Covid-19: projecto Vizinhos à Janela distinguido com prémio Solidariedade Civil

O projecto recebeu o prémio na categoria de “ofertas culturais, uma categoria que agrupou projectos “que desempenharam um papel fundamental na atenuação dos efeitos da pandemia”.

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Duas vezes por dia os residentes da Rua Belo Horizonte “Jardim dos Arcos”, em Oeiras, tocaram música das suas varandas e janelas durante 10 minutos, até ao final de Julho de 2020. Nuno Ferreira Santos

O projecto Vizinhos à Janela, uma iniciativa de bairro de combate ao isolamento e solidão durante o confinamento devido à pandemia de covid-19, recebeu esta segunda-feira o prémio Solidariedade Civil do Comité Económico e Social Europeu (CESE). Em comunicado, o Comité adianta que atribuiu o Prémio CESE para a Solidariedade Civil ao Vizinhos à Janela, na categoria “ofertas culturais”, destacando que o “projecto constituiu um exemplo brilhante de notável responsabilidade cívica e solidariedade durante a crise da covid-19”.

O CESE, órgão consultivo que representa a sociedade civil europeia ao nível da União Europeia, seleccionou o Vizinhos à Janela como o melhor candidato português ao prémio, “pela força agregadora da sua música, ajudou a transformar um simples bairro numa verdadeira comunidade de entreajuda”. O Vizinhos à Janela foi anunciado como um dos 23 laureados numa cerimónia de entrega virtual de prémios realizada esta segunda-feira pelo CESE. Cada vencedor recebeu um prémio no valor de 10 mil euros.

O projecto recebeu o prémio na categoria de “ofertas culturais, uma categoria que agrupou projectos “que desempenharam um papel fundamental na atenuação dos efeitos da pandemia, de várias formas criativas e originais”. No ano passado durante o primeiro confinamento, um grupo de vizinhos juntou-se para aliviar a solidão da vida em casa. Duas vezes por dia, às 14h e às 20h, os residentes da Rua Belo Horizonte “Jardim dos Arcos”, em Oeiras, no distrito de Lisboa, tocaram música das suas varandas e janelas durante 10 minutos, até ao final de Julho de 2020. Quatro outras ruas próximas juntaram-se também à iniciativa.

“Estas breves explosões de cultura e ligação trouxeram algum alívio e regularidade a rotinas perturbadas, e proporcionaram força e alegria às pessoas que viviam no bairro”, refere o CESE. Médicos, enfermeiros, polícias e cantoneiros visitaram a rua e receberam uma homenagem musical em reconhecimento do seu trabalho, tendo a Câmara Municipal de Oeiras contactado depois os residentes convidando-os a aproveitar o espírito de solidariedade para recolher alimentos para os mais necessitados.

Cada prédio na rua nomeou alguém para recolher provisões dos vizinhos, que depois foram entregues a várias associações que trabalham com grupos vulneráveis. As empresas locais, mercearias e restaurantes também contribuíram com mantimentos. “Em média, foram doados 700 artigos por semana, e vários residentes iniciaram actividades de voluntariado, com carácter permanente, junta dessas associações. Neste momento, a ajuda alimentar já atingiu as seis toneladas”, destaca o CESE.

“Damos tão pouco e recebemos tanto... Esta enorme valorização dá-nos muita mais força para continuar na luta e na ajuda aos mais carenciados, e dar um verdadeiro sentido à frase: “Ajude a ajudar”, disse o coordenador do projecto Íñigo Hurtado, um catalão a viver em Portugal há mais de 30 anos, citado na nota.

Na entrega dos prémios, o vice-presidente do CESE responsável pela Comunicação, Cillian Lohan, disse que “todos os projectos recebidos são a prova do empenho altruísta dos cidadãos e do nível local, o que comprova que o contributo da sociedade civil nesta luta é enorme”. Os prémios foram atribuídos às candidaturas vencedoras de 21 países da União Europeia.

Os vencedores foram seleccionados de entre um total de 250 candidaturas apresentadas por organizações da sociedade civil, indivíduos e empresas privadas. Todos os projectos assentavam na solidariedade e apresentaram formas criativas e eficazes de fazer face aos desafios frequentemente assustadores criados pela crise. A maioria dos projectos visou grupos vulneráveis ou as pessoas mais afectadas pela crise, tais como os idosos ou os jovens, as crianças, as mulheres, as minorias, os migrantes, as pessoas em situação de sem-abrigo, o pessoal médico, os trabalhadores e os empregadores.

O CESE lançou o prémio em Julho de 2020 sob o tema “A sociedade civil contra a covid-19”, anunciando que seria um prémio excepcional de edição única, em substituição do habitual Prémio CESE para a Sociedade Civil. Segundo o Comité, o objectivo era homenagear a sociedade civil europeia, que se empenhou activa e altruistamente em actos de solidariedade desde os primeiros dias da pandemia.

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