvas de Dezembro do que na amena entrada no Outono”. Além disso, considera que ao defender que o adiamento dá mais tempo para a construção de listas, Rio está a apresentar “uma versão mercantilista da política”. Por fim, assinala que se não há certezas de que a situação pandémica esteja melhor em Dezembro do que em Setembro, há certezas de que em Setembro estará melhor do que em Janeiro, quando foram as presidenciais. Um dos argumentos de Rio para justificar o adiamento das autárquicas relaciona-se como o calendário previsto para a imunização de grupo que o Governo espera estar garantida pela vacinação em Setembro — o que condicionaria a campanha eleitoral. 

A utilização deste argumento pelo presidente dos sociais-democratas é mesmo vista pelo autarca como prejudicial. “Quando o líder da oposição em Portugal usa o argumento da saúde pública, está a dizer ao mundo que o país desconfia das suas próprias metas para a vacinação e para a obtenção da imunidade de grupo. Isto tem consequências socioeconómicas negativas para o país — desde logo no turismo, como se tem visto pelos cancelamentos em cadeia em muitos mercados. A posição de Rio é nefasta (para o país) e derrotista (para o partido)”, escreve no mesmo artigo de opinião.

Carreiras considera que em vez de adiar, Rio devia propor medidas para aumentar a participação eleitoral, entre elas a de alargar os dias de votação. O presidente da Câmara Municipal de Cascais defende que Rui Rio quer adiar as eleições porque “o processo autárquico no PSD é uma inexistência”. Mais: acredita que Rio prepara terreno para justificar um possível mau resultado no caso de se manter o actual calendário das autárquicas. “Esta é uma jogada táctica: adiar permite ganhar tempo; não adiar dá ao presidente do partido a oportunidade de construir uma narrativa de vitimização que justificará, com sete meses de antecedência, um possível mau resultado nas autárquicas”, acusa. O PS que é o partido do Governo, que é quem marca as eleições  mostrou-se contra o adiamento.

Carreiras lembra a sua anterior experiência de coordenador autárquico numa fase também atípica para o país  com o cenário da troika em Portugal como pano de fundo — e o trabalho que todo esse processo dá. E põe em causa a primeira missão de Rui Rio enquanto líder do partido. “Rui Rio chegou a este ponto porque foi incapaz de unir o partido. Falhou na primeira tarefa do líder: pacificar. Está agora a pagar o preço dessa segregação a que votou uma parte importante do PSD”. 

No fim do artigo de opinião, o presidente da câmara de Cascais diz que existem dois caminhos para Rio: manter o rumo que limitará as escolhas autárquicas ao “circuito fechado da actual direcção nacional e das distritais mais alinhadas”; ou, em alternativa, “resgatar os melhores quadros do partido” e desenvolver uma “liderança inclusiva”. Com a primeira terá “o afunilamento”. “A opção por este caminho implica que o próprio presidente do partido vá a votos, no Porto ou na capital, dando o exemplo e confiança aos seus vice-presidentes e a muitos deputados, seus apoiantes indefectíveis, para também eles avançarem como candidatos”, desafia. A segunda via é a do “alargamento”, a via de um “partido grande”, com possibilidades de sair vencedor, mas onde o líder “não pode mostrar que está farto e sem paciência para o partido”. 

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