O primeiro dia de aulas online foi “calmo”, mas “os professores ainda não estão preparados”

Com mais ou menos dificuldade, os alunos voltaram às aulas online esta segunda-feira. Reafirmam o mesmo desejo: voltar às aulas presenciais assim que for possível e seguro.

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Esta segunda-feira, dia 8, os alunos de todo o país do ensino regular voltaram às aulas online, depois de duas semanas de interrupção escolar. LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Os alunos do ensino regular voltaram às aulas online esta segunda-feira, depois de duas semanas de interrupção escolar. No início das férias o PÚBLICO conversou com vários alunos, de norte a sul do país, e conferiu que a maioria concordava que as aulas à distância prejudicam a aprendizagem. Neste primeiro dia de aulas, o PÚBLICO voltou a falar com alguns deles para perceber como está a ser aprender, novamente, em regime online.

Lúcia Jacinto, de 12 anos, conta que este primeiro dia foi calmo. “Hoje, os professores estiveram a explicar como iam decorrer as aulas. Na maioria delas vamos ter de estar com o microfone desligado, mas como a câmara ligada e vamos ser avaliados de duas formas: ou com testes na escola virtual ou através das respostas que vamos dando nas aulas”, disse. Para esta aluna do 7.º ano na Escola D. João II nas Caldas da Rainha estudar à distância já é normal, mas este ano há uma novidade: as aulas síncronas e as aulas assíncronas – nas aulas síncronas os alunos estão a ouvir a explicação do professor, já nas aulas assíncronas os alunos estão a realizar actividades, de forma autónoma, enviadas pelos docentes.

“É um pouco complicado concentrarmo-nos quando estamos sozinhos, porque se precisarmos de esclarecer uma dúvida temos de perguntar ou aos nossos colegas ou mandar um email aos professores e esperar que eles respondam”, conta Lúcia. Francisco Júnior, que frequenta a Escola Bordalo Pinheiro nas Caldas da Rainha, concorda com Lúcia, mas refere uma agravante: a vergonha de participar. “O primeiro dia correu bem, mas como nunca conhecei muito bem os meus colegas sem máscara e como os professores não nos obrigam a ligar a câmara e os microfones, ficamos com alguma vergonha de participar e perguntar coisas”.

Tal como no primeiro confinamento, os problemas técnicos e informáticos mantêm-se. João Ferreira, de 12 anos, explica que neste primeiro dia teve uns problemas com o computador. “Como não consegui assistir às aulas pelo meu computador tive de aprender pelo telemóvel”, o que não facilitou. “Hoje também tive um colega que simplesmente não apareceu na aula. Não sabemos bem porquê, mas achamos que ele não deve ter internet suficiente para estar presente”, conta.

As mudanças de horário também são um factor que pesa para uma boa aprendizagem. Beatriz Afonso, que está no 12.º ano na Escola Secundária Amato Lusitano em Castelo Branco, confessa que tem demasiado tempo disponível e que não consegue aproveitar o tempo que tem por não se conseguir concentrar. “As aulas passaram para 40 minutos [no último confinamento eram apenas de 30] mas estamos 20 minutos à espera que todos entrem e isso atrasa a aula”. “Tenho muito tempo livre, até porque há dias em que tenho aulas só de tarde ou só de manhã e o resto do tempo em que era para estudar, não me consigo concentrar”, reforça.

No entanto, na mesma escola, Margarida Monteiro, que frequenta o 11.º ano no curso de Economia, enfrenta o problema oposto de Beatriz e relata que tem pouco tempo livre. “Nós continuamos com o mesmo horário do ensino presencial, mas é muito cansativo porque, por exemplo, à segunda-feira tenho aulas das 8h45 às 18h30 e estou o dia todo no computador com uma hora de almoço de 45 minutos”, conta. Para a estudante, desde o primeiro confinamento, não se aprendeu muito. “Muitos dos problemas continuam, e para mim, a adaptação não custou, mas os nossos professores ainda não estão habilitados a este regime”. Margarida deixa ainda uma sugestão que poderia ter sido feita. “Eu acho que este período de interrupção, apesar de os professores também precisarem de descansar e de preparar as aulas, eles podiam ter tido formação com outros professores de informática, que existem em todas as escolas, e assim estarem mais preparados para as aulas online”.

Numa perspectiva mais optimista, Bárbara Robalo, da Escola José Silvestre em Idanha-a-Nova, conta que as aulas estão mais bem organizadas. “Neste confinamento as aulas estão melhores. Apesar de os professores estarem mais exigentes, estão mais adaptados e já sabem as melhores estratégias de ensino”, conta. “Por exemplo, numa das nossas avaliações, o professor manda um exercício e nós resolvemos, mas com a câmara apontada para o que estamos a fazer e não para as nossas caras. Depois enviamos o trabalho para o professor, ele corrige, e envia outro”.

Apesar das várias experiências, positivas ou negativas, do ensino à distância, os alunos desejam o mesmo: voltar às aulas presenciais assim que for possível e seguro.

Texto editado por Pedro Esteves

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